Em parceria com UFSJ, Prefeitura disponibiliza consultas on-line gratuitas

Mais de 200 atendimentos já foram realizados digitalmente; objetivo é evitar que pacientes leves saiam de casa

Matheus Augusto

Desde o início da pandemia desencadeada pelo novo coronavírus, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) Divinópolis tem se mobilizado para incentivar o isolamento social. Com a reabertura parcial das atividades comerciais, no entanto, parte da população afrouxou as restrições e voltou às ruas. Agora, para evitar que os moradores deixem suas casa e se aglomerem em postos de saúde em busca de testes, a Prefeitura anunciou o lançamento de uma ferramenta on-line gratuita e via telefone para atendimento e consulta de pacientes com suspeita de covid-19.

A plataforma, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) juntamente com o Hospital das Clínicas, e contou, para implementação na cidade, com o apoio da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Funcionamento

O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. Para a diretora de Atenção Primária de Saúde, Inês Alcione, o recurso evita o deslocamento de pessoas com quadro sintomático de coronavírus às unidades de saúde em busca de diagnóstico.

— É com muita alegria que lançamos mais uma ferramenta para o enfrentamento da covid-19, onde as pessoas, no conforto de suas casas, poderão acessar esse serviço através do telefone 3229-6810 ou através do aplicativo da Prefeitura [App Divinópolis, disponível para iOS e Android] — detalhou.

Conforme relatou o infectologista e professor da UFSJ Gustavo Rocha, a maior parcela dos pacientes contaminados pelo coronavírus apresenta sintomas leves, não sendo necessário atendimento hospitalar.

— A ideia é que as pessoas fiquem em casa. A maioria dos pacientes a gente sabe que tem sintomas mais leves e não precisam, de fato, se deslocar para um serviço de saúde. Então ela pode, de casa, ter essa avaliação de saúde por uma equipe especializada de enfermeiros e médicos — destacou.

Como acessar

O secretário de eletrônica e informática, Bruno Silva, explicou que ontem foi incluída a opção do chatbot no App Divinópolis. Para acessar, o usuário precisa instalar ou atualizar o aplicativo para sua versão mais recente. O usuário deve, na tela inicial, clicar em “Serviços”, “Coronavírus” e depois em “Teleatendimento”. Na interface, similar à de uma conversa de WhatsApp, é preciso enviar uma mensagem que, imediata e automaticamente, será respondida. Serão solicitados: nome, idade, sexo e localizações. Após aceitar o termo de condições, o cidadão poderá responder se está apresentando determinados sintomas, fornecer o número para contato e, em instantes, deverá receber um ligação. 

— É muito importante, durante esse atendimento, que o cidadão forneça as informações reais — solicitou.

Bruno também contou que, se o acesso for feito fora do dia e horário de atendimento especificado, os dados serão salvos e a pessoas estará na lista de espera do próximo dia útil.

— Caso a solicitação seja feita após as 19h, o atendimento será feito no próximo dia útil. Não é preciso se preocupar, se desesperar,  pois a secretaria vai fazer o contato — explicou.

Em caso de videochamada, o solicitante receberá em seu celular um SMS com um link para acesso à videoconferência com o profissional de saúde.

Acompanhamento

Um dos pontos positivo da plataforma, ressalta Inês, é a possibilidade de acompanhar o quadro clínico do paciente.

— Aquele que apresentar algum sintoma gripal poderá entrar em contato e terá uma consulta com profissionais médicos e enfermeiros para orientação e, o mais importante, ele será acompanhado durante todo o período em que ele estiver em isolamento — destacou a diretora de Atenção Primária.

O infectologista e professor da UFSJ Gustavo Rocha, um dos coordenadores do projeto na cidade, explica que, em casos leves, os pacientes serão acompanhados ao longo de duas semanas para uma avaliação contínua do estado de saúde.

— O paciente com sintomas mais leves vai passar por uma consulta de enfermagem, depois para uma consulta médica e, se ele não tiver nenhum sinal de gravidade, ele é orientado a permanecer em casa e vai ser acompanhado pela nossa equipe ao longo do período de isolamento domiciliar, em torno de 14 dias, como recomendado pelo Ministério da Saúde. Então ele vai receber ligações a cada 24h ou 48h para ver como está a evolução dos sintomas, se está cumprindo o isolamento domiciliar, que é fundamental, e se tem algum contato domiciliar que está desenvolvendo algum sintoma — afirmou.

Durante o acompanhamento, o paciente pode ser orientado fazer um novo teleatendimento ou procurar pessoalmente um serviço de saúde.

— Se, ao longo desse acompanhamento, o paciente precisar de uma nova avaliação médica, ele novamente é encaminhado para o nosso sistema e, eventualmente, dependendo da avaliação clínica, ele é encaminhado para uma unidade básica de saúde para uma avaliação presencial ou para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O fluxo funciona desta forma — frisou.

A equipe de teleatendimento é formada por 11 médicos, 15 enfermeiros e 35 alunos da UFSJ, coordenados por ele e outros colegas.

Limitação

O infectologista reconhece que, em alguns casos, a tecnologia impede o médico de fornecer um diagnóstico preciso. No entanto, essa situação já é prevista em regulamentação do trabalho virtual.

— Obviamente, a teleconsulta, a telemedicina, tem uma limitação, pois a gente não consegue fazer um exame físico completo desse paciente. A gente tem protocolo para isso. O paciente que, por ventura, necessitar de uma avaliação presencial, será orientado pelo telefone. É enviado um link por SMS, onde ele recebe o formulário de encaminhamento para ir à UBS ou, se for necessário, em um caso mais grave, à UPA. Existe uma limitação do atendimento a distância, mas a gente sabe que, na maioria dos casos, não precisa disso e o paciente pode ser avaliado e monitorado de casa — informou.

Apesar das dificuldades, a ferramenta também permite o envio de documentos entre o profissional de saúde e o paciente.

— A gente consegue enviar para o paciente a receita médica, o atestado de saúde, (...) assim como os pedidos do teste rápido que estão sendo feitos nas unidades de saúde — citou Gustavo.

Avanço

O teleatendimento agrega ao serviço implementado na cidade desde o início da pandemia, o “Alô Corona”, responsável por tirar dúvidas sobre a doença. Agora, as ligações também poderão ser encaminhadas para os profissionais de teleatendimento.

— Neste último mês, nós já atendemos em torno de 250 pacientes. Esses pacientes têm entrada via serviço “Alô Corona”, que é um serviço oferecido pela Semusa desde o início da pandemia por telefone. O paciente pode ligar para o “Alô Corona” e, se ele tiver sintomas respiratórios, será direcionado à nossa teleconsulta. E agora, com o chatbot, ele entra no aplicativo, responde algumas perguntas e, tendo sintomas respiratórios compatíveis com a covid-19, também é direcionado para a teleconsulta — pontuou Gustavo Rocha.

E, até o momento, o resultado tem agradado.

— O projeto até hoje [ontem] tem desenvolvido essa ação de forma muito satisfatória — informou.

União

Para o infectologista, a ferramenta reforça o potencial de aprimorar os serviços de saúde por meio de parceria entre as secretarias e as universidade.

— [A parceria] mostra o papel social da universidade no enfrentamento dessa epidemia e de outros problemas de saúde e questões sociais. É muito importante essa integração entre a escola, a universidade, os serviços e a comunidade. Espero que com esse projeto a gente consiga avançar ainda mais nossas parcerias para contribuir com a melhoria da saúde da população — explicou.

O coordenador do centro de telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG e da rede de telessaúde de Minas Gerais, Antonio Luiz Pinho Ribeiro, não conseguiu participar da transmissão virtual de lançamento da ferramenta da cidade, mas enviou um vídeo celebrando a adesão.

— Nós participamos dessa empreitada fornecendo o sistema que corre por trás de todo esse atendimento de telessaúde que nós chamamos de TeleCovid-19 e também com o chatbot, que é parte dessa autoavaliação que a pessoa com suspeita de covid ou com dúvidas sobre a doença pode fazer — disse.

Similar ao raciocínio de Gustavo, ele também diz esperar que parcerias como esta sejam cada vez mais comuns.

— Temos muita expectativa sobre esse serviço. Acreditamos que pode ser um ganho substancial para o embate à pandemia de uma forma geral e esperamos que colaborações com essa continuem a acontecer e a gente consiga utilizar as ferramentas de saúde digital para garantir que as pessoas vivam melhor e tenha mais acesso aos serviços de saúde — complementou.

Contribuição

A ferramenta, destacou o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, é mais uma forma de enfrentamento à pandemia, mas não substitui todas as orientações determinadas até o momento.

— Eu reforço o pedido de isolamento social. A taxa de isolamento social é um dos índices que dita as regras de flexibilização ou restrição à mobilidade social. Portanto, se conseguirmos ficar em casa o máximo possível e sairmos apenas quando houver necessidade, esse índice de isolamento aumenta e favorece toda a cidade porque a gente consegue controlar os números que nossa matriz de risco traduz em ações — finalizou.

Dados

Divinópolis havia registrado até ontem 3.166 casos suspeitos de coronavírus. Desse total, 579 foram testados: 330 positivos (260 já recuperados), 243 descartados e seis em análise. 11 pessoas já morreram pela doença. 

Ainda de acordo com o boletim, a cidade tem 33 pacientes com quadro sintomático para covid-19 internados no setor de enfermaria e 24 em Centros de Terapia Intensiva (CTIs). A ocupação total dos CTIs está em 55,2%.

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