Impactos do coronavírus na indústria cinematográfica

Maria Tereza de Oliveira 

A 7ª arte sempre foi mais do que entretenimento. Muitas vezes um filme retrata a sociedade, além de servir como documentação dela. O cinema ajuda a desenvolver o senso crítico e aguça a reflexão, mas raramente recebe o devido valor. Em tempos de isolamento, no entanto, a importância do lazer e o poder de distração passaram a ter maior destaque. Isso pode ser observado nas audiências de realitys ou no consumo de séries e filmes.

Mas mesmo o cinéfilo mais pessimista jamais imaginaria que 2020 iria se assemelhar ao cenário de muitos filmes — como "Ensaio sobre a cegueira" ou algum com temática relacionada a apocalipse zumbi. No entanto, cá estamos nós, na metade do ano, ainda nos acostumando com as mudanças provocadas pelo coronavírus que surgiu avassalador e continua em ritmo frenético matando milhares de pessoas diariamente. Enquanto os profissionais da saúde fazem o possível e o impossível com os recursos limitados, a gente precisa fazer nossa parte, nos mantendo em isolamento e, quando necessário, tomando todas as precauções para nos proteger e também ao próximo.

Com isso, a rotina e convívio em sociedade foi drasticamente alterado. Sacrifícios precisaram ser feitos, dentre eles, fechar os cinemas. A indústria cinematográfica é um dos setores mais rentáveis do mundo. Só nos Estados Unidos, país que mais investe no segmento, o faturamento mensal é de aproximadamente US$ 8 bilhões.

Ainda falando da produção estadunidense, antes da quarentena apenas em Nova York,  67 produções, dentre cinema e TV, eram gravadas no Central Park. Hoje, a área, normalmente lotada, está vazia.

Não somente a produção mas também a exibição dos longas nas salas de cinema estão paralisadas. Grandes lançamentos previstos para este ano, como "Mulher Maravilha 1984", que estrearia ontem, "Mulan", "Velozes e Furiosos 9", "Jovens Mutantes" e "Viúva Negra" foram adiados, alguns por tempo indeterminado. A solução para o público saudoso pelas telonas foi recorrer aos serviços de streaming como Netflix, Amazon e Telecine Play. Já a indústria ainda estuda uma forma de não ter prejuízos bilionários.

No Brasil, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) aprovou no último dia 31 de março a criação de uma força tarefa para ajudar a analisar os projetos e orçamentos durante a pandemia da covid-19. Quanto às tradicionais novelas da Globo, desde março as gravações estão paralisadas e o retorno só deve acontecer em 2021. Para manter a grade, a emissora optou por reprises de clássicos.

Drive-in

A solução proposta por alguns entusiastas e já implementada em partes do mundo é a volta do cinema drive-in. Em Dubai, por exemplo, a prática, popular em décadas passadas, voltou no início deste mês. A ideia é que as pessoas assistam os filmes dentro de seus carros com a projeção nas paredes do maior shopping daquele país. Cada veículo poderá contar com até dois ocupantes por sessão. Ao todo, cada exibição contará com até 75 carros.

Apesar de ser uma alternativa para os cinéfilos, a volta do cinema drive-in coloca os holofotes em uma questão antiga relacionada à sétima arte: a acessibilidade. O cinema nos tempos habituais já é considerado um privilégio, pois, além da escassez das salas em cidades brasileiras, o valor do ingresso é elevado. Ao limitar a sessões para as pessoas que possuem carro, apesar de ser mais seguro, o abismo entre as classes mais baixas e a burguesia se torna mais evidente. A cultura no Brasil não é acessível, se você tem acesso, sinta-se privilegiado.

 

Maria Tereza Oliveira

Jornalista, editora-chefe do site cebolaverde.com.br

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