Estado sugere que Divinópolis faça a adesão no dia em que houve a 11ª morte

Orientação foi passada aos integrantes do comitê em reunião ontem; novas diretrizes apontam cidade com risco moderado

Matheus Augusto

Divinópolis inicia a semana com um novo modelo de gestão da pandemia. As decisões de flexibilização ou restrição das atividades socioeconômicas serão baseadas na Matriz de Estratégia de Mapeamento para Enfrentamento da Pandemia do Novo Coronavírus, conforme anunciado na última sexta-feira, 19. O documento estabelece uma pontuação baseada no coeficiente de incidência da microrregião de Divinópolis, taxa de letalidade, índice de isolamento social, taxa de infecção, além do fator de vulnerabilidade: a taxa de ocupação dos leitos. O resultado final fornece quais setores podem ou não abrir, explicou o secretário de Saúde (Semusa), Amarildo Sousa.

— Isso é que vai nortear os nossos decretos e a regulamentação social em Divinópolis — explicou.

O cálculo para possíveis mudanças nas normas vigentes, conta a diretora em Vigilância, Janice Soares, serão reavaliados a cada duas semanas.

— Esses indicadores são monitorados diariamente, mas, para fins de flexibilização, faremos a avaliação a cada 14 dias — contou.

Apesar disso, caso os números diários apresentem anormalidade, a reavaliação pode ser antecipada.

— Tendo um colapso do sistema hospitalar, a gente já vai tomar imediatamente as medidas restritivas — esclareceu Amarildo.

Estado recomenda 

Mesmo com uma matriz própria, o Estado recomendou ontem ao Município a adesão ao programa Minas Consciente. A reunião, por videoconferência, contou com a presença de membros do Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus e dois representantes do governo mineiro.

O secretário de Saúde, Amarildo Sousa, confirmou a discussão, mas disse que apenas foi aberto o diálogo e, por enquanto, nenhuma decisão foi tomada.

A assessoria de comunicação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) informou ao Agora que houve uma sensibilização por parte do Estado para adesão.  Também foi abordada a necessidade, se houver a adesão, que outros municípios da região Oeste façam o mesmo, tendo em vista a dependência de basicamente todos de atendimento de saúde em Divinópolis. 

A cidade é sede da macrorregião, que concentra o atendimento da alta complexidade de mais 53 municípios e referência também da microrregião na média complexidade, somando sete municípios.  

Planos diferentes

Um dos questionamentos respondidos por Amarildo foi sobre a decisão da secretaria em elaborar sua própria matriz em vez de seguir as orientações elaboradas pelo Estado e dispostas no plano “Minas Consciente”, responsável por orientar os municípios sobre quais serviços podem abrir. A região Oeste, à qual Divinópolis pertence, tem a recomendação do governo de Minas Gerais para a abertura somente de serviços essenciais, a considerada onda verde.

O secretário de Saúde justificou as diferenças de protocolos com a necessidade de Divinópolis se adaptar à realidade antes do estado.

— Nós fomos o primeiro município de Minas Gerais a ter um caso e um óbito confirmado. A gente, mesmo antes do lançamento do Minas Consciente, já tinha o nosso plano de contingência — frisou.

Amarildo ainda citou que a própria orientação estadual diz que “cada município, com sua particularidade, deve construir seu plano de acordo com sua realidade”. Isso porque o Minas Consciente é uma proposta geral.

— O plano do Estado abrange tanto os municípios sem nenhum caso quanto outros que já estão quase em lockdown — apontou.

Classificações

A matriz prevê cinco resultados. O primeiro dele, baixo, estabelece a proibição de eventos com aglomerações e suspensão de aulas em escolas e universidades. Em moderado, há o acréscimo da interrupção de atividades esportivas com contato físico, proibição de consumo de bebidas alcoólicas em lanchonetes e pizzarias, e restrição de pessoas em eventos religiosos.

Caso o risco seja classificado como alto, haverá o escalonamento de atividades comerciais e a suspensão de várias atividades, como shoppings, feiras livres, aulas particulares, atividades esportivas individuais, salões de beleza, estética e afins. Em um degrau acima, a recomendação é para a manutenção de apenas serviços essenciais, com o prazo da reavaliação da matriz passando de 14 dias para sete.

Já risco extremo configura o bloqueio total (lockdown), no qual apenas os serviços extremamente essenciais, com limite de acesso e permanência dos clientes e funcionários, poderão funcionar, além do controle nos pontos de entrada e saída da cidade. 

Pico

Ao apresentar a matriz, o infectologista Gustavo Rocha falou sobre a expectativa do pico da doença na cidade. Segundo ele, Divinópolis encontra-se atualmente com risco moderado e, com as medidas de prevenção adotadas inicialmente, o auge da doença foi adiado.

— A situação aqui ainda é confortável, mas essa perspectiva de aumento, o pico ainda está para chegar — afirmou.

Ele alertou para a importância de a população seguir as orientações das autoridades da cidade para evitar que, assim como em outras cidades, seja necessário regredir nas flexibilizações.

— Se a população de Divinópolis não respeitar o isolamento social, vai aumentar a incidência e, consequentemente, a taxa de contágio aumenta e a ocupação vai no mesmo caminho — destacou.

Sobre o pico em Divinópolis, Amarildo Sousa falou que, além dos números específicos, a secretaria acompanha o comportamento da curva de infecção.

— Hoje a nossa tendência é de aumento de casos. Ainda não atingimos uma estabilização para podermos dizer que já passamos pelo pico, ainda estamos numa fase de crescimento. É preciso ter muito cuidado — disse.

Comércio

A Secretaria de Saúde estima que a maior parte das atividades na cidade possui autorização parcial para funcionamento.

— Em torno de 80% com alguma permissão de funcionamento, sempre com as restrições de horário e medidas de segurança — estima Amarildo.

E, desde o início da retomada das atividades comerciais, analisa a diretora de Vigilância em Saúde, os números de infectado pelo novo coronavírus têm crescido.

— Nós tivemos, sim, um aumento significativo [dos casos com a abertura do comércio]. Era de se esperar. A partir do momento em que a gente flexibiliza, permite a abertura de alguns segmentos, é óbvio que mais pessoas vão circular e isso diminui o isolamento social — avaliou Janice.

Reduzir para abrir

O secretário também aproveitou a oportunidade para  falar da necessidade de melhorar alguns índices para a autorização de mais flexibilizações. Segundo ele, ao elevar a taxa de isolamento social para 50%, outros indicadores seriam consequentemente reduzidos, permitindo mais um passo em direção à volta à normalidade.

— Reforço que nós estamos em um momento crucial dessa pandemia. Depois desses três meses, Divinópolis tem mantido uma taxa de isolamento de 36% nos últimos dias, que a gente tem observado, e o isolamento social é um fator determinante — relatou.

Além disso, a taxa de contaminação, calculada na última quinta-feira, 18, em 1,14, representa um alerta, pois deveria estar igual ou menor a um.

Ações 

Também presente no encontro, o procurador-geral do município, Bruno Torres, falou sobre a tentativa da Administração em prevenir a vida dos moradores e da economia.

— É preciso informar a população também que as flexibilizações autorizadas se dão em função da necessidade da cidade precisar voltar a trabalhar. As pessoas ficaram muito tempo fechadas, sem girar a economia, e isso traz outros prejuízos, além do sanitário — disse.

Segundo o procurador, durante o período inicial de isolamento, a secretaria aproveitou para adquirir todos os insumos necessários e ampliar a rede hospitalar para, durante a reabertura, conseguir fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) à população e aos profissionais de saúde.

Amarildo citou, por exemplo, a compra de testes rápidos e a parceria com a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) para agilizar os exames na cidade.

— Todas os pacientes que estiverem dentro do protocolo e o médico entender que ela precisa fazer o teste, nós temos disponíveis — afirmou.

Lockdown

Em algumas cidades do estado, especialmente as próximas da capital mineira, a abertura do comércio representou o aumento considerável de casos de covid-19, forçando prefeitos a retornarem as medidas mais restritivas de isolamento. Em Divinópolis, segundo o secretário, os números não levam a crer nesse retrocesso, o que não é, no entanto, motivo para relaxar as medidas de prevenção.

— Nenhum quadro é tranquilo. Diante de uma pandemia, em qualquer categoria que nos encontramos, mesmo que estivessem no risco leve, a situação não é tranquila. Não podemos ter isso na cabeça. Não há tranquilidade, nem mesmo com a disponibilidade de muitos leitos nem com uma taxa de incidência baixa. Temos que ficar alertas o tempo todo. A situação é de pandemia, de perigo — argumentou.

Dados

A cidade registrava até ontem 312 casos confirmados de coronavírus; outras três amostras ainda estão em análise. Do total, 248 já são considerados como recuperados, ou seja, cumpriram o isolamento domiciliar ou receberam alta hospitalar.

A taxa de ocupação dos leitos totais (covid-19 e outras enfermidades) encontra-se em 47,6%, com 24 pacientes com o quadro sintomático para o coronavírus internados. 

Morte 

Uma mulher de 74 anos, moradora do bairro Santa Clara, foi a 11ª vítima do coronavírus em Divinópolis. Portadora de câncer de mama e doença de Crohn, ela morreu no Hospital São Judas Tadeu, por volta das 14h de ontem.

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