Fé e crime

João Carlos Ramos 

O Brasil sempre foi celeiro de crimes, desde D. João VI (1808) até os dias atuais. O cenário não se limita apenas ao território político, mas igualmente ao da religiosidade, muito mais fértil e extremamente lucrativo.

Três personagens recentes ilustram o quadro sinistro ao qual eu me refiro: o médium João de Deus, a pastora Flordelis e o padre Robson. Segundo os fartos noticiários em todas as mídias sociais, os "três mosqueteiros do mal" se manifestaram para fortalecer o descrédito total em relação às religiões. Representam três grandes religiões brasileiras – espiritismo, protestantismo e catolicismo – e parece que Satã os escolheu a dedo para que o escândalo fosse geral. O médium João de Deus possui 11 filhos, cada um de uma mulher diferente. Milionário e extremamente cruel, selecionava seus crimes para agradar sempre ao inferno...

Usava da crendice popular para manipular, enriquecer e gozar de todos os prazeres da carne. A pastora Flordelis foi eleita deputada federal por meio dos votos dos integrantes de  seu curral eleitoral evangélico, prometendo o céu, novamente na terra.

Segundo a Wikipédia, ela tem quatro filhos biológicos e 51 adotados. Casada com o pastor Anderson do Carmo, tentou matá-lo várias vezes através de envenenamento, sem sucesso, e depois festejou o seu assassinato, ocorrido em 16 de junho 2019, com mais de 30 tiros na porta de casa em Pindotiba - Niterói (RJ). A festa ocorreu em seu íntimo, pois, como excelente atriz do crime, chorou no velório e dizem que até cantou.

O festival de horrores não para por aí, pois as investigações prosseguem e há indícios de orgias em casa de swing e até na sua própria casa, envolvendo filhos e pastores estrangeiros. O escritor grego Homero, autor de Ilíada e Odisseia, teria material farto para descrever a trajetória da cantora gospel e pastora Flordelis. 

Para fechar o tríplice círculo dantesco de personagens religiosos brasileiros, eu venho citar o famoso padre Robson, nascido em 26 de abril de 1974 na cidade de Trindade - Goiás, mestre em teologia moral, reitor da basílica do Divino Pai Eterno, presidente da Vila São Cottolengo e conselheiro provincial ordinário da Província Redentorista de Goiás. De acordo com o MP, padre Robson chegou a transferir a quantia de R$ 2 milhões para um bandido hacker com o qual estava "de rabo preso" por um relacionamento secreto  homoafetivo. Ele cedeu às ameaças feitas pelo amante, que exigia muito dinheiro em troca de silêncio. O Vaticano e a imprensa jamais poderiam saber de nada...

O dinheiro foi entregue por uma funcionária e amiga da paróquia do padre. Avião de R$ 2 milhões, sino de R$ 6 milhões (???...), fazendas, casas de luxo e tudo que o dinheiro possa conseguir fazia parte de sua rotina.

Ele nega tudo, dizendo que não possui nada em seu nome. Lógico! Tudo está em nome de laranjas, inclusive uma irmã carnal. Infelizmente a covid-19, auxiliou muito aos criminosos, pois João de Deus está em prisão domiciliar e a 

deputada federal Flordelis possui foro privilegiado e não poderá ser presa. O padre Robson, com aquela cara de vítima, contratará advogados muito hábeis que indubitavelmente provarão que o "defunto é o assassino".

Infelizmente, o crime compensa para aqueles do colarinho branco, principalmente religiosos inescrupulosos. A fé, seja ela qual for, pressupõe, acima de tudo, defesa de direitos e ensinamentos de honra e altruísmo; e esses indivíduos não podem representar milhões de fiéis sinceros e íntegros.

O grande poeta Augusto dos Anjos diz em seu poema VERSOS ÍNTIMOS: 

 

"...Toma um fósforo, acende teu cigarro. O beijo, amigo, é a véspera do escarro.

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa pena a tua chaga,

apedreja essa mão vil que te afaga

e escarra nessa boca que te beija!”.

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