Inimigos do presidente

Augusto Fidelis

Segundo Oscar Wilde, pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal. O presidente Jair Bolsonaro, que tem usado excessivamente da franqueza, só arranja confusão. Bolsonaro não perdeu os bons modos depois de se eleger presidente. Ele nasceu assim, vive assim e vai morrer assim. Os 56 milhões de eleitores que o elegeram sabiam que ele é assim. Não mede as palavras, fala com o coração e não tem receio de demonstrar em público sua visão de vida e seus sentimentos. É Oscar Wilde quem ainda adverte: “Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo”.

O presidente comete outro erro fatal quando, ao sair da residência oficial para o Palácio do Planalto, concede entrevistas diárias aos jornalistas ali postados justamente para pegá-lo. Sem um script, sem o auxílio de assessores, dá má resposta às perguntas indiscretas, briga com seus interlocutores, apresenta assuntos apenas pensados e não concretizados, que causam especulações e desgastes que poderiam ser evitados.

Há poucos dias, o ministro Celso de Melo, militante político, descobriu que, justamente por causa disso, Bolsonaro não tem qualificação para ser o presidente da República. Aliás, nunca antes na história deste país um presidente teve tantos inimigos como Bolsonaro, e estes pululam dentro de todas as instituições e partidos políticos, inclusive na própria equipe de governo. Bolsonaro é teimoso. Foi aconselhado a não nomear Luiz Henrique Mandetta como ministro da Saúde. Teimou e todos já sabem no que deu. Mas, para Oscar Wilde, a melhor maneira de começar uma boa amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela também.

Bolsonaro devia ter deixado Sérgio Moro lá em Curitiba, onde fazia um trabalho impecável como juiz. Destemido, enfrentou os poderosos e colocou na cadeia um ex-presidente, coisa que ninguém acreditava. Mas não deixou e o levou para Brasília como seu ministro da Justiça. Juízes federais existem às pencas, mas ministro da Justiça é um apenas, com a possibilidade de ser coroado como ministro do Supremo. Festejado e idolatrado em prosa e versos, talvez não tenha percebido o quanto seu ego cresceu, a ponto de confrontar quem o nomeou para o cargo. Agora, nem uma coisa nem outra. Quero dizer: é o mais novo inimigo do presidente e não teve escrúpulos de se juntar imediatamente à alcateia, para estraçalhar a vítima. Os carcarás querem derrubar Bolsonaro de todo jeito, mas tenho dúvida que consigam. Nesse caso, o melhor é Bolsonaro seguir a recomendação de Oscar Wilde: “Não deixe de perdoar seus inimigos – nada os irrita tanto”.

 

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