Guerra da vacina

Preto no Branco 

Assistir atônitos assuntos de grande interesse da população virarem disputa política não é novidade em um Brasil que consegue ultrapassar todos os limites do egoísmo e da idiotice. Uma vergonha mundial. Agora, a bola da vez é a vacina. Diante ainda da pandemia de um vírus que se dissemina de forma acelerada e não dá sinais de data para acabar, a busca de uma forma para imunizar a população virou foi guerra política. Por um lado, a comunidade científica luta para chegar ao máximo da eficácia. De outro, um governador “aparecido” digladia com um presidente que não tem o controle das rédeas do país. A bagunça sem precedentes abre brechas para a Justiça, que há muito caiu no descrédito, também meter o bedelho. Assim é impossível algo dar certo. 

Contra a parede 

Diante de uma das piores crises sanitárias e socioeconômicas, o que o brasileiro mais sonha é finalmente ouvir: a vacina está disponível. Mas não. O que deveria ser uma notícia animadora, tiveram que enfiar no meio o que há de mais nojento na política neste país.  Tudo começou quando o governador de São Paulo, João Doria, prometeu que a vacina produzida pelo Instituto Butantan estará disponível em breve, mesmo sem que os resultados de fase 3 tenham sido divulgados. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por sua vez, havia afirmado que o governo federal compraria 46 milhões de doses da CoronaVac, a vacina desenvolvida pela Sinovac e pelo Instituto Butantan. No entanto, no outro dia, após repercussão negativa nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que o governo não compraria a vacina, que ele chama pejorativamente de “vacina chinesa”, por falta de evidências científicas de que ela seja segura e eficaz. O Supremo Tribunal Federal (STF)  comprou a briga e colocou o governo federal na parede. Não precisava chegar a este ponto, mas, como por aqui nada se resolve com a boa vontade, não restou alternativa. Lamentável. 

Sem a Anvisa 

A investida de João Doria instigou outros governadores  e o assunto chegou ao Supremo na semana passada. O governo do Maranhão entrou com uma ação pedindo a autorização do tribunal para aquisição de vacinas aprovadas por agências sanitárias internacionais, mesmo sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E com toda a razão. Enquanto a agência permanece inerte, só aumenta o número de contaminados e mortos em todas as unidades da federação. Como vai terminar? As próximas horas ou dias, dirão. Quanto ao povo, este é deixado para último plano, para não perder o costume. 

Servidores na berlinda 

E neste jogo em que um poder quer mandar ou aparecer mais do que o outro, Minas Gerais mostra também um exemplo desta disputa egocêntrica. Está na fila, dos  projetos que tramitam em comissões, o do governo do Estado que prevê a recontratação de servidores terceirizados que, segundo o Executivo, terão que ser demitidos até fevereiro, já que as leis que regem os contratos foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF). São nada mais que 50 mil trabalhadores que podem perder o emprego. São servidores de várias áreas, entre elas Saúde, Segurança e Educação. No entanto, não há consenso em relação ao projeto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Certamente, não envolve nenhum parente, nem apadrinhados dos deputados, senão, já tinham dado um jeito de resolver há muito tempo. 

Ficaram irritados 

A coisa está pegando depois que entrevistas dadas pelo secretário de Planejamento, Otto Levy, afirmaram que o projeto precisa ser aprovado ainda neste ano, caso contrário, o governo terá que fazer as demissões. As afirmações deixaram os parlamentares com “raivinha”.  O presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PV), por exemplo,  deixou claro que a Casa não vai aceitar a pressão do Executivo e chamou o secretário de “fake news”. Disse que estão fazendo tudo que há ao alcance deles para buscar uma solução viável. Porém, dezembro está acabando e o recesso parlamentar está batendo às portas. Cada um vai passar o fim de ano tranquilo com o gordo salário pago pelo povo e com a certeza que voltam em fevereiro para seguir a mesma “vidinha boa”. Mesma confiança não têm estes servidores que, além de não ter as mesmas regalias nas comemorações e nas férias, não sabem se voltam para o trabalho em fevereiro. É isso que precisa ser levado em conta, não as vaidades doentias deste meio. 

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