Dólar valorizado: bom para quem?

Euler Antônio Vespúcio 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, obteve êxito na aprovação da reforma da Previdência, mas sua promessa de isso ocasionar uma avalanche de investimentos não se concretizou, pelo contrário, em 2019 tivemos uma grande evasão de divisas (cerca de 40 bilhões de dólares).

Ele tomou medidas para incentivar o emprego, mas o Brasil tem se notabilizado como um país do trabalho informal.

Na verdade, todas as melhorias econômicas vieram da queda da taxa Selic, efetivada pelo independente Banco Central.

No dia 12 de fevereiro, o ministro apresentou novas falas infelizes. Afirmou ser o cenário de dólar alto é melhor do que “juro na lua e câmbio baixo, desindustrializando o Brasil”. A seguir disse “juro mais alto é bom para todo o mundo” e que quando tínhamos o real valorizado estava “todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma farra danada”. Essa fala merece reflexão.

É uma falácia considerar ser o câmbio alto bom para todos. Mudanças em suas cotações somente são boas para incrementar os ganhos especulativos dos operadores do mercado financeiro.

Teoricamente, o câmbio alto causa aumento das exportações e diminuição das importações, mas em janeiro de 2020 tivemos déficit na balança comercial, cerca de US$ 1,5 bilhão, o pior resultado nos últimos cinco anos, fruto da desaceleração mundial, da guerra econômica (EUA e China) e ameaça de epidemia do coronavírus.

No geral, o povo é o mais afetado pelo incremento dos preços causado pelo aumento da cotação do dólar, principalmente os reflexos do encarecimento dos insumos importados.

Além disso, não se pode esquecer estar o cálculo dos preços dos combustíveis vinculado à cotação do próprio dólar, logo, poderemos ter aumentos dos preços dos combustíveis, com repercussão inflacionária na economia. Renasce o receio de uma nova greve de caminhoneiros e vem à lembrança os efeitos da de 2018, quando ficou evidenciada a nossa dependência do transporte rodoviário. Essa greve foi apoiada por Jair Bolsonaro, mas esse agora já se desdobra para evitar uma nova greve (durante o seu governo).

Sobre a fala preconceituosa, ao desmerecer o fato de até empregadas domésticas, em um cenário de real valorizado, terem viajado para a Disneylândia, Guedes denota não aceitar o acesso das classes simples a serviços e até turismo, mostra o pouco caso do atual governo com as classes mais humildes, evidenciado também em outras ocasiões, como no atraso no pagamento dos benefícios da Previdência de mais de 2 milhões de cidadãos.

Infelizmente, existem previsões de o dólar chegar a valer R$ 5 até o fim do ano. Refuto o ministro, isso não pode ser necessariamente bom para o Brasil, certamente teremos muitos vencedores (especuladores) e sofrimentos para os perdedores (alta do custo de vida). No geral, o dólar alto reflete as limitações do projeto econômico de Guedes e as dificuldades mundiais atuais.

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