Estancar a sangria

Se você jogar o no Google a expressão “estancar a sangria”, aparecerão inúmeras notícias do ex-senador Romero Jucá (MDB) em que ele se refere às investigações da operação Lava Jato e, logo em seguida, sugere o impeachment da ex-presidente, Dilma Rousseff (PT). Romero usa as seguintes palavras: “Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. (…) Tem que ser política, advogado não encontra (inaudível). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria”. Esse, sem sombra de dúvidas, foi um dos momentos de maior podridão que os brasileiros puderam acompanhar, inertes em frente às suas televisões e suas telas de celulares. Três anos se passaram desde a divulgação deste diálogo, e tudo ocorreu como planejado. Tiraram Dilma, colocaram Michel [Temer] e, dois anos depois, veio Jair Bolsonaro (PSL). Tudo como o roteirista Romero Jucá definiu.

Infelizmente, existem políticos que muitas vezes conseguem se disfarçar de “revolta política”, mas, no fundo, no fundo, não passa de politicagem barata. Todo este plano orquestrado por Romero em 2016, que resultou no impedimento da ex-presidente e no atual Brasil que temos hoje, parece algo muito distante, a quilômetros de distância. Mas, engana-se o eleitor divinopolitano. Esses planos executados com maestria estão mais perto do que eles imaginam. Eles acontecem aqui, bem debaixo do nisso nariz, basta prestar atenção.

Nesta terça-feira, 2, foi comemorado o “Dia do Vereador”, e poucas pessoas prestaram atenção, mas o parlamentar Marcos Vinícius (Pros) fez alguns questionamentos muito pertinentes em seu discurso. Ele iniciou chamando os colegas para uma reflexão sobre suas atuações e disparou logo em seguida: “Será que os eleitores estão satisfeitos com o nosso rendimento, ou será que se esperava mais de uma Câmara completamente renovada, jamais vista antes? […] Será que aquelas práticas antigas perpetuaram, aqueles procedimentos reprováveis se mantiveram, ou até se agravaram?”.

As belas palavras de Marcos Vinicius, um dos parlamentares mais bem articulados da Casa enchem o peito de qualquer um, mas devem ir além disso, devem ir além de politicagem barata, em um dia que não havia nada a comemorar, afinal, nunca uma legislatura foi tão abaixo da crítica quanto esta. Quem acompanha de perto, sabe muito bem que, quando o vereador questiona se “aqueles procedimentos reprováveis se mantiveram”, é porque ainda acontecem nos corredores da Câmara, mesmo com a tão aclamada renovação.

E a verdade disso tudo é que existem mais “Romeros Jucás” por aí do que se imagina. Existem mais planos sendo orquestrados do que se sonha, basta pegar nas pequenas palavras, nos pequenos gestos. Como dito uma vez, o diabo veste terno e gravata, e está muito mais perto do que os divinopolitanos podem imaginar. Tem sangria sendo estancada por todo lado.

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