Justiça humana

Prof. Antônio de Oliveira
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Quem tem poder em geral acha que tem direito a privilégios e imunidades.
Quem tem poder em geral a ele se apega por qualquer meio lícito ou ilícito.
Quem tem poder em geral é adepto da omissão, da conivência, do corporativismo.
Quem tem poder em geral se deixa picar pela mosca azul.
Quem tem poder em geral se considera dono da verdade.
Quem tem poder em geral se acha Manda-Chuva.
Quem tem poder em geral pensa que basta um agradozinho de vez em quando.
Quem tem poder em geral usa a mídia para valorizar futebol e novela, pão e circo.
Quem tem poder em geral usa de justiça unicamente para os fracos.
Quem tem poder em geral prefere ações paliativas a ensinar a pescar.
Quem tem poder político em geral está se lixando para o povo.

Do Malawi, na África, um poeta anônimo descreve a duríssima realidade da pobreza. Acrescente-se: da miséria, dos imigrantes, das vítimas de guerras e de autoridades despóticas. A sensação que fica da leitura do poema pode ser de perplexidade, impotência, desânimo, desesperança, sentimento de culpa, querer sem poder. “É o não querer mais que bem querer” (Camões). Mais de revolta que de ação, mais de sensibilização que de decisão. Ou de insensibilidade? “Onde se pensa haver carne e sangue há raiz e pedra” (Mia Couto). Pelo menos nas pessoas ainda de coração de carne, e não de pedra, os versos a seguir podem ecoar em benefício de quem precisa.

“Eu tinha fome e vocês fundaram um clube humanitário
para discutir a minha fome.
Agradeço-lhes.
Eu estava na prisão
e vocês foram à igreja
rezar pela minha libertação.
Agradeço-lhes.
Eu estava nu
e vocês examinaram seriamente
as consequências morais de minha nudez.
Agradeço-lhes.
Eu estava doente
e vocês se ajoelharam
e agradeceram a Deus o dom da saúde.
Agradeço-lhes.
Eu não tinha casa
e vocês pregaram sobre o amor de Deus.
Vocês pareciam tão piedosos,
tão perto de Deus!
Mas eu continuo com fome,
continuo só, nu, doente,
prisioneiro;
e tenho frio;
sem casa.”

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