Folhinha

Maria Cândida 

A morte do escritor não se quer resolver dentro de mim.

 Mas não tenho gosto na infelicidade e por isso busco meu caminho como um verme sabe do seu, dentro da terra.

 Muitas coisas me valem quando Deus fica estranho e do que é mínimo, às vezes, vem o desejado consolo.

Informativo popular Coração de Jesus é o nome de um calendário de parede. “abençoai este lar” está escrito nele.

O coração sangra na estampa, mas o rosto é doce, próprio a enternecer as mulheres da cozinha, feito eu.

Toquem mal o piano, vou me deliciar — nada é mesmo perfeito —, uma gota de mel desce em minha garganta.

 No dia 8 de janeiro está escrito na folhinha: “A fé guiou os magos — Lua nova amanhã”.

 Lua nova, que nome mais bonito pra um consolo.

Prezado leitor,

Se você, como eu, não conseguiu entregar uma lembrancinha a cada amigo nas datas festivas de fim de ano, não se atormente. Sempre é tempo. Mesmo meio atrasado, é tão bom dar como receber um presente. Qualquer maneira, fica aqui uma sugestão: ganhei uma Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, há muuuuitos anos, de uma comadre e desde então nunca deixei de lê-la a cada dia de cada ano. E como é interessante!

Minha ajudante na cozinha a chamava de “Foinha de Desfoiá”. E a lia toda antes de desfoiá. E recitava de cor salmos e orações.

A Folhinha oferece de tudo, tópicos bíblicos, orações para todos os momentos de angústia ou alegria, oração, e não deixa um santo de fora. Vai de Filomena a Cândida e Lindalva e Raymundo de Penyafort, e... E há também pensamentos e ensinamentos diários, por exemplo, na folhinha destacada do dia 8 agora, lá está:

“Resiliência- o segredo da força psíquica: qual é a força misteriosa que permite uma pessoa sair de uma situação deprimente e voltar a ter uma vida plena resistindo a pressões e sofrimentos?” e mostra que é possível desenvolver esta resistência.

E é tudo filtrado para não se cair em superstições e banalidades. A Editora Vozes garante qualidade e seriedade.

Além de conselhos e poesia, inclusive da divinopolitana Adélia Prado, acima, a Folhinha capricha no humor de qualidade, vez que se não for de qualidade não é humor. E a Folhinha faz um milagre: faz humor sem precisar fazer graça só com uso e abuso de sexo, como soe acontecer por aí... O que é quase um milagre...

E mais: não tem um único erro de grafia, e isto é tão meritório, principalmente considerando o recente erro do nosso ministro da Educação, Abraham Weintraub Bragança de Vasconcellos Weintraub.

Em despacho à secretária, grafou a palavra “ressonâssia” assim.A funcionária, vendo o engano, obtemperou: não, sr. ministro, esta palavra, escrita assim, está errada. O certo, sr.ministro, é “ressonância” escrita assim, o dr. Google já confirmou...

Mas o sr. ministro Weintraub ganhou a parada arrematando a discussão com voz tonitroante: engano é seu, minha querida secretária! Você que errou, porque se esqueceu de colocar cedilha na palavra “ressonançia”...

Agora sim! Viva nosso ministro! Viva nossa Educação! Viva o Brasil il...il...il...il.

 Camelódromo

Voltei mais uma vez ao Camelódromo, ali no Centro, na rua S. Paulo, próximo ao Banco do Brasil. Isto dia 11 de janeiro. Não era uma visita rotineira como eu tinha costume, mas, sim, para conferir o estado do desmanche que ali foi anunciado. Conferiu. Camelôs descendo suas mercadorias em silêncio. Triste. Apenas ao fundo, mulheres ameaçavam.

Dia seguinte, domingo, 12, marcado para o fim da mudança, volto a ver e conferir. O quadro já era outro. Muitos espectadores em silêncio e aparato policial. E motores de helicópteros roncando cada vez mais abaixo. Bancas vazias e fechadas. Militares a postos. Assistentes silenciosos.

Fui ver a grande construção metálica que a Prefeitura arremata na av. Getúlio Vargas entre rua S. Paulo e Minas Gerais para os camelôs se instalarem e trabalhar. Pergunto: quanto tempo a obra ainda demora a ser entregue? E ele: agora só mais ou menos um mês.

Agora então é hora e vez de bons articuladores entrarem em cena em busca de boas alternativas para as melhores soluções, que são as soluções pacíficas, sem violência.

 

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