Em greve, trabalhadores da Cemig em Divinópolis lutam contra venda da estatal

Da Redação

Desde esta quarta-feira, 6, os trabalhadores da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) – através do Sindicato da classe, o Sindieletro – declararam greve da categoria. Em Divinópolis, o movimento teve início às 7h, em frente à sede da empresa, na rua Itapecerica.

Os trabalhadores reivindicam a preservação de direitos e se posicionam contra a privatização da estatal, que já vem sendo desenhada pelo governo do estado, Romeu Zema (Novo). A medida, segundo os servidores, promete precarizar as relações de trabalho e trazer prejuízos ao povo mineiro, já que um serviço essencial estará nas mãos do capital privado que muitas vezes não honra a qualidade da prestação de serviços.

De acordo com Alair Araújo, coordenador da Regional Oeste do Sindieletro, a greve está acontecendo, praticamente, em todo o estado.

— Hoje estamos com uma reivindicação da classe trabalhadora, a nossa pauta foi entregue para a gestão da Cemig no dia 13 de agosto e a empresa somente chamou para negociar dois meses depois. A primeira reunião aconteceu em 3 de outubro e a
Cemig já encerrou o diálogo, já travou qualquer tipo de negociação e, infelizmente, a categoria não teve outro caminho que não fosse a greve — explicou o líder sindical.

O representante destaca que a pauta de reivindicação dos trabalhadores contém 17 itens que, praticamente, não trazem custo nenhum para a empresa, mas a direção da empresa quer a retirada de direitos.

— Ela garante o INPC, o restante é retirada de direitos. Ela quer a implantação da reforma trabalhista no nosso acordo coletivo, seria a quitação plena, a redução do
valor das horas extras. Hoje, a nossa hora extra é um pouco mais cara justamente porque foi a forma que encontramos para que a Cemig pudesse abrir concurso público, contratar novos trabalhadores, evitando que a pressão para que os trabalhadores prolongassem sua jornada de trabalho — explicou.

Ele denuncia ainda que há trabalhadores dentro da empresa autorizados a fazer 12 horas de trabalho por pressão das gerências.

— Nós estamos assim em um processo que, infelizmente, é da destruição do acordo coletivo de trabalho do pessoal da Cemig — disse.

Protesto

A greve também teve espaço para protesto contra a proposta de privatização da companhia. Com faixas, o sindicato destacou que a medida prejudica a população e quem vai pagar a conta é o cidadão com o encarecimento do serviço e a queda na qualidade.

— Infelizmente, estamos com um governo que não leva a sério as empresas públicas, principalmente a Cemig, Copasa, Gasmig, Codemig. São empresa que trabalham para trazer o desenvolvimento do estado e o governo acha que são um entrave. Já houve declarações diversas, em todos os cantos do estado, sobre essa questão. Ele quer de todo jeito entregar a Cemig, a Copasa, e essa posição faz a gente desconfiar que ele tem interesse nessas privatizações, o interesse de adquirir alguma fatia, alguma coisa, porque não tem condição, é um governo que desdenha o tempo inteiro da empresa — declarou.

Pressão

Alair denunciou também a pressão que os trabalhadores estão sendo submetidos para que aceitem o acordo que traz retrocessos para a categoria e para a não adesão ao movimento grevista.

— Ontem, companheiros, que estavam aqui na greve, receberam ligações de dentro da empresa para que eles retornassem para o trabalho, é uma prática antissindical. A pressão que a Cemig está fazendo lá dentro é muito velada, porque a direção está chegando, reunindo os trabalhadores, fazendo pressão para que aceitem a proposta com retirada de direitos. Ela está fazendo pressão para o trabalhador entrar e logo, em
seguida, bater o ponto, porque se ele não bater o ponto as horas vão ser cortadas. Tivemos trabalhadores que ficaram 15 minutos aqui fora e foi cortado o tempo dele — denunciou o dirigente.

Alair disse que o movimento em Divinópolis está sendo construído e que alguns trabalhadores não estavam na porta da empresa durante o protesto, mas aderiram à greve ficando em casa, tanto os que trabalham na sede na rua Itapecerica como na Usina do Gafanhoto.

— O movimento continua, ontem nós iniciamos nossa greve, entramos na Justiça, no TRT, com o dissídio coletivo de trabalho, agora estamos aguardando o que a Justiça vai definir. Tem rumores que hoje poderia acontecer uma negociação, mas sabemos perfeitamente que a Cemig, assim como ela fez em outras reuniões anteriores, vai somente para enrolar e não apresenta nada. Ela quer que o trabalhador e o sindicato aprovem uma proposta com retirada de direitos — disse.

Agências

Questionado se as agências de atendimento estão fechadas ao público, Alair disse que não, pois muitas foram terceirizadas.

— Elas estão funcionando, porque isso é um projeto que a Cemig executa, em longo prazo, de terceirização dessas agências. Hoje, não tem trabalhador da Cemig nessas
agências, são como uma franquia, e se o dono não consegue bater a meta, no próximo contrato ele não estará mais. Antes a agência era aqui no prédio, agora está em um local privado e os consumidores ficam a mercê de um atendimento, que não é aquele atendimento que ele esperava, de ser atendido por um profissional da Cemig. A rotatividade é muito grande, os salários são baixíssimos e os trabalhadores são totalmente explorados. O consumidor não pode ficar um tempo excessivo para tirar suas dúvidas a respeito de uma solicitação porque o atendente tem que despachar esse consumidor. O cidadão não pode ficar mais que cinco, dez minutos na mesa do atendente — criticou.

Mobilização

Alair finalizou dizendo que os trabalhadores estão mobilizados e unidos e que realmente é difícil lutar contra um sistema totalmente desigual, mas o Sindieletro continuará firme para garantir o direito dos seus representados.

— Com a aprovação da reforma trabalhista e agora com a reforma da previdência, o trabalhador se sente muito acuado, mas nós estamos dispostos

a fazer essa luta contra a retirada de direitos, contra a implantação da reforma trabalhista em nosso acordo coletivo e também para poder fortalecer os trabalhadores contra todas essas retiradas de direito a nível nacional e estadual — finalizou.

Sintram

O vice-presidente do Sintram, Wellington Silva, que também representa o sindicato no Movimento Unificado de Divinópolis, lutando contra a privatização das estatais, esteve presente apoiando os trabalhadores da Companhia.

— Nós, da diretoria do Sintram, temos o posicionamento sempre solidário aos companheiros de outras categorias e não é diferente com o pessoal da Cemig, do Sindeletro, que sempre foram nossos parceiros de luta. Com relação à privatização da Cemig, nós, da diretoria do Sintram, somos totalmente contra. Ao contrário do que o governo sempre prega, que a privatização vai favorecer a população, nós entendemos que é justamente o contrário, a privatização vai precarizar o serviço, a qualidade do serviço vai cair, além de encarecer — disse.

Repressão

Wellington lamentou a postura da gerência da Cemig, unidade Divinópolis, visto que no momento do protesto haviam três viaturas da Polícia Militar, sendo que o movimento era totalmente pacífico e ordeiro, não havendo necessidade de tamanho aparato policial. 

— Deparamos com um aparato policial, com três viaturas, que foram acionadas pelos gerentes da unidade, segundo informações dos companheiros do Sindieletro. Lamentamos demais a forma como o gerente e o governo vêm lidando com essa situação de greve, que é um de direito do trabalhador, do movimento sindical, de parar as atividades quando as coisas estão desfavoráveis para a classe trabalhadora. Estamos vivendo um período tenebroso, onde o diálogo ficou em segundo plano, agora a base é da repressão, de tentar intimidar, mas eles se enganam porque o movimento sindical nunca teve vida fácil, o sindicato foi moldado através da luta, da resistência e não será diferente agora — frisou o líder sindical.

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