Donos da construtora RBH são ouvidos pela primeira vez

Matheus Augusto

O corredor do Fórum em Divinópolis, onde fica a 3ª Vara Criminal, esteve movimentado ontem à tarde. Cerca de 20 credores foram ao local para acompanhar a audiência que ouviu os proprietários da construtora RBH e envolvidos no caso da venda de imóveis, que já haviam sido pagos no total ou boa parte, pelos clientes, mas não foram entregues. A audiência se estendeu durante toda a tarde e foram ouvidos todos os cinco acusados pela Polícia Civil (PC): o casal Péricles Hazana Marques Junior e Sandra Mara de Oliveira Marques, o filho Rafael Marques, a sobrinha Gabriela Barros Brandão, e a irmã de Sandra, Heloísa Helena de Oliveira.

Os depoimentos começaram às 13h15 e terminaram por volta das 19h. Para que o processo termine, ainda é necessária a apresentação das alegações finais de ambos os lados (acusação e defesa) para que o juiz emita seu parecer e marque o julgamento.

A Polícia Civil estima um prejuízo de cerca de R$ 60 milhões.

Caso

O Agora conversou ontem com a enfermeira Juliana Moura Maia, umas das prejudicadas pela construtora. Ela contou que fez um investimento de R$ 750 mil em uma cobertura no prédio Londres. No entanto, Juliana vê distante a perspectiva de ter o valor ressarcido.

— Não tenho mais esperança de receber um “tostão” do valor investido — explicou.

História

A construtora RBH encerrou, em setembro de 2018, suas atividades. Mas o nome da empresa ainda continuou em pauta pelos meses seguintes. O desenrolar da história começou em 12 de setembro de 2018, quando um grupo de clientes compareceu à Polícia Civil para denunciar o prejuízo que tiveram com o fechamento da RBH.

Na oportunidade, as investigações apontaram que três prédios – Londres, Benfica e Paris – num total de 80 apartamentos, foram comercializados, porém não chegaram a ser concluídos. Um estava em fase de acabamento, outro com duas lajes e o terceiro apenas na planta. Algumas pessoas faziam o pagamento parcelado, enquanto outras já haviam quitado o preço total do imóvel. Os valores variam entre R$ 50 mil e quase R$ 1 milhão.

Prisões

O casal Péricles Hazana Marques Junior e Sandra Mara de Oliveira Marques, e o filho Rafael Marques, foram presos em 21 de setembro do ano passado, em Itajaí, em Santa Carina. Como aponta o relato de funcionários, os três deixaram Divinópolis sem informar o destino ou emitir qualquer comunicado para eles e os clientes. Na cidade catarinense, eles abriram uma empresa de cosmético no valor de R$ 169 mil. Seis agentes da Polícia Civil em Divinópolis foram até Itajaí para conduzir os acusados até Divinópolis, onde chegaram na madrugada do dia 28 de setembro de 2018.

A PC também prendeu, em 25 de setembro do mesmo ano, em Belo Horizonte, Gabriela Barros Brandão, sobrinha do casal dono da construtora. Ela é apontada pelas investigações como “laranja” no caso, pois sua conta era utilizada para depositar o dinheiro da venda dos imóveis.

A irmã de Sandra, Heloísa Helena de Oliveira, responde ao processo, desde o início, em liberdade.

A Polícia Civil (PC) finalizou o inquérito em 28 de setembro e indiciou os cinco envolvidos por estelionato.

Cerca de dois meses após a prisão, desde dezembro, o casal Péricles Hazana Marques e Sandra Mara de Oliveira Barros, e o filho Rafael Barros Marques respondem em liberdade. Após três pedidos de soltura negados, na quarta tentativa, os três foram soltos mediante o pagamento da fiança de R$ 35 mil. A decisão, assinada em 29 de novembro do ano passado pelo juiz Christiano de Oliveira Cesariano, libertou os acusados do presídio Floramar, onde estavam desde o fim de setembro de 2018.

A também acusada e sobrinha do casal, Gabriela Brandão Martins também foi liberada após o pagamento de fiança.

A alegação da defesa no pedido de liberdade acatado era de que os acusados não ameaçavam a continuidade do processo e já haviam feito os acertos trabalhistas com os ex-funcionários da empresa.

Audiência

Os trabalhadores e clientes da construtora participaram, em 10 de outubro de 2018, de uma audiência na Justiça do Trabalho. Nos dois dias anteriores, 8 e 9, o setor ouviu os depoimentos de funcionários e clientes da RBH. Na época, de 44 reclamatórios, foram fechados entre 20 e 25 acordos. Como reportado pelo Agora, que acompanha o caso desde o início, a advogada dos proprietários garantiu que a empresa acertaria com as pessoas que se sentiram lesadas. Para quitar as dívidas, a Justiça usa o dinheiro bloqueado dos proprietários.

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