Exames de mamografia reduzem durante pandemia

A queda foi de 46% e pode comprometer o tratamento da doença que atinge 10% das mulheres, alertam especialistas

Da ALMG

As restrições de mobilização, impostas pela pandemia da covid-19, provocaram uma queda, no Brasil, entre janeiro e agosto deste ano, de 46% na realização de mamografias, exame utilizado para diagnóstico de câncer de mama. Os dados foram apresentados pela presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional MG, Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa (ALMG), nesta quarta-feira, 28. Participou também, como convidada, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.

A reunião teve por objetivo debater as políticas públicas desenvolvidas no Estado para o diagnóstico e tratamento do câncer de mama e celebrar as ações de prevenção e combate da doença por ocasião do Outubro Rosa, campanha nacional de conscientização sobre a doença.

A especialista ressaltou que a cobertura nacional do exame é de 24%, muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que indica o ideal de 70%. Com a redução, o diagnóstico foi realizado por pouco mais de 10% das mulheres.

Em Minas a situação se repetiu. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, no ano passado foram diagnosticados 5.629 casos de câncer de mama no Estado; este ano, até junho, apenas 1.324 casos foram confirmados.

— Não diminuíram; não estão é sendo feitos diagnósticos. As mulheres estão com câncer em casa — advertiu Annamaria Santos.

 

Os números preocuparam os participantes da audiência pública, ao considerar que a mamografia é o principal exame de rastreamento e diagnóstico da doença.

O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Pimenta (PDT) lembrou que o câncer de mama é o que mais acomete e mata as mulheres no Brasil e no mundo.

— Muitas mulheres estão fazendo diagnósticos tardios, algumas se condenando a uma vida mais difícil e até perdendo a vida — lamentou Carlos Pimenta.

O deputado sugere que o Estado faça um trabalho de conscientização e chamamento para que essas mulheres façam o exame.

Suspensão de diagnóstico em Minas é criticada

Deputados criticaram a suspensão em Minas Gerais do programa de carretas da mamografia, que permitia a realização do exame em locais onde não existiam unidades fixas para sua realização. O aparelho era transportado em carretas que ofereciam o exame gratuitamente em todo o Estado.

Os deputados Carlos Pimenta e Doutor Wilson Batista (PSD) afirmaram que a mamografia móvel ampliou a cobertura do exame em Minas Gerais. O presidente da comissão afirmou que o serviço facilita o acesso a mulheres que moram em locais mais distantes e com dificuldades de movimentação, especialmente na pandemia.

O deputado Doutor Paulo (Patri) sugeriu, para minimizar o problema, direcionar parte das emendas parlamentares para permitir a realização dos exames nos municípios que não contam com o aparelho.

— Estamos caminhando para o retrocesso e não sucesso do tratamento que a gente deseja — afirmou Doutor Wilson Batista. Ele também reclamou que o Estado não tem implementado outras leis que visam aumentar o diagnóstico, o atendimento e o tratamento da doença, como a Lei federal 12.732, de 2012, que prevê o direito ao paciente de ter acesso ao tratamento de câncer em até 60 dias após o diagnóstico.

Dados da própria Secretaria de Saúde apontam que, em 2019, menos de 35% das pacientes iniciaram o tratamento dentro do prazo estipulado pela lei. O tratamento tardio, conforme alertaram todos os participantes da audiência, é mais caro e menos eficaz. “O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura em 95%”, pontuou a deputada Laura Serrano (Novo).

A deputada admitiu que é preciso melhorar o tempo do atendimento entre o diagnóstico e o tratamento, mas observou que o prazo, em Minas Gerais, foi menor em 2019 do que nos anos anteriores.

Segundo a presidente da SBM/MG, 99% das mulheres que iniciam precocemente o tratamento apresentam uma sobrevida de pelo menos 5 anos a mais do que 27% que diagnosticam a doença em estado avançado.

A resposta do Estado

A superintendente de Redes de Atenção da Secretaria de Estado de Saúde, Karina Xavier Rocha de Oliveira, explicou que a suspensão do projeto da carreta da mamografia foi decidida para que o serviço fosse melhor otimizado. Segundo ela, muitas prefeituras acabavam subutilizando os aparelhos fixos para direcionar as pacientes apenas para o móvel.

Ela explicou que a substituição também teve de ser feita em função do congelamento dos recursos federais, em 2018, para esse tipo de serviço. Disse, ainda, que a mamografia móvel, que era oferecida por parceiros terceirizados, é entre seis e sete vezes mais cara do que a realizada no aparelho fixo em alguma unidade.

Segundo Karina Oliveira, a secretaria está reavaliando todo o sistema, buscando otimizar a aplicação dos recursos e a eficiência dos serviços. Uma das metas da secretaria é ampliar o diagnóstico do câncer, que hoje atinge cerca de 32% da população feminina mineira. Estão previstos investimentos de R$ 21 milhões na modernização dos equipamentos, incluindo a substituição de mamógrafos analógicos por digitais, além da aquisição de outros materiais necessários aos exames.

Prevenção é o melhor remédio

Os participantes da audiência pública foram unânimes em considerar que, além do diagnóstico precoce, a prevenção ao câncer pode evitar muitas mortes entre as mulheres brasileiras.

A doença atinge mais as mulheres após os 50 anos, aquelas que tiveram a primeira menstruação antes dos 12 anos de idade e menopausa após 55 anos; que tiveram a primeira gravidez após os 30 anos ou não tiveram filhos. Mas existem fatores de risco que podem ser evitados, por mudanças de hábitos e estilo de vida: fumo, bebida em excesso, sedentarismo, sobrepeso ou obesidade, especialmente após a menopausa. Manter alimentação mais saudável também pode prevenir a doença.

De acordo com a médica Oncologista e presidente da Associação Presente de Apoio a Pacientes com Câncer – Padre Tiãozinho, de Montes Claros (Norte de Minas), Príscila Miranda Soares, três em cada dez pacientes diagnosticadas poderiam ficar livres das doenças se cultivassem os hábitos saudáveis.

Príscilla Soares atenta que uma em cada 10 mulheres terá câncer de mama no mundo, o que representa 25% dos cânceres que acometem as mulheres.

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, deputada Andréia de Jesus (Psol) alertou para o agravamento do câncer nas mulheres negras e pobres, que têm menos acesso aos serviços de saúde e às condições de vida mais dignas. “A desigualdade social nos coloca em patamares diferentes”.

— Há muito que se investir na saúde primária como forma de combater e evitar mortes por doenças que podem ser prevenidas — opinou a deputada. Ela também defendeu maior atenção a homens cisgêneros (que se identificam com o sexo com o qual nasceu) e aos transgêneros, que também são acometidos, ainda que em menor escala pelo câncer de mama.

A médica de atenção primária de Belo Horizonte Mariana Faria Amaral corroborou com as observações de Andréia de Jesus. Segundo ela, trabalhadoras informais e domésticas sofrem mais com a falta de acesso porque 70% dependem do SUS.

A deputada Celise Laviola (MDB) também se mostrou preocupada em ampliar a cobertura de exames e tratamento. Ela relatou o caso de sua mãe que teve a doença já em idade avançada e hoje, aos 91 anos, já se recuperou porque fez o diagnóstico muito precocemente. “A cura vem se for bem conduzida no tratamento”.

 
 
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