E a chance de ficar calado?

Existe um ditado popular que diz o seguinte: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”. Após dita a palavra, não tem como voltar atrás e, se ela não for bem dita, bem expressada, abre-se então a oportunidade para qualquer interpretação. Afinal, o ser humano é responsável por aquilo que ele fala e também pelo o que o outro interpreta. Mas no cenário político de Divinópolis, principalmente na Câmara, o que mais se vê é vereador perdendo a oportunidade de ficar calado.

Sem um repertório interessante, com fatos relevantes, os parlamentares apelam para todos os lados e, muitas vezes, falam o que não devem. Porém, depois que a palavra é dita e a oportunidade perdida, o jeito é aguentar, porque foi-se aberto espaço para qualquer interpretação.

No dia 22 de maio, o discurso do vereador Ademir Silva (PSD) chamou a atenção. Em seu pronunciamento, o parlamentar admitiu que trocava votos pró-Galileu por obras em sua região. O Agora reportou o fato, com base nas palavras do próprio parlamentar e, em consequência, a Associação dos Advogados do Centro-Oeste de Minas (AACO) irá denunciá-lo à Comissão de Ética da Casa. Motivo: o vereador é nada mais, nada menos que o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que irá investigar os áudios entregues por Marcelo Marreco e que envolvem o prefeito de Divinópolis, Galileu Machado (MDB). Exercendo o básico do jornalismo, este diário procurou o parlamentar e lhe deu a oportunidade de se explicar melhor no mesmo dia, mas ele reforçou as palavras ditas em seu discurso.

Nessa quinta-feira, 14, Ademir tentou explicar o inexplicável. O parlamentar usou a manchete do Agora, “Presidente de CPI é alvo de denúncia”, e disse estar sendo vítima de uma intimidação. Ademir seguiu a linha dos colegas e levantou várias suspeitas contra a AACO, esquecendo-se que na verdade quem tinha perdido a oportunidade de não lançar a palavra era ele mesmo, e que a associação estava apenas cumprindo o seu papel.

O vereador tentou mais uma vez explicar a sua fala do dia 22 de maio, e acabou usando as seguintes palavras: “Não existe troca de votos quando somos atendidos”. Mais uma vez o parlamentar, que já se envolveu em outra polêmica por causa de um discurso (quem não se lembra do episódio do “sacrifício” de animais?), perdeu a oportunidade de não pronunciar a palavra. E o resultado: enfiou os pés pelas mãos, ou como ele mesmo diria “se estrumbicou”.

Há outro ditado bem conhecido também que diz que, em boca fechada, não entra mosquito. Mas na Câmara há bocas bem povoadas de mosquitos. Os vereadores falam, fazem e depois tentam consertar o “inconsertável”. Insistem na velha tática de desqualificar o denunciante, e não a denúncia. Assim o fizeram com Marcelo Marreco, assim estão fazendo com a AACO e, muitas vezes, com a imprensa, quando alguma matéria que não os agrada é publicada, mesmo baseada nas próprias palavras dos parlamentares. Chega a ser doentio este jeito de fazer política que parte dos vereadores adotou em Divinópolis. Esquecem-se dos verdadeiros culpados, criam fatos, desmoralizam o denunciado e depois sentam em suas cadeiras com aquelas carinhas de “cachorro que caiu da mudança”.

Esse modo de agir só mostra que alguns vereadores estão longe de assumirem a responsabilidade do que dizem na Tribuna Livre. E também de aproveitarem a oportunidade de ficarem calados e trabalharem de verdade por Divinópolis.

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