Longe da perfeição

Augusto Fidelis

Quanto mais inventam coisas para melhorar a vida, mais problemas surgem para atrapalhar. Meu amigo Ronan trabalhou anos e anos com máquina de escrever. Jogou-a no lixo tão logo adquiriu um computador. Os anos caminharam e, de repente, Ronan começou a ficar assim meio caolho, vista embaçada, letras cada vez menores, enfim, algo estava errado, mas não sabia do que se tratava. Pesquisa daqui, dali e dacolá, encontrou a resposta: uso excessivo de computador.

Tão logo eu soube do ocorrido, comecei a me preocupar, porque sou vítima em potencial. Coincidentemente, nesse mesmo período, encontrei em jornais matérias a respeito do assunto, como a resposta dada a um consulente pelo doutor Roberto Teixeira, oftalmologista do Hospital São Geraldo da UFMG. Dentre outras coisas, diz ele: “O uso excessivo do computador pode cansar os olhos, causando coceiras, vermelhidão, irritação e dor de cabeça. Essa condição é chamada de Síndrome Visual de Computador”. Em seguida, ele fala dos exames necessários para detectar o problema, aconselha que o local de trabalho ou estudo seja bem ventilado, com boa umidade, e fazer pausas durante o uso do computador, para descansar a visão.

Veja bem: o computador, apresentado como solução para todos os problemas, no trabalho e em casa, é uma fonte de doenças, pelo menos para quem acha que não existe outra coisa no mundo a não ser essa máquina. De acordo com o jornalista Antônio Marinho, de O Globo, pesquisas revelam que o número de casos de miopia aumentou em todo o mundo. Um dos principais fatores de risco hoje é o hábito de passar horas diante do computador ou jogando games em frente à TV. Isso para não falar do celular, epidemia das bravas.

A miopia já alcança proporções epidêmicas em países como o Japão, com 70% de míopes, e a China, onde a incidência é de 60%. No Brasil, calcula-se que a dificuldade para enxergar de longe atinja 30% da população. Num estudo com 360 crianças, coordenado pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, em Campinas, foi constatado que a miopia transitória pode se tornar permanente se a criança não for orientada a descansar a visão após cada hora em frente ao computador.

Segundo Leôncio Queiroz, é comum crianças sem qualquer alteração de grau se queixarem de dor de cabeça, cansaço ocular e dificuldade de focar à distância. São sinais do extenuante exercício da visão de perto. Em muitos casos o exame não encontra variações refrativas. A ideia de ampla capacidade de acomodação na infância faz com que esta questão muitas vezes seja negligenciada. Sinceramente, não há coisa boa que não tenha algum defeito.

[email protected]

Comentários