Enchentes e a falta de vontade política

Bob Clementino 

Diante do drama que famílias moradoras às margens do rio Itapecerica e de riachos estão vivendo com as enchentes, é preciso lembrar que esse caos pode ser evitado – e já foi –, aqui na cidade. Em 1985, quando o prefeito era o arquiteto e urbanista Aristides Salgado (PTB), foi criado o projeto Rio Vita que conseguiu uma draga no governo federal e desassoreou 22 km do trecho urbano do rio Itapecerica: da região chamada Prainha (logo acima da Turma) até o bairro Candelária. Com esta obra, o então prefeito Aristides aumentou em 50% a capacidade da calha do rio de conter as enchentes. Além do desassoreamento, foram construídos os talutes, que são encostas nas margens do rio, inclinadas e gramadas, aumentando a capacidade de absorção de enchentes. Mas, depois de Aristides, nenhum prefeito fez qualquer obra no rio com objetivo de minimizar os efeitos das enchentes. Daí o caos atual.

Desassoreamento do Itapecerica

A administração de Aristides Salgado, à época, dentro do Rio Vita, fez um mapeamento do rio Itapecerica desde a sua nascente até o último bairro banhado por ele. O estudo feito pelo projeto concluiu que o que estava assoreando o rio era a exploração de areia, a retirada de terra de barranco, provocando desbarrancamento e pecuária intensiva, com gado que pisoteava as margens. Já na parte urbana do rio, eram os esgotos industriais e domésticos que agravavam o assoreamento. Por isso, a opção pelo desassoreamento do rio.

Máxima cheia

Entre as muitas ações humanas erradas que contribuem para que o rio e seus afluentes riachos transbordem com a chegada das enchentes, está o desrespeito às marcas da máxima cheia. Em seu governo, Aristides, por ocasião das enchentes, marcou os pontos que elas atingiam e demarcou a máxima cheia ou até que nível as águas do rio chegavam quando as enchentes sobrevinham. Essa medida deixou apontadas para os governos posteriores quais áreas de Divinópolis eram inundáveis. Ainda assim, autorizações municipais foram dadas para construção nestas áreas. A mais conhecida e absurda foi para a construção de um shopping em área inundável. Em função da utilização inapropriada, todos os anos o local sofre com a invasão das águas do Itapecerica. As faixas marginais consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP) variam de acordo com a largura do curso d’água, medida a partir da borda da calha de seu leito regular. Caso as obras sejam feitas próximas aos riachos, nas APP, a distância permitida é de 30 metros e, para o rio, 50 metros.

Denúncias vazias

Antes da chegada das chuvas, o ambientalista Jairo Viana denunciou na Tribuna da Câmara que havia seis aterros ilegais nas margens do rio Itapecerica, desde o bairro Belvedere até o Realengo, em Área de Preservação Permanente, que poderiam contribuir para que as enchentes invadissem casas e comércios de ribeirinhos a jusante desses aterros. E, até onde se sabe, a presidência da Câmara e demais edis, apesar do alerta do ambientalista, não tomaram qualquer providência para evitar que esses aterros aumentassem o drama das pessoas atingidas pelas enchentes.

Conclusão

Como se vê, com ações que respeitem as leis federais, estaduais e até municipais por parte da Prefeitura, é possível evitar que enchentes do rio Itapecerica e seus afluentes criem todo esse caos e drama para várias famílias ribeirinhas. Essa tomada de consciência deve começar na ação individual dos cidadãos, que não devem jogar lixo nas ruas, causador de entupimento dos bueiros, responsáveis estes por conter parte da água que eleva o nível dos rios. Além disso, o lixo gerado é levado pelas enxurradas e contribui ainda mais para elevar o volume das águas. Agora, com o sistema de tratamento de esgoto que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) está construindo e com os interceptores evitando que o esgoto caia no rio, o nível da água vai baixar muito, e no fundo do rio vai ficar uma massa fétida de barro e fezes acumulada ao longo do tempo.

Torna-se, por isso, necessário e urgente outra ação de desassoreamento do leito do rio, sob pena de o Centro da cidade ser tomado por um mau cheiro insuportável.

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