Perigo constante: homens em Divinópolis se envolvem em 130% mais acidentes que as mulheres

Gisele Souto

 “Mulher no volante é perigo constante!” Pelo menos esta é afirmação que muitos homens, por discriminação ou mesmo brincadeira, adoram repetir. No trânsito, desafios como fechadas, buzinadas e, mesmo que mais raras, as discussões fazem parte da rotina, principalmente dos grandes centros, onde se concentra um número de veículos, por muitas vezes, maior que o tolerável. Porém, a realidade registrada em Divinópolis em oito meses mostra que a frase sobre direção é muito injusta com as mulheres.

Na cidade, foram registrados 799 acidentes no período de junho do ano passado a fevereiro deste ano. Do total, 557 envolveram homens e 242 mulheres. Uma diferença de 315. Em termos percentuais, os homens se envolvem em 130% mais ocorrências que as mulheres.

O médico intervencionista do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), Bianco Couto, poderia se usar diversos parâmetros para justificar o envolvimento maior de homens em acidentes e as mulheres em menor proporção. Contudo, segundo ele, o que se constata nos atendimentos do Samu é que a imprudência é a principal causa para o resultado desta estatística.

– Arrisco ainda dizer que os homens são mais “corajosos” na direção e, se arriscam constantemente em direções perigosas. Portanto, ao que parece, eles lidam com esse excesso de confiança no volante e acabam se tornando vítimas. É claro, tudo que disse são percepções que tive de atendimentos desta natureza – relatou o médico.

O delegado de Trânsito em Divinópolis, Marcelo Nunes Júnior, comunga da mesma opinião e atribui boa parte dos acidentes à imprudência.

– O homem se acha melhor, tem excesso de confiança e, principalmente, abusa da velocidade – comenta

Em Divinópolis, segundo dados da Polícia Civil, existem 102.776 mil motoristas habilitados. Os números foram contabilizados até o dia 30 de novembro de 2017. Candidatos aprovados para a primeira habilitação neste ano somam 3.923.

 Com a palavra: elas 

Instrutora de autoescola há mais uma década, Érica Aparecida Silva considera a frase sobre “perigo constante” extremamente preconceituosa. Ela lembra que as estatísticas provam que as mulheres sofrem menos acidente ao volante, assim como morreram muito mais homens ao volante.

– Elas dirigem com mais atenção, respeitam a sinalização e são menos agressivas na direção, por isso a diferença nos números – afirma.

Valéria Ferreira Machado Pacheco, uma das mais antigas motoristas de van em Divinópolis, há 23 anos transporta crianças para diversas escolas da cidade e nunca se envolveu em um acidente. A condutora revela ter começado numa Kombi e ter sido muito difícil no início, já que era uma área apenas com profissionais praticamente do sexo masculino. Afirma até que os pais das crianças eram um pouco resistentes, enquanto as mães apoiavam sua coragem.

– Sou muito realizada e não trocaria minha profissão por nenhuma. Costumo brincar que tenho netos da van, já que transporto crianças filhas de passageiros meus, há cerca de 20 anos – resume.

Ela revela que a mulher é muito mais cautelosa ao volante, por isso conquista a cada dia seu espaço no mercado.

– Quanto ao volante, dispensa comentários. A prudência, acho que resume a nossa atuação – conclui.

 

 

 

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