Falta de leitos estrangula saúde em Divinópolis

Gisele Souto  

Um quilômetro é a distância entre a Unidade de Pronto Atendimento Padre Roberto (UPA-24 horas) e o Complexo de Saúde São João de Deus. Mas este não tem sido o percurso percorrido por centenas de pacientes de Divinópolis que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). A ausência de leitos para a imensa demanda é a grande responsável. 

O Complexo de Saúde São João de Deus é o único a absorver pessoas pelo sistema público em diversas especialidades. É o destino de quem precisa de tratamento urgente e vem de cidades da região Centro-Oeste. São cinco no total: Formiga, Oliveira, Pará de Minas, Itaúna, Santo Antônio do Amparo e Campo Belo. 

Porém, em busca de auxílio, em algumas situações, os pacientes tiveram de ser deslocados para cidades ainda mais longe, no Sul de Minas e até mesmo no interior de São Paulo. 

Só um  

Como os hospitais particulares da cidade não cedem vagas nem mesmo pagando, a Prefeitura e o Estado se veem obrigados a arcar com o serviço ou buscar os recursos fora do Município, muitas vezes sob ordem judicial. 

Na UPA, nunca ficam menos de 60 pacientes por dia, além de 3 a 6 (esta é a média) à espera de uma vaga em CTI. Em casa, aguardando vagas para procedimentos, como cirurgias ortopédicas, o número passa de 100.  

 Disponibilidade  

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) esclarece que, para transferência de um paciente da Unidade de Pronto Atendimento para uma unidade hospitalar, é necessário que o estabelecimento de origem, no caso a UPA, faça o cadastro dessa pessoa no sistema Susfácil e que o quadro clínico dela esteja estabilizado e atualizado no sistema a cada 12 horas ou sempre que houver alteração significativa. Revela ainda que, quando o paciente encontra-se cadastrado no Susfácil, tem início a procura de leitos para que ele possa ser transferido.  

Conforme explica a secretaria, a Central de Regulação do Estado funciona 24h por dia e prioriza os casos de maior gravidade. 

 Pacientes graves  

A SES explica também que o São João de Deus é um hospital de referência de alta complexidade para 54 municípios no Centro-Oeste, abrangendo uma população de 1, 2 milhão e, na média, a unidade é referência para 13 municípios. 

Segundo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), em Divinópolis existem atualmente 279 leitos, sendo 167 do SUS (todos estes no São João) e 112 particulares.  

Ao todo, de acordo com a SES, em toda a região, são cinco cidades que também fazem atendimentos de referência e, nelas, há hospitais para a média complexidade. 

 Novos leitos  

A média de atendimento diário na UPA é de 380 pessoas por dia e, desse total, 6% apenas seriam casos de permanência para observação ou internação. Porém, como faltam leitos para que eles sejam levados para uma unidade adequada, ficam amontoados, muitas vezes, no corredor até que surja uma vaga, mesmo que seja em outra cidade. 

Como não há previsão por parte do Estado de disponibilização de novos leitos, o que poderia ocorrer com o término das obras do Hospital Regional, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), teve de tomar uma providência urgente. Mesmo faltando recursos, já que o Governo de Minas deve milhões em repasses para a Saúde do Município, a Prefeitura bancará o custeio de novos leitos via São João. Ficará responsável tanto no valor que vai desembolsar mensalmente, quanto na adoção de medidas para que a estratégia funcione. 

O anúncio foi feito na quarta-feira passada, 13, quando o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, explicou como a iniciativa disponibilizará, até o fim deste mês ou início do próximo, 20 leitos que atenderão exclusivamente pacientes de Divinópolis. 

O São João de Deus receberá R$ 200 mil por mês para a prestação do serviço. 

 Responsabilidade  

Questionada sobre a responsabilidade do Estado, a SES, por meio da Superintendente Regional de Saúde (SRS), explica que o papel do Estado é gerenciar a Central de Leitos​, que é ​responsável por regular os leitos já existentes nas instituições credenciadas ao SUS e tem seus leitos cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Explica que, quando há construção de novos leitos com recursos estaduais ou federais, estes são credenciados ao Ministério Saúde, que paga às instituições o procedimento de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Estas instituições, por sua vez, segundo a secretaria, ficam responsáveis por informar os leitos existentes para que a Central de Leitos possa regular os pacientes. Em relação à compra de leito, a SES diz que esta ​é ​uma política municipal para atender aos divinopolitanos. 

 

 

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