Lama ecoa em Aparecida

Raimundo Bechelaine

Dizem que o socialismo, onde é aplicado, é fracasso total. Citam Cuba como exemplo e até a Venezuela, que nem chegou a ser socialista.

Por outro lado, o capitalismo seria um sucesso só. Ele é capaz de tornar felizes as pessoas. De fato. Não falemos dos nossos 13 milhões de desempregados, da insegurança geral, dos milhões de moradores de rua a revirar latas de lixo aqui ou em Boston e Nova Iorque, das favelas em todas as grandes cidades, das migrações em hordas desesperadas, da globalização das drogas e da criminalidade organizada e espontânea, da destruição do meio ambiente, do aquecimento global, das doenças endêmicas e coisas mais. Pois são apenas detalhes em meio a um rotundo sucesso.

 Mais um detalhezinho de nada ocorre agora. Pela sua própria natureza, tinha que ser neste glorioso estado brasileiro, onde as minas gerais se abriram e se expandem. Após os detalhezinhos dos rompimentos das barragens de rejeitos minerais em Mariana e Brumadinho, com centenas de mortes, a vez é Barão de Cocais. A cidade e o estado estão nas páginas dos jornais impressos e televisivos de todo o mundo. “Of all the world!” – glória suprema conferida por uma megaempresa do bem sucedido e vitorioso sistema econômico, cultural e político denominado capitalismo!

O hino oficial do Congresso Eucarístico de Belo Horizonte convidava o Cristo: “Tu, que és Rei e que aos povos dominas, firma aqui teu trono, Jesus; e do altar das montanhas de Minas o Brasil para a glória conduz!”. Por razões óbvias, será bom retirar o convite ao Rei. Trono e altar correriam riscos sérios de serem arrastados pela torrente dos rejeitos e da corrupção da “bancada da lama”. Nem sequer a Serra da Piedade, onde está o trono da Padroeira de Minas, está mais em segurança.  

Sábado passado, algumas centenas de diocesanos, sob a presidência do bispo Dom José Carlos e de dezenas de padres, celebraram missa festiva e solene, em Aparecida do Norte de São Paulo, pelos sessenta anos da Diocese de Divinópolis. Na homilia, Dom José retomou o que já dissera na quinta-feira santa. Os nomes de todos os 25 municípios que compõem a Diocese ressoaram nas abóbadas da Basílica Nacional e no país inteiro, através da TV Aparecida. Ressoou também o abrangente quadro histórico e sociológico no qual Dom José retratou a Diocese. Pastor atento à realidade vivida pelas ovelhas, ele registrou que a atividade mineradora se faz presente na Diocese, em vários municípios, citados um a um. Ao fazer isto, fez também ecoar mais uma vez a situação de violência, angústia e morte nas terras mineiras. [email protected]

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