Em clima de consternação, parentes se despedem de vítimas em Brumadinho

Anna Lúcia Silva

Nos últimos dois dias, Brumadinho tem se dividido em meio ao clima hostil das buscas por desaparecidos e as despedidas das vítimas que tiveram suas vidas levadas pela enxurrada de rejeitos de minério. Durante todo o dia de ontem, um alto-falante anunciava a morte daqueles que foram vítimas de uma tragédia reincidente. 

Pelo menos três pessoas foram enterradas nesta terça nos cemitérios de Brumadinho, que ao todo somam 10. Nas despedidas realizadas no Cemitério Municipal o clima era de muita consternação, dor e desespero. Em um velório que fica ao lado, centenas de parentes e amigos deram o adeus a Edmayra Coelho. Uma funcionária de uma empresa terceirizada. No momento da tragédia, ela estava no refeitório. Além dela, Janice Helena do Nascimento também foi enterrada nesta terça.

No cemitério Parque das Rosas uma equipe com seis funcionários abriu 98 novas covas em medida de adiantamento, para receber as vítimas. Segundo o coordenador dos cemitérios municipais da cidade, José Estáquio da Silva, os locais estão preparados para receber as vítimas e realizar os enterros sem demora, como orientou o Instituto Médico Legal (IML).

 — Nós estamos trabalhando para adiantar os sepultamentos e, assim eles ocorrerem, sejam o mais breve possível. É uma situação de extrema tristeza. Um clima de guerra, assim como na Síria, helicópteros passando a todo momento, número de mortos aumentando constantemente. Todos os nossos dez cemitérios aqui na cidade estão preparados para os sepultamentos e acolhimentos às famílias —, contou o coordenador.

O drama de quem só quer se despedir

Lenita Maria da Conceição tem um primo que também foi vítima da lama e está desaparecido. Ele trabalhava no transporte de materiais da Vale e mesmo já tendo se passado cinco dias do rompimento a família aguarda por notícias.

— Como a gente sempre fala: a esperança é a última que morre. Mesmo que seja angustiante, vamos ter esperança. Toda a família vai ficando adoecida. Queremos acreditar que ele será encontrado com vida, mas ao mesmo tempo a gente sabe que quanto mais o tempo passa mais difícil fica. A gente nem sabe o que pensar mais, só esperar —, disse.

Como Lenita relatou, a cada hora que se passa fica mais difícil, mas a dor parece mais forte e o que todos querem é a oportunidade de despedir dos entes queridos.

— Viva ou morta eu e minha família queremos minha irmã. Queremos ter a dignidade de nos despedir dela se não a encontrarem com vida. A Vale manchou de sangue uma Minas Gerais que se quer se recuperou das 19 mortes em Mariana e já fez muito mais vítimas. Essa tragédia humana vai ficar para sempre na história dessa mineradora que visa o capital e desqualifica a vida humana —, disse Willian Martins, irmão de uma adolescente de 16 anos desaparecida.

 

Óbitos: 84

Identificados: 42

Desaparecidos: 276

Localizados: 391

Comentários