Futuro do pretérito

Leila Rodrigues

Neste momento, ela estaria em Las Vegas com seu marido, comemorando os 15 anos de casados. O jovem estaria se formando este mês, o casal se casaria em maio, o futebol estaria rolando solto nos estádios enquanto os botecos de Minas Gerais fervilhariam de gente. Eu estaria fazendo a mesma coisa de um jeito diferente. E você? Será que aquele seu projeto estaria a todo vapor? Certamente você já se pegou pensando no seu futuro do pretérito particular. O que você estaria fazendo agora, se não tivesse a pandemia? Talvez estivesse no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa que faz agora. De qualquer forma, nenhum de nós seria o mesmo de hoje. Agora já estamos todos tocados, já estamos todos mudados em algum aspecto.

O fato é que estamos vivendo um momento que, com toda certeza, ficará para a história. E nos pegamos, às vezes, disfarçados de fortes, disfarçados de tranquilos, disfarçados de crentes que vai dar tudo certo. No fundo, cada um sabe o risco que corre. E na calada das nossas noites mal dormidas, pedimos a Deus que traga uma solução para o que ainda não está plenamente resolvido. É nesta calada que fazemos nossas verdadeiras preces e nos encontramos sozinhos com os nossos medos. No silêncio das nossas noites mal dormidas, sonhamos todos com a velha e boa vidinha nossa de cada dia. Aquela mesma que tantas vezes reclamamos e que agora almejamos tê-la de volta. Na calada da noite, sonhamos sonhos parecidos e somos todos do mesmo tamanho. Eis a lição. No silêncio, falamos todos a mesma língua e o mesmo dialeto. 

Queremos nossas vidas de volta. Queremos abraçar quem amamos. Queremos nossa amada e idolatrada rotina de volta. Queremos o ir e vir do trânsito caótico e a certeza de que o salário chegará no fim do mês. Queremos o colega chato da mesa ao lado, o chefe difícil, os avós por perto, os vizinhos, os sobrinhos, os amigos e os conhecidos que cruzam nosso caminho, cruzando a rua novamente e trazendo movimento.

Sim, queremos viver e preservar a vida de quem amamos. Mas não podemos negar que também queremos trabalhar, queremos produzir, queremos aprender, queremos bater meta e queremos a certeza de que pagaremos todas as contas que fizemos. 

Queremos viver e queremos participar do processo todo, ainda que seja difícil, árduo, penoso, complicado, caro, cansativo e estressante… Queremos viver o presente e todos os seus reveses. Não há nada melhor que a confusão da vida! 

Se até aqui você não aprendeu nada com a pandemia, tá na hora de acordar! As lições são para todos! 



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