Feminismo e democracia
Michelle de Castro Costa
Não cabe mais dizer que tem mais de um século que as mulheres lutam pela igualdade de direitos, porque isso nos remete a tempos ancestrais, em que ela soltava a voz.
E ainda vemos a distorção do termo “feminismo” como sendo oposição ao machismo, cujo efeito imediato é reduzir a força da luta das mulheres.
No cotidiano feminino estão presentes a herança das eras patriarcais e seu efeito limitante aos homens na atualidade. Isto fica visível na reação que o feminismo provoca nas lutas contra o disparate das desigualdades no âmbito do trabalho e na luta por mais participação nas estruturas de poder e na política.
Outro ponto ainda que se discute é que o feminismo não tem preferência política, como pensam, não sendo tendência a privilegiar uma força política, busca o desenvolvimento da ideia do antipatriarcado e da democracia – inserida não só a luta pela igualdade de direitos e possibilidades, mas a humanização dos setores.
Historicamente estamos na quarta onda do feminismo e o avanço nas últimas décadas, marcado por movimentos globais e a era digital, vincula o “empoderamento” feminino a uma aversão crescente pela palavra.
Na medida em que o movimento cresce com nova roupagem, o que se vê é a estigmatização da palavra, usada com mais intensidade desde o fim do século 19 com o crescimento do movimento sufragista que defendia os direitos políticos das mulheres, com a intenção de constranger quem se identifica como feminista.
Como a palavra representa a ideologia do antipatriarcado e a inclusão das mulheres, nisto consiste a busca pela igualdade e equidade. É democracia.
Não se despreza os avanços obtidos neste último século, porque hoje votamos, somos eleitas, trabalhamos, estamos nas universidades – por outro lado ainda sobrecarregadas na vida familiar, limitada às inserções no âmbito laboral e outros aspectos. Sentimos todos os dias o preconceito da luta do feminismo pelo reconhecimento da mulher como sujeito.
Falta a igualdade no mais amplo significado, por isso o feminismo existe e vai crescer.
Anne Michelle de Castro Costa - Advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da 48ª Subseção da OAB-MG.
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