Fiscais de buraco e mato

Editorial

Houve um tempo, não muito distante, em que a população procurava os vereadores de suas respectivas cidades para solucionar problemas e também para fazer denúncias – muitas delas, graves. Fevereiro de 2021. Esse tempo não existe mais. A população vai para as redes sociais e em alguns casos pontuais procura a imprensa. O tempo de procurar o vereador acabou e talvez não volte mais. O grande questionamento em torno desta situação é simples: por quê? Por que a população não procura mais o representante do povo do Poder Legislativo para denunciar algo ou para tentar buscar solução para  um problema (que não seja mato ou buraco na rua)? Foi a chegada da tecnologia ou a falta de eficácia na solução dos problemas que substituíram os parlamentares? Se a pergunta é simples, talvez a resposta seja também, e na verdade talvez seja a junção de ambos. A falta de resolutividade dos vereadores – que preferem muitas vezes ser base do prefeito e não cobrar de uma forma enérgica a atuação do Executivo, em troca de obras eleitoreiras –, junto à tecnologia, que deu voz à população, foi a combinação perfeita que conseguiu reduzir os parlamentares a fiscais de buracos de rua e mato alto.

Com discursos cada vez mais pobres, sensacionalistas e implorando por mídia, por atenção, os vereadores de Divinópolis muitas vezes ultrapassam o limite do aceitável e da atuação parlamentar, e dão lugar ao vexame. Sim! Vexame. Esta é a palavra que melhor define a atuação dos vereadores nos últimos quatro anos e, ao que tudo indica, definirá nos próximos quatro. O resultado das eleições, no dia 15 de novembro, conseguiu enganar o coração do divinopolitano, que por um momento criou um fio de esperança que agora “ia”? Doce esperança, mas leve engano. Parece que ainda não “foi”. Na reunião ordinária da última terça-feira, um vereador comunicou que enviou ao prefeito um ofício solicitando que padres e pastores entrassem na linha de prioridade da vacinação contra a covid-19. A fala do parlamentar foi rebatida por uma vereadora que pontuou: “Se todo mundo é prioridade, ninguém é prioridade, vereador”.

Basicamente seria isso, se não fosse o fato de que não tem vacina, a imunização anda a passos de tartaruga – do dia 2 para o dia 3 de fevereiro foram vacinadas setes pessoas em Divinópolis – e a Prefeitura está seguindo o cronograma de imunização do Ministério da Saúde (MS), ou seja, um simples ofício não muda o calendário de vacinação. O mais triste disso tudo é pensar que, se o parlamentar talvez soubesse ou colocasse o “tico teco” para funcionar em pequenos pontos como este, gastaria mais energia em cobrar mais transparência na campanha de imunização do que em querer aparecer para público X ou Y. É triste, é desolador, mas esta é a situação de Divinópolis, que talvez seja a realidade para os próximos quatro anos, com muitos vídeos, muitos buracos, muito mato alto, e pouco trabalho sério que traga resolutividade para os problemas da cidade. Parece que a população ainda está longe de ter um parlamento sério e comprometido, que vá um pouco além de fiscal de buraco de rua.

 

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