Hipócritas

Laiz Soares

No dicionário, o conceito de hipocrisia aparece como: ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade. Neste domingo, vi o vereador Eduardo, membro do clã Azevedo, criticando a vereadora Lohanna, que apoiou o decreto que o próprio irmão Gleidson sancionou. Ele a acusava de hipocrisia e pedia que ela usasse todo seu salário para comprar cestas básicas para os que vão passar fome com o fechamento temporário do comércio na onda roxa. Eu questionei, quando vi, por que é que o vereador usava seu tempo para atacar uma colega de trabalho de forma extremamente incoerente em vez de correr atrás de soluções efetivas para o problema da fome e desemprego.

A economia está em recessão. O buraco é bem mais embaixo. Cadê o pacote de apoio aos comerciantes?  O que o deputado estadual, o irmão prefeito e o irmão vereador estão fazendo de EFETIVO para conseguir garantir apoio ao comércio e uma alimentação digna a todos que precisam? Pergunto para Eduardo e para o prefeito: quantas pessoas passam fome hoje no município? Quantas estão em situação de rua? O número aumentou? Quantas precisam de renda extra? Este mapeamento deveria ser prioridade, mas não os vejo falar disso. Aliás, não vejo quase ninguém. Quando é conveniente para lacração nas redes sociais colocam a fome e o desemprego no discurso, mas ação prática que é bom, nada. 

Venho defendendo desde a campanha à Prefeitura que haja um programa amplo de compra e doação de alimentos pela Prefeitura que atenda todos que necessitam e também a garantia de renda básica. A Prefeitura de Nova Lima fez um auxílio emergencial local, isso é possível e deve ser feito! O novo auxílio do governo federal provavelmente será no valor de R$ 250, o que é insuficiente para uma dignidade mínima. Já ouvi gente dizer que minha proposta de auxílio local é absurda porque a Prefeitura não tem dinheiro. Se não tem recurso para isso, que é prioridade máxima, que se endivide. O Município pelo menos consegue pegar um empréstimo, já uma pessoa que precisa de ajuda para comer não consegue crédito em banco nenhum. Vamos deixá-los à míngua, à mercê de caridades, sem fazer políticas públicas efetivas?

Se a Prefeitura tiver que fazer dívida para salvar vidas e garantir dignidade para a população, que o faça! A economia retomará no longo prazo e será possível pagar essa conta, mas quem tem fome tem pressa. Vidas perdidas não se recuperam. É para isso que existe o Estado, para garantir e proteger os direitos fundamentais quando algo dá errado. Estamos num estado de exceção, de guerra, e, portanto, medidas extremas se fazem urgentes e necessárias. Precisamos de coragem e ousadia para fazer o que é certo!

Nossa cidade hoje é denominada por um clã, uma família que se orgulha em dizer aos quatro ventos o quanto são cristãos ilibados que amam o povo e que governam com todos e para todos, de fora pra dentro, seja lá o que isso signifique. Belas palavras ao vento, que tem encontrado pouca consistência nas ações. No meio de uma crise humanitária com tanto sofrimento, posicionamentos como esse, do vereador Eduardo, e a postura negligente que o irmão prefeito adota em relação à fome na cidade me fazem lembrar aquele trecho da Bíblia no qual Jesus corrige os fariseus que se diziam muito religiosos mas não colocavam os ensinamentos em prática, fazendo o contrário do que pregavam, se preocupando mais com sua imagem do que em fazer  efetivamente o que é importante para se promover a justiça:

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. 28 Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade” Mateus 23, versículo 27. 

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