Falta de água, possível contaminação e tratamento de esgoto: o que disseram os cidadãos ouvidos na CPI da Copasa

 

Vereadores fazem perguntas a cidadã que denunciou problemas na água que recebeu (Foto: Helena Cristino/PMD)

Ricardo Welbert

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara de Divinópolis para apurar indícios de irregularidades na prestação de serviços e no cumprimento do contrato firmado entre a Companhia de Saneamento (Copasa) com a Prefeitura teve mais uma rodada de depoimentos na tarde desta sexta-feira, 24. Cinco cidadãos que reclamaram sobre a qualidade da água e do tratamento do esgoto no município entre agosto e outubro de 2017 foram ouvidos.

A primeira foi Ana Paula Freitas, líder comunitária no bairro Quintino. Ela comentou que situações de falta de água na região em que mora ocorrem desde dezembro de 2016. Disse que passou a monitorar aspectos da água em casa e percebeu variações na cor, na turbidez e no cheiro.

— Já no fim de agosto e início de setembro observei que além de amarelada, a água estava com muito mau cheiro e aspecto de esgoto. Perto do feriado do dia 7, quando passamos pela falta de água, logo após o reabastecimento a água voltou com cor amarelada, porém sem cheiro nenhum — relatou.

A cidadã contou que tem comprado água para beber em casa. Porém, a que usa para cozinhar é a que vem da caixa. Há cerca de sete dias, garantiu, sofre de infecção intestinal. 

Ana Paula informou ainda que em 35 dias já lavou sua caixa d’água sete vezes e com isso a conta também veio mais cara. Ela também falou sobre o ocorrido no dia 2 de outubro, quando houve uma reunião entre vereadores e representantes da Copasa. Logo depois ela recebeu a visita de um engenheiro ambiental da empresa. 

— No mesmo dia ele me fez diversos questionamentos quanto à água que estava chegando à minha caixa e achou por bem trocar ou retirar o meu hidrômetro de água por 24 horas, para fazer a manutenção da rede. Eu não achei isso correto, pois eles [a Copasa] devem prestar um bom serviço não só para mim, mas para a cidade inteira, mas eles acharam que me deixar 24 horas sem hidrômetro era uma forma de me confortar com relação à conta de água. Para mim, não surtiu efeito. A partir daí a água tem vindo menos amarelada. Porém, ainda há o aspecto de barro — disse Ana Paula. 

Ana Paula Freitas, líder comunitária no Quintino (Foto: TV Câmara/Reprodução)

A segunda cidadã ouvida pelos vereadores foi Isabel Cristina Soares, moradora do bairro Nossa Senhora das Graças. Ela relatou que há anos sofre com a falta de água na região. 

— A Copasa foi totalmente negligente com relação ao fornecimento de água com má qualidade na cidade. No dia 9 de setembro fui diagnosticada com diarreia crônica, além de já ter emagrecido dez quilos desde então, por causa da desidratação — relatou. 

Isabel contou que mora com pessoas doentes em casa e reclamou do fato de a Copasa não ter fornecido nenhum tipo de assistência à família.

Isabel Cristina Soares, moradora do bairro Nossa Senhora das Graças (Foto: TV Câmara/Reprodução)

Representando os moradores do bairro Lagoa dos Mandarins, Ricardo Alexandre Gonçalves Nunes falou a respeito do descarregamento de quatro a cinco caminhões com dejetos por dia despejados na fossa comunitária do bairro. 

Segundo ele, no local ocorrem o decantamento e o tratamento da água processada na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do bairro Icaraí.

— Hoje são cobrados em nossa conta 90% a mais da tarifa da fossa. Os moradores da parte de cima do bairro também sofrem muito com a falta de água e nós nunca vimos nenhuma manutenção na fossa comunitária. Me sinto lesado. De dois meses pra cá houve um reajuste considerável nas contas, sendo que não obtivemos nenhum tipo de melhoria na região — frisou. 

 

Ricardo Alexandre Gonçalves Nunes, do Lagoa dos Mandarins (Foto: TV Câmara/Reprodução)

Ainda sobre os diversos sintomas de mal-estar que moradores da cidade têm atribuído à água tratada pela Copasa, Douglas Júlio da Guarda, morador do Alto das Oliveiras, também relatou à Comissão que teve diarreia e mal-estar e que seu filho também já foi diagnosticado com virose. 

— Desde as últimas vezes em que faltou água no bairro, estou comprando litro de água para minha família. Até hoje a Copasa nunca deu nenhuma justificativa para os moradores sobre a falta d’água — acrescentou. 

O presidente da CPI, Sargento Elton (PEN), perguntou ao cidadão se o serviço que a Copasa presta em Divinópolis tem sido satisfatório? 

— Eu acho que a Copasa não tem prestado um bom serviço e deixado muito a desejar — respondeu Douglas. 

Douglas Júlio da Guarda, do Alto das Oliveiras (Foto: TV Câmara/Reprodução)

Vídeos

Por fim, a moradora do bairro Candelária Vanessa Tasciane Romão, contou que publicou vídeos em sua conta em uma mídia social nos quais mostra a água amarelada que chegou à sua casa depois da falta do recurso. Ela também relatou o mau cheiro do produto. 

Etapas 

Após serem compilados todos os questionamentos junto à Consultoria Jurídica da Câmara, os depoimentos foram encerrados.  

O próximo evento público da CPI da Copasa está marcado para segunda-feira, 27, a partir das 13h, no plenário, quando mais consumidores serão ouvidos.

Outro lado 

O superintendente de operação da Copasa na região, João Martins de Rezende, assistiu às oitivas.

— À medida em que as reclamações chegam na Copasa, tratamos caso a caso. Existem reclamações de forma genérica, nas quais às vezes ficamos com dificuldades de atuação. Mas, o objetivo é ouvir a população e identificar e tratar possíveis problemas — disse.

Por meio de nota, a Copasa informou que "sempre prestou e continuará prestando todas as informações necessárias para esclarecer as questões relativas a prestação dos serviços de abastecimento de água e do esgotamento sanitário em Divinópolis".

Assista à íntegra das oitivas

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