Essa gente brasileira

Augusto Fidelis 

Acabei de ler um livro cujo título é “História da Gente Brasileira”  - Volume 1 – Colônia, de autoria de Mary Del Priore, lançado em 2016 pela Leya Editora, de São Paulo. A obra conta a História do Brasil a partir das pessoas simples, ou seja, do povo e não das personalidades. O exame do passado é importantíssimo para se entender o presente, porque não é fácil se desvencilhar de certas heranças. 

Os primeiros colonos portugueses eram pessoas totalmente desassistidas. A Coroa lhes fornecia somente enxadas e machados, porque Dom Manoel, o Venturoso, priorizava o comércio com a Índia e o império celeste: a China. Os novos moradores, frente a frente com o desconhecido, em meio a obstáculos e incertezas, teimavam em construir uma sociedade européia sobre os ombros dos habitantes locais: os índios.

As grandes cidades portuguesas, determinadas em se livrar dos elementos que pudessem abalar a paz social, enviavam para o Brasil os indesejáveis. Tal presença nesta terra de desordeiros de toda ordem levou o Padre Manoel da Nóbrega a protestar: “Mal empregada esta terra em degredados que cá fazem muito mal”. Estes eram mais hóspedes do que povoadores, pois sonhavam encontrar alguma riqueza para que pudessem retornar a Portugal.

A Igreja Católica tencionava catequizar os índios e torná-los cristãos, mas os portugueses lutavam para torná-los escravos.  Os europeus não viam com bons olhos os índios nus, portanto, faziam de tudo para que os homens vestissem pelo menos um calção. Padre José de Anchieta conta que os jovens noivos, no dia do casamento, vestiam-se para ir à igreja pela manhã; à tarde, no entanto, saiam para passear com a esposa, todos galantes, usando apenas um gorro. 

Na dificuldade de escravizar totalmente os índios, os portugueses cederam à tentação de importar escravos da África, a partir de 1533, uma iniciativa de Pero de Goiás. Daí, a escravidão no Brasil durou mais 300 anos. Havia a possibilidade de o escravo comprar a sua própria liberdade, mas todos aqueles que conseguiam tal proeza tornavam-se eles também donos de escravos. Então, negro escraviza negro, que não se importava em ver o semelhante sofrendo os mesmos tormentos que o próprio sofrera.  

Em 1783, o viajante Juan Francisco Aguirre relatou o alto índice de corrupção entre servidores da Coroa, que cobravam propina para facilitar os negócios de pessoas inescrupulosas. Essa situação se manteve ao longo do período colonial, no Império, na República e até nos nossos dias. E ai de quem tente consertar tal situação, não consegue governar. Todos se posicionam contra: o Congresso, o Supremo, governadores, prefeitos, artistas, a mídia. A miséria dos outros tem de se manter, talvez pelos séculos, sem fim. 

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