José do Patrocínio

José Carlos do Patrocínio (9/10/1853 - Campos dos Goytacazes 29/01/1905 - Rio de Janeiro) foi um dos maiores oradores brasileiros do século XIX e, por sua árdua atuação no movimento abolicionista, foi cognominado "O TIGRE DA ABOLIÇÃO". Sua eloquência emocionava as multidões e deixava atônitos seus adversários... Filho do padre João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes, com a escrava alforriada Justina do Espírito Santo. Era, portanto, mulato sem mesclas e, ainda cedo, teve que conviver com a crudelíssima discriminação. A maior autoridade eclesiástica da teologia católica portuguesa era o famoso padre Antônio Vieira (1608-1697) e ele havia ensinado: "...Os pretos eram os mais gloriosos devotos de Maria no mundo e, portanto, deveriam agradecer a Deus por terem sido retirados da áfrica, sob a maldição de Cão, filho de Noé e vindo para o Brasil na condição de cativos. Somente assim se cumpriria o destino deles como legítimos devotos a N. Sra. do Rosário e dignos da salvação eterna, sofrendo como Cristo, as dores do cativeiro” (Emiliano José: "Antônio Vieira e o doce inferno dos negros"). A escravidão era, portanto, provada e louvada pela igreja, impregnando na sociedade escravocrata um forte desejo de sua continuidade... E de seus lucros...

Patrocínio teve a oportunidade de se formar no curso superior de farmácia e, portanto, pertencia à elite intelectual da época, tendo, inclusive intensa atuação no campo jornalístico.

Pode se tornar equilibrado financeiramente, sendo dono de um jornal e convivendo com os principais vultos da literatura como Olavo Bilac e outros. Gozava de prestígio junto à princesa regente Isabel, que havia sido fortemente influenciada por seu pai d. Pedro II, que, em viagens pela Europa, tomara conhecimento dos sermões da reforma protestante que incendiava a Europa na época (a reforma pregava fortemente contra o sistema escravista, dizendo que "todos são iguais perante Deus e a salvação é de graça"). Assim sendo, Patrocínio era simpático ao poder do trono imperial na pessoa da referida princesa.

A Lei Áurea foi assinada por Isabel em 13 de maio de 1888. Cumpria-se a profecia do poeta Castro Alves: "São livres os escravos, permitam-me entoar a lira!" - Espumas flutuantes. E também em outro poema, ele disse, tomado pela ira divina: "Eu queria ter um raio em cada verso, para escrever na fronte dos perversos: Maldição sobre vós!”. Logo no ano seguinte, em 1889, se iniciou uma grande luta política contra a monarquia que culminou com a proclamação da República.

José do Patrocínio era fidelíssimo e altamente agradecido à princesa Isabel pelo fim do cativeiro. Logo se iniciou outra árdua luta sua, desta vez em defesa do sistema imperial. Como Deodoro da Fonseca estava velho e doente, logo assumiu a presidência o “marechal de ferro” Floriano Peixoto que era impiedoso quanto aos inimigos políticos. Estava instalada a chamada "República da Espada". Assim, iniciava o declínio do sol da gigantesca figura de José do Patrocínio. Preso e exilado, perdeu suas posses e também a saúde e vários amigos do grupo político. Não lhe restava mais nada, senão a morte, deixando uma herança de luta por um ideal sublime. Os historiadores registraram que, em seu velório, aquele que havia sido seu grande adversário no campo político, Rui Barbosa, esquecendo o passado, disse a Coelho Neto: "Como está frio esse vulcão”! Sabemos que, hoje, existem outros cativeiros no Brasil à espera de outros Patrocínios e outras princesas... A abolição trouxe as favelas com suas todas suas mazelas pela sobrevivência. Aqueles negros que conseguem se erguer, econômica e socialmente, enfrentam o olhar frio dos escravocratas da modernidade. Impedidos pelas leis contra a discriminação e racismo, criam outras formas de tortura, como a inveja, calúnia, tráfico de influência e outras armas que o inferno possa oferecer. Convido os homens e mulheres de bem para entrarem nas fileiras da indignação contra essa injustiça. A nobreza de um homem está em seu caráter, e não na cor de sua pele. Viva José do Patrocínio, o Tigre da Abolição!

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