FALÁCIA “AB UNO”

 

Prof. Antônio de Oliveira

De um lado da medalha: falácia corresponde a sofisma. Sofisma, por sua vez, corresponde a engodo. Quanto menos se entende do assunto, mais se dá palpite e, pior ainda, de forma generalizada. Não raro a partir de um único caso, “ab uno”. Unigeneralização. Generalização, pois, a partir de amostra insignificante numericamente. O ser humano tem tendência a generalizações, fundadas ou não. Emoções, habilidades, atitudes e ideias vivenciadas em situações particulares facilmente são estendidas para um campo maior. Na mídia, nas redes sociais, nas fake news, nas conversas informais. Dá-se palpite a torto e a direito, à esquerda e à direita, embora assista a todas as pessoas a liberdade de expressão. Exemplo burlesco é o de um economista estrangeiro, ‘brazilianist’ dos mais renomados, que, viajando pelo Brasil, teria visto, na estação ferroviária de uma cidadezinha, um cachorro que perdera uma perna num acidente. “Estranho”, teria concluído o observador, “nesta cidade todos os cães têm apenas três patas”.

Do outro lado da medalha: não se há de desprezar a perspicácia do poeta Virgílio, na Eneida, II, 70: “Et crimine ab uno disce omnes”. E por um crime aprendei a conhecer todos os casos aos quais, criteriosamente, a analogia possa ser estendida. Eneias refere-se às estratégias dos gregos. Geralmente citam-se apenas as palavras: “Ab uno disce omnes” ou “ab uno ad omnes”, de um para todos. Se, numa passagem de nível sem sinalização, ocorre um acidente, isso já é motivo suficiente para as devidas providências, o que não quer dizer que se há de esperar acontecer para colocarem placas de sinalização. Normalmente os primeiros assaltos fazem com que as vítimas tenham mais atenção.

O rompimento de barragem no município de Mariana repetiu-se em Brumadinho. Comum, da parte das autoridades e técnicos que não assumem, estes a execução, aquelas, a fiscalização, maximizar pequenas conquistas e minimizar tragédias anunciadas.

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