Liberou os jetons

Editorial

Depois de uma longa queda de braço com os deputados estaduais, o governador do Estado, Romeu Zema (Novo), enfim conseguiu o queria: os jetons para seu secretariado. Os jetons são pagos pela participação em conselhos que podem aumentar os salários dos secretários de R$ 10 mil para R$ 35,4 mil. E quem se lembra de ouvir Zema criticar duramente ex-governador Fernando Pimentel (PT), durante sua campanha, pelo pagamento dos jetons? Parece que o jogo virou, não? Parece que quem tacou pedra, hoje virou vidraça. Mas, engana-se quem pensa que a votação não teve muito drama, e que as críticas feitas pelo governador ainda durante o período eleitoral não foram jogadas em sua cara. O líder da minoria, o deputado Ulysses Gomes (PT), passou diversas vezes o áudio em que Zema disse, durante as eleições do ano passado, “a prática do governo é outra, é a política dos puxadinhos e das indicações políticas”.

Parece que a mamata não acabou e que os puxadinhos e as indicações políticas continuam. Mas é aquilo: uma coisa é raposa tentando seduzir o galinheiro, outra é quando ela consegue entrar lá. Entra ano, sai ano, e a política é mesma. Prometem mudar, prometem acabar com a mamata, com a corrupção, mas isso é só até assumirem o poder. Quando assumem, a coisa é outra, a conversa muda. A coerência manda abraços. Uma fala que chamou bastante atenção foi a do deputado Bruno Engler (PSL). O parlamentar votou contra a liberação dos jetons, e disse que assim votaria, pois iria ao encontro do que o partido Novo prega: que é contra privilégios. Sim! A postura do deputado foi coerente. Afinal, não posso tacar pedra na vidraça dos outros quando a minha é de vidro. E por mais que Zema tenha admitido que errou durante a campanha, ao criticar Pimentel pelo pagamento dos jetons, o mínimo que ele deveria manter era sua a postura de ser contra privilégios.

Estamos no Brasil. O país da hipocrisia, onde o mesmo povo que é contra a corrupção fura fila e tenta dar um jeitinho aqui e outro ali. Afinal, a corrupção só acontece em Brasília, no Estado e nas Prefeituras. A corrupção só existe nos poderes públicos, então vamos dar um jeitinho, porque se eles podem, nós também podemos. Mas, voltando ao assunto, o mais importante aconteceu: o pagamento dos jetons foi liberado, e Romeu Zema provou, por A + B, que político é tudo igual. Podem mudar o nome do partido, podem prometer mudanças, podem prometer renovação, mas o sistema é o mesmo. Prometem uma política nova, quando a “velha” está enraizada até o último fio de cabelo do brasileiro. Além disso tudo, Zema provou que a promessa de “não se vender para o Poder Legislativo” foi por água abaixo. Até que uma reforma Política, uma reforma no sistema político do Brasil seja feita, Executivo tem de pedir “bênção” para o Legislativo, sim. O sistema político brasileiro não permite ser de outra forma.

O importante é que, ao pagar os jetons, Zema comete os mesmos atos que Pimentel, e nos prova que somos apenas marionetes nesse meio chamado política. Somos apenas os degraus que eles precisam para subir e chegarem ao poder. Que siga o jogo.

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