Entre paredes e o Nobel

Raimundo Bechelaine

No próximo sábado, no Teatro Gravatá, será exibida uma obra do filósofo francês Jean-Paul Sartre, famosa e resistente ao passar das décadas. A realização é do Grupo Baal de Teatro, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Em momento de baixa na cultura nacional, merecem parabéns o Grupo e a Secretaria por trazer-nos um evento de alto nível.  

Nesta peça, o autor inseriu, no fim, uma de suas frases mais conhecidas: “o inferno são os outros”. O título original, “Huis clos”, foi traduzido em português como “Entre quatro paredes”.  Estreou em 1944, em Paris. Foi apresentada em 1950, no Rio de Janeiro, com Cacilda Becker e Sérgio Cardoso nos papéis principais. A direção era de Adolfo Celi. Curiosamente, a Igreja e o Partido Comunista Brasileiro tentaram impedir a apresentação. Em 56, nova montagem trazia Paulo Autran e Tônia Carrero no elenco, sob o mesmo diretor.

Este cronista viu a peça no Teatro Marília, em Belo Horizonte, há alguns anos. Na verdade, ela foi encenada no mundo inteiro. Chega agora a Divinópolis. Mas chegou antes a Carmo do Cajuru. No ano passado, por sugestão do músico e ator Bruno Aragão, o grupo cajuruense da Agefil leu e comentou a obra. Bruno atua no setor de Comunicação da Câmara de Vereadores da cidade vizinha. Para conferir, vários membros da Agefil estarão no Gravatá, sábado próximo, 8.

Quando escreveu a peça, durante a Segunda Guerra, Sartre já era reconhecido como filósofo e escritor, além de ativista político de esquerda. No ano de 1964, ele protagonizou um dos acontecimentos mais retumbantes nos meios intelectuais. Recusou o troféu mais cobiçado (e também financeiramente valioso) do mundo, o Prêmio Nobel de Literatura. É bem verdade que troféus, medalhas, condecorações, diplomas de honra e coisas do gênero têm significado questionável. Muitas vezes são usados visando vantagens para os próprios promotores e seus protegidos, para a politicagem, bajulações e outras intenções. Razão por que não costumam ser bem vistos. O verdadeiro troféu é a consistência e coerência de uma vida e obra. Isto só o tempo pode atestar. Não depende dos aplausos encomendados e do brilho de lantejoulas.

Mas o Nobel estava então no auge do seu prestígio. Sartre justificou sua atitude em delicada carta à Real Academia Sueca, responsável pelo prêmio. Naquela Academia, títulos e condecorações em nome da entidade são decididos pelos membros, e estes já haviam votado a concessão a ele. [email protected]

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