Do vírus da ignorância

Calixto Sávio Domingos

       A ignorância é um malefício social facilmente propagado pelo vírus midiático. E como tem contaminado pessoas pelo Brasil afora. A contaminação é tanta que a sensação que se tem é de se fazer parte de um episódio qualquer de Walking Dead.

       A questão chega próximo ao absurdo quando o tema é doença e vacina. Ora, o Brasil já passou por uma famigerada “revolta da vacina”, mas isto no início do século XX, mais precisamente no ano de 1904, Rio de Janeiro, numa campanha contra a peste bubônica – vinda de ratos – muito precária.

       Evidentemente que as pessoas da época não tinham a menor noção do que era aquela doença. Até o nome já era assustador para a população e muitos eram conduzidos à força. A seringa utilizada não era descartável e era uma enorme vergonha para as mulheres serem vacinadas nas nádegas. Mas, afinal, era começo do século.

       Ocorre que mais de um século depois, em 2016, precisamente às 18h15 do dia 23 de julho, um pseudofilósofo chamado Olavo (...Aquele mesmo que disse que a terra é plana) publicou nas redes sociais o seguinte: “Vacinas matam ou endoidam. Nunca dê uma a um filho seu.  Se houver algum problema, venha aqui que eu resolvo”. É ou não uma sensação de zumbilândia?

       A ignorância zumbi do momento se volta para o tal coronavírus, o qual é produto de mutações do vírus da gripe e, por conseguinte, é uma nova espécie de gripe.

       Quem disse que não devemos nos preocupar com as velhas gripes? Dependendo das condições imunológicas de uma pessoa, qualquer gripe pode matar. E a gripe continua matando milhares de pessoas todos os anos, tanto mais nos casos em o quadro evolui para a pneumonia e, muitas vezes, por falta de devida assistência hospitalar no país, absurdamente precária.

       Já houve um coronavírus em 2002 na mesma Ásia, e outro em 2013 no Oriente Médio. O vírus da gripe está sempre em mutação e provavelmente a doença já teria sido identificada na Grécia antiga em 412 a. C. por Hipócrates e são tantas mutações que a gripe é ainda chamada de influenza, porque se achava que ela sofria a influência dos astros nos casos epidêmicos

Mas agora o vírus da ignorância se manifesta contra a China e contra os chineses, o que é aviltante, próprio da ignorância midiática. A China é uma potência que está a incomodar o país hegemônico no mundo e, seguramente, interesses desse país estão produzindo todo esse alarde.

Em apenas dez dias, a China construiu um hospital especializado no coronavírus. O centro médico de Huoshenshan tem mais de 1,4 mil médicos empenhados na pesquisa e tratamento da doença numa área de 25.000 m², tudo para receber mil pacientes por vez, sem se falar no centro médico de Leishenshan que está quase pronto, em proporções igualmente gigantescas.

Há brasileiros na China que pedem para serem trazidos para cá, numa espécie de resgate heroico. Que pensem bem. Por aqui se sabe exatamente o que o governo não faz em termos de Saúde e Educação. Acautelai-vos!

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