Lohanna deve protocolar denúncia contra Eduardo Azevedo nos próximos dias

Documento vai chegar à Comissão de Ética da Câmara; vereadores mais votados desta legislatura protagonizaram críticas e discussões

Bruno Bueno

O clima amistoso entre alguns vereadores da Câmara de Divinópolis parece ter acabado. Pelo menos é o que indicam os diversos conflitos de interesses dos parlamentares Eduardo Azevedo (PSC) e Lohanna França (CDN), que chegaram ao limite nas últimas semanas. Declarações fervorosas de ambos lados, discussões, acusações e pronunciamentos marcaram as rotinas das duas pessoas mais votadas da atual legislatura. 

A situação, que teve início com um posicionamento diferente dos vereadores em relação a um projeto, deve ter novos desdobramentos nas próximas semanas. Segundo informações obtidas com exclusividade pelo Agora, a vereadora Lohanna França entrará, nos próximos dias, com uma denúncia na Comissão de Ética da Câmara Municipal em desfavor do parlamentar Eduardo Azevedo. 

Lohanna França alega que o edil participa de campanhas mentirosas contra ela e divulga aos seguidores que a vereadora é comunista e uma ameaça à família.

Entenda a briga

A confusão começou no último dia 12 de agosto, quando um projeto de autoria de Eduardo, que dispõe sobre a obrigatoriedade de os conselhos tutelares ligarem para as famílias quando crianças faltarem três dias na escola, sofreu pedido de vista por parte do parlamentar Ademir Silva (MDB). Lohanna pediu a palavra e apresentou outros problemas no projeto.

Após o término da reunião, Eduardo publicou um vídeo nas redes sociais criticando a postura da vereadora. O parlamentar afirmou que Lohanna “não tem peito” para votar contra seus projetos e que busca articular maneiras de fazer com que eles não sejam aprovados.

— Mais uma vez, a vereadora comunista de iPhone, Lohanna França, ataca na Câmara. Ela se diz professora, mas, quando vem um projeto para defender os alunos, ela diz que tem dúvida e pede vista. Essa mesma vereadora está articulando para derrubar o projeto contra a linguagem neutra. Ela não tem peito de votar contra no plenário e busca nas comissões barrar meus projetos. Ela é ideológica — disse em vídeo.

Um dia depois, o vereador publicou outro vídeo criticando as condutas de Lohanna França. O parlamentar colocou um pequeno trecho do pronunciamento da vereadora, no qual ela afirma que “as mulheres são escravas do bendito do cuidar”. O restante da frase, bem como o contexto dela, não foram colocados pelo edil, que voltou a criticar a vereadora.

— Ela acha o fato de cuidar, que é um dom que Deus nos dá, pesado. Nós queremos cuidar e proteger as crianças. Ela foi contra o nosso projeto que proíbe a sexualização das crianças, está articulando contra o projeto de proibição da linguagem neutra, que é um braço da ideologia de gênero e agora foi contra o projeto feito para proteger a integridade física das crianças — relatou.

Resposta

No dia 14, a vereadora se pronunciou nas redes sociais criticando a postura do vereador. 

— Mais um dia em que um vereador da cidade posta vídeo falando sobre mim. Tanta obsessão merece uma sessão de terapia. A ausência de trabalho fala por si só. Sigo trabalhando de verdade pelas famílias, pelas crianças e por todos nós. Enquanto isso, segue a Hollywood municipal — disse.

Ela prosseguiu com seus apontamentos.

— Deve ser ótimo combater marxismo cultural, ideologia de gênero, kit gay, comunismo e as “feminazis”. Duro mesmo é combater a miséria e a fome, o trabalhoinfantil, o Ideb em queda, o desemprego, o machismo e gente que homenageia torturador da ditadura — informou.

Denúncia

À reportagem, Lohanna confirmou que vai enviar uma denúncia para a Comissão de Ética em desfavor de Azevedo. Ela também esclareceu os motivos que a levaram a essa decisão.

— O vereador participa de todas as campanhas mentirosas que me envolvem. A última foi lançada por ele. Mentindo, o vereador publicou um vídeo dizendo que eu pedi vistas sobre um projeto de lei dele. Ora, quem pediu vistas foi o vereador Ademir e ele sabe bem disso. Porém, em sua campanha odiosa, ele escolhe mentir. Além disso, o vereador me chama de comunista e diz que sou uma ameaça à família — disse.

Ela também cobrou atitude da Comissão de Ética da Câmara, composta pelos vereadores Edsom Sousa (CDN), Israel da Farmácia (PDT) e Rodyson do Zé Milton (PV) com o andamento da situação.

— Eu reagi com tranquilidade, mas tive firmeza na decisão de levar o caso ao conhecimento da Comissão de Ética da Câmara. Espero que Edsom, Israel e Rodyson não esqueçam que quando uma vereadora é atacada com mentiras, todo o poder legislativo é atacado — ressaltou.

Conflito

Lohanna enfatizou que não tem problemas pessoais com o vereador e que, na sua opinião, ele busca o conflito.

— Na verdade, o vereador é quem se posiciona contra mim. Basta olhar as redes dele e ver a quantidade de posts a meu respeito. Nas minhas redes, pelo contrário, vê-se meu trabalho de fiscalização e legislação. O que tenho em relação ao vereador são discordâncias técnicas normais, mas infelizmente ele se posiciona de forma monárquica e não aceita ser questionado — enfatizou.

A vereadora finalizou dizendo que vai em busca de justiça e verdade na Comissão de Ética. 

— Não há intriga pessoal de minha parte. Há discordância, questões de redação dos projetos e questionamento técnico. Quem personaliza a situação e leva a conversa para outro patamar, infelizmente, é o vereador. Sinto tristeza porque a discordância e o debate fazem parte do Legislativo, e entendo que quem não entende isso precisa corrigir a rota com urgência. Por isso vamos entrar na Comissão de Ética. Vou em busca de justiça e da verdade — alegou.

Eduardo Azevedo

A reportagem procurou o vereador Eduardo Azevedo (PSC) para saber a opinião do edil acerca dos posicionamentos de Lohanna França (CDN). O parlamentar concordou prontamente em conversar com o Agora, mas, por discordância de horários, principalmente pela Reunião Extraordinária, não conseguiu emitir seu pronunciamento.

Assim que o vereador for ouvido, a reportagem vai trazer a versão completa do parlamentar na íntegra.

Punições

Mesmo sem o início da investigação, as punições, caso o vereador seja considerado culpado, já estão previstas no regimento interno da Câmara. O edil pode receber advertência e ter a suspensão ou cassação do mandato.

O Agora tentou conversar com o vereador Edsom Sousa (CDN), presidente da Comissão de Ética da Câmara, para saber o posicionamento do edil diante da situação. Devido à Reunião Extraordinária, O parlamentar não esteve disponível para responder aos questionamentos da reportagem.



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