Dona Sãozinha do Concesso

Assim que casei com minha Cleide, por força do destino, viemos morar aqui pertinho do Mercado Municipal, um delicioso lugar, marcado por uma energia diferenciada. Um local perto de um antigo cemitério, que virou Mercado, de uma antiga igreja, e logo ali, na entrada da zona, quer coisa melhor? Falo muito que o povo daqui é lutador, unido e muito feliz. A força positiva está no ar.

Aqui, as ruas são estreitas e marcantes, a parte antiga da nossa terrinha. Todo mundo conhece todo mundo e o que não falta são histórias, das mais simples às mais cabeludas.

Como em toda comunidade, existem aquelas pessoas marcantes, gente que só de existir já acontece.

Quando cheguei, fui mais ou menos adotado por toda a vizinhança. Criamos lastros e nos tornamos parceiros e, em muitas vezes, cúmplices. A vida é feita para ser deliciosamente vivida.

Uma dessas famílias que mais nos aproximamos foi os Santos, chefiados por sua matriarca, dona Sãozinha do Concesso.

Nossas casas faziam a divisa no fundo do quintal; na época, com um muro bem baixinho de placas pré-fabricadas. Ali, conversávamos de tudo e, em muitas vezes, após alguma chuva forte, tínhamos que refazer o famigerado muro.

Dona Sãozinha era um tipo de mulher que nasceu para ajudar o próximo. Dizem que, antigamente, na época da zona boêmia, tinha o maior respeito das mulheres da vida, fornecendo em sua venda o que precisassem, coisa que na época era raro, pelo preconceito da sociedade.

Quando a conheci, já era muito amiga da minha mãe e prestavam um serviço de grande valor: costuravam para os pobres no espaço da Sociedade São Vicente de Paula; davam apoio a gestantes, a maioria mães solo; costuravam enxovais para os recém-nascidos, um lindo trabalho com bordados e um acabamento de primeira; angariavam produtos de primeira necessidade e distribuíam cestas básicas.

Foi uma mãe zelosa e exigente, brava mesmo, mas sempre com um sorriso no rosto. Soube criar seus rebentos, Mirna, Miria e Edson Gil, foi uma vó apaixonante e uma deliciosa bisavó.

Plantou uma semente forte que gerou bons frutos, deixou uma deliciosa sombra que acalenta a todos que vivem em sua volta.

Ficamos agora com deliciosas recordações. Aquele degrau da descida da rua Cristal agora está vazio. Aquela deliciosa senhora, que ali sentava observando a tudo e a todos, partiu para um lindo lugar chamado céu, merecidamente, ao lado direito do Criador. Pessoas boas e marcantes não morrem jamais, viram estrelas e continuam sempre a brilhar.

E eu continuo na luta realizando sonhos e sendo feliz. Tok Empreendimentos, rua Cristal, 120, Centro.

 

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