Imoralidade e hipocrisia

 

Editorial

Os divinopolitanos vão ler e tentar entender, hoje, uma notícia que ninguém queria dar, mas é nossa obrigação manter a população informada com a verdade e, principalmente, o que é feito com o seu dinheiro. A Câmara de Divinópolis gastou R$ 237 mil com indenizações de férias-prêmio. Apenas um dos servidores “contemplados” recebeu quase R$ 67 mil referentes ao benefício. Apesar de o ex-presidente do Poder Legislativo, Rodrigo Kaboja (PSD), alegar que o pagamento é legal e que é direito dos servidores da Casa, a conduta é, no mínimo, imoral. Conforme determina a Constituição Federal, a administração pública é baseada em cinco princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 

Em outras palavras, toda administração pública deve respeitar as leis e os interesses coletivos acima dos interesses privados; tratar com igualdade todos os cidadãos, sem favoritismo; preservar a ética e a moral; priorizar a transparência e a prestação de contas em todas as ações que envolvem os recursos públicos; e executar os serviços públicos com qualidade respeitando o bom uso do orçamento público (sem desperdícios). 

Sim! O ato de “comprar” as férias-prêmio dos servidores da Câmara pode estar dentro da legalidade, mas é totalmente imoral. Principalmente pelo fato de, em 2020, o mundo ter travado uma guerra com um inimigo invisível. Guerra esta que custou o “pão de cada dia” de muitos, os empregos de milhares de brasileiros, as vidas de mais de 200 mil pessoas, os relacionamentos de muitos, a saúde mental e por aí vai. A sensação que dá é que, enquanto a população lutava para sobreviver em meio ao caos imposto pela covid-19, os servidores da Câmara de Divinópolis se fartavam com o dinheiro público. Sem sombra de dúvidas, o Poder Legislativo feriu o princípio da moralidade. E o que mais impressiona é que isso aconteceu debaixo do nariz de 16 vereadores, que têm como função fiscalizar. Mas não é apenas fiscalizar o Executivo. Os parlamentares têm como obrigação vigiar os próprios gastos e serem, no mínimo, exemplo para a população, principalmente na hora de fazer cobranças de determinadas posturas dos gestores. 

É no mínimo incoerente que os vereadores assumam a Tribuna Livre e façam seus discursos dignos de Oscar, ou vão para as redes sociais mostrar que estão “fiscalizando”, quando a farra com o dinheiro público acontece dentro de sua “Casa”. É como diz em Mateus 7:3-5 “E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?

Ou como dirás o teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?

Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”. 

Talvez a única palavra que consiga definir tal situação seja hipocrisia. Enquanto o povo divinopolitano lutava para se manter de pé diante de tanta luta e provações, os vereadores sentavam em suas cadeiras e fechavam os olhos para o que acontecia dentro do Legislativo. E o pior: sentavam em suas cadeiras e julgavam, sem dó e sem piedade, e cobravam uma postura que nem eles mesmos tinham. Apenas o teatro imperava (ou ainda importa?). Agora o que fica é a pergunta: adianta ser legal se é imoral? De que adianta seguir o caminho da legalidade, quando se custa a ética e a moralidade? 

 

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