Entrevista: “Políticos corrompidos e distantes do povo”

“Eu penso que não basta trocar o presidente, mudar todo o Congresso”, afirma juiz.

Flávio Flora

Na primeira década deste século, a ilusão do milagre econômico, de que o Brasil estava emergindo como um dos grandes países mundiais, de que ia dar certo construir um país decente, com avanços sociais, redução da pobreza e melhoras para a classe média, evolou-se como fumaça, nos últimos quatro anos. Do crescimento de 7,5% ao ano, na década de 2001-2010, para os pífios índices atuais de 1,7%, o Brasil vivencia a situação deixada pela quadrilha de trapaceiros exposta pela operação Lava Jato.

Os brasileiros descobriram que quase toda a classe política (à esquerda, à direita e ao centro), contaminou-se pela corrupção, ficando difícil encontrar algum político nacional que não tenha recebido altos subornos ou propinas. A política brasileira tem girado num cenário de recessão e degradação das condições de vida das pessoas, sob o impulso insistente de uma descarada rede de tráfico de influências.

Sem legitimidade

Em rápida entrevista com o juiz federal Francisco Eduardo Guimarães Farias, em recente visita a Divinópolis, onde já atuou por anos, como analista da Previdência, a reportagem do Agora teve a oportunidade ouvi-lo sobre algumas questões que incomodam a opinião pública brasileira. Eis alguns trechos da conversa:

Agora Que apreciação o senhor faz do Congresso Nacional, em vias de escolher indiretamente um novo presidente, caso Temer seja cassado ou venha renunciar?

Francisco Eduardo — Hoje em dia, o Congresso não goza de legitimidade e de respeito perante a sociedade, pois quase todos os seus membros estão sendo investigados ou acusados de envolvimento em corrupção, o que causa um grande dano social. Os parlamentares do Senado e da Câmaras Federal não têm condições de responder ao momento histórico. O que se vê, de dois anos para cá, noticiário em geral, são as articulações desses senhores, em Brasília, apenas tentando livrar a própria pele. O tempo todo o que se vê é isso!

Hoje, começa o julgamento da chapa Dilma-Temer, com a insinuação do ministro Gilmar Mendes, do TSE, na semana passada, de que algum ministro pode pedir vista do processo. O que o senhor pensaa respeito?

— A gente espera que, se houver mesmo pedido de vista, que esse ministro tenha a honestidade de propósito, a seriedade, de analisar rapidamente e devolver para a mesa do pleno para prosseguir o julgamento e, não, atrasar meses e meses, fingindo que está analisando um processo que já está mais que analisado. O que a Nação, certamente espera, é que esse ministro colabore para a solução dos problemas nacionais e não para o de certas pessoas.

Na sua opinião, a escolha de um novo presidente (por direta ou indireta) resolveria os problemas brasileiros mais urgentes?

— Eu penso que não basta trocar o presidente, mudar todo o Congresso... O que precisamos é de uma profunda reforma política, que mude o sistema e a maneira de se fazer política. É necessário garantir que a população vislumbre a possibilidade de interferir na formação da vontade política. Vivemos um “apartheid” político em nosso Brasil: a sociedade trabalha e produz riqueza, os políticos governam separados da sociedade, que só é chamada de tempos em tempos para escolher quem vai dirigir a coisa pública. Isso é danoso (...) O dinheiro está indo para grupos políticos que se encastelam longe de todos e se relaciona apenas com alguns poucos empresários com grandes interesses e poderio econômico para interferir na formação da vontade política. Esse sistema está errado!

 

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