Doenças renais avançam entre mais jovens

Gisele Souto

Pessoas que fazem hemodiálise na Nefrologia do Hospital São João de Deus e até quem trabalha no local afirmam estar surpresos com a quantidade de jovens que vêm realizando o procedimento. Não há uma estatística do total nem por parte da Associação dos Doentes Renais e Transplantados do Centro-Oeste (Adortrans), mas o que se sabe é que são muitos e com idade que varia de 21 a 30 anos.

O espanto se justifica porque, apesar de a Insuficiência Renal Crônica (IRC) acometer crianças e adolescentes, com mudanças significativas em vários aspectos da vida, como no convívio social por causa das dietas específicas e do compromisso com o tratamento, sempre foi mais comum em pessoas mais velhas. É o que afirma o presidente da Adortrans, Maldo Oliveira, que há dez anos faz hemodiálise.  Ele conta que costumava dividir as horas de procedimento com pessoas mais ou menos da sua idade, acima dos 40 anos ou mais velha, mais de 50, 60, mas agora, de forma surpreendente, esbarra sempre com muitos jovens. Ele teme que este número aumente ainda mais, principalmente por causa da alimentação atualmente, carregada de corantes, conservantes, entre outros. Maldo destaca ainda o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas e anabolizantes.

Quase mil na fila

Atualmente, cerca de 250 pessoas fazem hemodiálise na Nefrologia em três turnos. São pacientes de diversas cidades da região e de Divinópolis. Enquanto isso, conforme o presidente da Adortrans, aproximadamente 800 aguardam em ambulatório uma vaga. Esses pacientes, segundo ele, fazem exames todos os meses, seguem uma dieta rigorosa e tomam diversos medicamentos enquanto aguardam. Sem contar os que fazem diálise, hoje em torno de 70. Estes ficam em casa, onde passam pelo procedimento todos os dias. Já na hemodiálise, o portador de doença grave ou que, às vezes, irreversível, que só o transplante resolveria, faz três sessões de quatro horas por semana. O ideal, de acordo com Maldo, são quatro horas na máquina, porém ele observa que alguns jovens não dão conta de ficar todo o tempo, permanecendo apenas três ou duas horas. Ele explica ainda que a demanda para Divinópolis poderia ser menor, caso outras cidades que dispõem do tratamento, como Bom Despacho, tivessem três turnos. Porém, são apenas dois.

Urgente

Entre os pacientes que estão na Nefrologia, um em especial chama atenção pela necessidade urgente de um transplante, única saída para seu estágio da doença. Com pouco mais de 50 anos, pediu para não ter o nome revelado e relatou não ver a hora de conseguir um órgão. O problema é a dificuldade para encontrá-lo. Ele revela que sabe do esforço do hospital para conseguir, porém tem consciência de que poucas pessoas estão dispostas a fazer este ato de caridade. Maldo Oliveira concorda. Ele afirma que o assunto ainda é um tabu, muitas pessoas têm medo e outras não querem mesmo.

— Acredito que esta realidade vai mudar só quando todo mundo tiver consciência da importância da doação — resume.

Ajuda

Pacientes que realizam o tratamento precisam de suplementos e outras formas de ajuda, tendo em vista que, segundo o presidente da Adortrans, a maioria é carente. Além disso, eles precisam de ajuda também para o transporte e até cestas básicas. Com o objetivo de arrecadar recursos para este fim, será realizado um jantar beneficente hoje.

— Aliado a isso, precisamos terminar as obras da nossa sede, que servirá, principalmente, para pessoas que vêm de fora. Quem puder colaborar é só ligar no 3215-1284— pede Maldo Oliveira.

 

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