Lideranças prometem mais cobrança sobre hospitais

Representantes da Saúde em Divinópolis discutiram algumas das mudanças que têm sido implementadas na cidade

Matheus Augusto

Uma decisão do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), divulgada no último dia 25, determinou a elaboração, dentro dos próximos 120 dias, de um plano de reorganização da expansão da assistência hospitalar da Macrorregião Sanitária Oeste, que tem, entre seus 53 municípios, Divinópolis como cidade polo. Representantes da Saúde se reuniram na segunda-feira, 2, em entrevista coletiva, para detalhar as ações já em curso e as necessidades a serem contempladas no documento.

Participaram do encontro o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, o superintendente Regional de Saúde, Alan Rodrigo da Silva, e o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Ampliada Oeste para Gerenciamento dos Serviços de Urgência e Emergência (CIS-URG), José Márcio Zanardi.

UPA

Há dois principais resultados obtidos na Saúde, de acordo com os presentes. O primeiro diz respeito à integração do sistema de informações, como o de leitos disponíveis. O segundo, após quase três meses sob nova gestão, tem sido a queda no período de permanência dos pacientes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Para o secretário de Saúde, as mudanças possibilitaram que a UPA deixasse de servir como um “pequeno hospital” e cumprisse com sua função emergencial.

Nós trabalhamos com três tipos de regulação: das eletivas, que fica a cargo do Município; de urgência, que é o SUS [Sistema Único de Saúde] Fácil; e estadual, que são os leitos hospitalares. Como as três passaram a trabalhar juntas, nós conseguimos fazer com que a média de permanência dos pacientes que esperavam a atenção hospital dentro da UPA caísse de sete para dois dias. E isso melhorou muito o fluxo. Os corredores estão efetivamente vazios. (...) a gente saiu de 60 pacientes internados para uma média de 20. É uma política pública que realmente surtiu efeito. Não podemos deixar que isso se perca. É uma iniciativa que deu certo e nós temos que fortalecê-la — declarou Amarildo.

Já segundo o secretário executivo do CIS-URG, entidade responsável pela administração do Serviço Móvel de Urgência e Emergência (Samu), os hospitais com estrutura para atender os pacientes de urgência após os primeiros cuidados na UPA não eram ocupados, antes da readequação.

As UPA’s elas são chamadas de 24h não porque elas funcionam 24h, mas porque o paciente deve estar lá somente por 24h. Ele deve seguir seu tratamento não dentro da UPA. As UPA’s, os pronto atendimentos da nossa região se tornaram pequenos hospitais sem os recursos necessários para o atendimento. E hospitais com condições de dar internação e tratamento, vazios — argumentou.

Oncologia

Outra mudança citada foi a comunicação direta entre municípios e Divinópolis para o atendimento oncológico. Segundo o representante estadual, há dias se instalou uma comissão de oncologia para, basicamente, regular o fluxo de pacientes. Anteriormente, as cidades precisavam comunicar com a sede da microrregião, que fazia o contato com Divinópolis para marcar a consulta. Uma das ações da comissão foi de extinguir essa mediação.

Parece simples a estratégia, mas a gente reduz em, aproximadamente, 15 dias o tempo de agendamento desse pacientes; o que é um ganho, pois, quando mais cedo descobre, mais chance esse paciente tem de cura — contou.

Judicialização

Dentre as melhorias nos índices de Saúde na região, o superintendente regional de Saúde citou a queda nos números de processos judiciais movidos por pacientes que precisam de leitos.

A rede SUS não consegue absorver a demanda e acaba, por determinação judicial, tendo que comprar os leitos de hospitais particulares — explicou Alan Rodrigo.

Segundo ele, em 2016, 130 leitos foram comprados diante dessa necessidade; em 2017, 127; no ano passado, 62; e, neste ano, 40.

Adequações

Uma das mudanças a serem feitas, segundo o superintendente, é, através de um levantamento, conhecer todos os hospitais da região, seus recursos tecnológicos e humanos. De acordo com ele, a prioridade, no momento, não é, necessariamente, aumentar o número de leitos, mas diminuir o tempo de internação dos pacientes, para que novas pessoas possam receber o atendimento.

Precisamos organizar essa rede como um todo para que tenhamos hospitais com maior nível de resposta, e que a gente consiga concentrar investimentos nesses hospitais para que eles sejam, de fato, sustentáveis e viáveis, inclusive com aperfeiçoamento tecnológico e tempo de resposta suficiente para que a gente não precise aumentar o número de leitos, mas, sim, o aumento de resolubilidade. E isso seria através de uma maior agregação de tecnologia, tempo menor de internação, resposta imediato ao paciente. Isso diminui o tempo de internação e acaba gerando mais vagas — detalhou Alan.

Ainda de acordo ele, uma das mudanças é a necessidade de reavaliar as atividades exercidas pelos hospitais considerados de pequeno porte, visto que algum deles, pela falta de aparato tecnológico e corpo de especialistas, atuam quase como unidades básicas de saúde, os tornando inviáveis.

Esses hospitais de pequeno porte, que o Ministério Público considera com baixa resolubilidade, não têm como se elevarem ao nível de concentração tecnológica que os polos têm. Eles precisam ser vocacionados para uma estratégia de retaguarda para esses polos, seria o que nós chamamos de cuidado prolongado, que é o paciente que recebeu um atendimento, mas precisa de uma fisioterapia, ser reconduzido para um processo de reabilitação prolongado — contou.

Plano

Amarildo classificou as mudanças a serem apresentadas no plano como uma ação pioneira, na qual os municípios poderão apresentar suas principais carências aos governos estadual e federal.

Eu nunca vi uma ação em nenhuma região de Minas Gerais ou do Brasil de construir uma política regional verdadeiramente ascendente. Os próprios municípios vão dizer para o Estado e para a União onde eles querem e precisam que o recurso da atenção hospitalar seja gasto, como ele vai ser aplicado e para qual finalidade — pontuou.

Ainda de acordo com o secretário, é fundamental estabelecer objetivos mensuráveis, para que a gestão do recurso possa ser avaliada.

Um plano organizado com metas claras que possam ser medidas e cobradas, e a partir daí a gente reorganizar esse recurso que muitas vezes se perde na burocracia ou na própria dinâmica que tem sido feita até hoje. É uma excelente oportunidade — assegurou o secretário.

O líder da pasta ainda explicou que essa é uma oportunidade de a macrorregião Oeste ter um melhor panorama da situação.

A região tinha uma atenção hospital totalmente desorganizada do ponto de vista de gestão. Não se conhecia todos os leitos, não se conhecia todos os prestadores. O que trouxe essa organização foi mesmo o olhar do CIS-URG, do Samu, e a leitura da SES. Eu acho que essas contas têm que ser refeitas [de leitos disponíveis na região], porque existiam muitos hospitais credenciados na rede que não davam resposta. (...) A gente precisa de um tempo para refazer esses cálculos, porque a gente tinha um olhar totalmente desorganizado desse parque hospitalar — criticou Amarildo.

O representante da Superintendência Regional de Saúde (SRS) também confirmou que alguns hospitais com leitos disponíveis priorizavam pacientes particulares. Com as mudanças, o leito passará a ser da “rede SUS”.

(...) existia uma própria desorganização no ponto de vista da regulação que não conseguia assistência aqui dentro da macro, e o paciente acabava tendo que ir para outra região de Saúde, muitas vezes andando até 800 km para conseguir esse leito. (...) E nós tínhamos realmente alguns prestadores com grande potencial, e que, de fato, não tinham uma gestão profissional focada em eficiência e compromisso assistencial com o SUS — concluiu.

Sobre a ação do MP, que classifica a Macrorregião como a pior no estado na solução dos problemas da Saúde, Alan Rodrigo reforçou a intenção de continuar intensificando a cobrança com os prestadores de serviços na área para o cumprimento dos contratos em sua totalidade.

A fiscalização ocorre de janeiro para cá de maneira mais intensa. Uma premissa simples que o governo tem utilizado na gestão é o aumento da eficiência. E eficiência é um conceito simples: é fazer mais com o que a gente já tem. Então, inicialmente, seria realmente nós fazermos um levantamento desses contratos com os prestadores, verificar a capacidade instalada deles, e, mediante a capacidade instalada, comparando com o que há contratualizado, exigir que ele cumpra realmente com o que está no acordo — detalhou o superintendente regional.

Alan Rodrigo disse também que o novo governo do Estado encontrou um cenário delicado.

Quando esse novo governo assumiu em janeiro, nós pegamos uma situação caótica no Estado, tanto na condição fiscal quanto sanitária. A gente tem trabalhado intensivamente buscando regularizar a situação dos repasses financeiros e, o mais importante, temos trabalhado intensamente para reorganizar essa rede, buscando a melhoria da eficiência. É uma região, sim, que tinha uma resolubilidade, ao ranquear não sei se seria a pior, mas, de fato, ela se norteava neste nível com baixa resolubilidade. Mas tem apresentado números melhores — declarou Alan.

Futuro

Segundo o superintendente da SRS, no momento, não há nenhuma previsão de aumento de repasses, pois, até agora, não há indicativos que comprovem a falta de recursos.

Para a gente falar que o dinheiro não é suficiente há de se provar para nós o custo efetivo, apresentar uma planilha de custo que, de fato, esse custo supera os investimentos alocados — explicou.

Alan ainda citou que cerca R$ 13 milhões estão fora do território da macro, mas que poderiam ser alocados na região, caso a cidade e seus prestadores de serviços possuíssem o quadro ideal de especialistas e um parque tecnológico avançado.


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