Divinopolitano lança livro de crônicas

Publicação apresenta as lendas dos personagens do folclore brasileiro por meio da literatura fantástica

Da Redação

Não é de hoje que a mitologia de outros países se introduziram na cultura brasileira por meio da literatura. Um grande exemplo disso são os livros do autor norte-americano Rick Riordan, que escreve e se apropria das histórias gregas para criar seu vasto universo da série “O ladrão de raios”, ou até mesmo a britânica J.K. Rowling, que usou a mitologia dos mais diversos países para criar a saga mais conhecida do mundo, Harry Potter.

Certamente muita gente já deve ter ouvido falar na Cuca, ou no Curupira, e até já leu algo sobre a Iara em algum livro infantil. Esses personagens, como muitos outros, fazem parte do folclore, apresentados ainda nas escolas infantis. 

Real?

Nesse sentido, muitas pessoas são convidadas a embarcar na nova obra do autor divinopolitano Gusttavo Majory. Com seis anos de carreira, o escritor coleciona mais de dez publicações, destinadas ao público infantil e infanto-juvenil. O autor participou dos maiores eventos de literatura do país, como a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, a Flopoços e até da Feira Internacional do Livro de Lisboa. Agora, depois de um hiato de publicações solos, Majory retorna com “As Crônicas de Teçá, o colar mágico”.

Obra

A obra teve início em meados de 2015 e foi pensada para ser apenas um conto, o qual deveria ter sido submetido em um concurso literário em novembro daquele mesmo ano, mas, segundo o autor, seria impossível contar em apenas quatro páginas. Os personagens foram ganhando espaço na narrativa a cada novo acontecimento do enredo, o que fez o escritor desistir do concurso e seguir contando a história de Teçá.

Após cinco anos de muito trabalho e pesquisa que serviu como base para a concretização do sonho do autor, finalmente nasce Teçá, com o incentivo da Lei Federal Aldir Blanc por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Divinópolis, que visa estimular a cultura no período da pandemia de covid-19. O livro apresenta as lendas dos personagens do folclore brasileiro por meio da literatura fantástica, em que a narrativa é elaborada pelo imaginário, com um universo supostamente inexistente na realidade, um gênero que atrai muita atenção do público jovem.

— Nosso folclore é um dos mais ricos do mundo. Temos mais de 300 personagens catalogados em diversos livros com as mais diversas variações. Escrever Teçá foi uma explosão de dúvidas sobre qual personagem usar e como recontar aquelas histórias que de certa forma já são conhecidas — conta o escritor divinopolitano Gusttavo Majory.

Projeto

Além da publicação, o livro vem acompanhado do projeto “Teçá: de olho no folclore”, que busca ampliar a relação entre os jovens com o universo da literatura nacional, fazendo com que se desperte o interesse pela cultura popular, desenvolvendo seu vocabulário, o senso crítico, o pensamento lógico, o autoconhecimento, a imaginação, estimulando um caminho infinito de descobertas dos costumes regionais e compreensão da sociedade, conforme o autor, o que consequentemente faz com que os personagens da cultura popular não caiam no esquecimento.

— Quero que o folclore deixe de ser visto apenas em 22 de agosto e, mais ainda, quero que as pessoas deixem de ver nossos personagens como algo infantilizado, nosso folclore é muito mais do que isso, ele é a nossa história, nossos costumes, nossas crenças. Temos que parar de ver a grama do país vizinho e dizer que ela é mais verde quando a nossa grama dá espaço para o nascimento de árvores que dão os mais deliciosos e diversificados frutos — detalha o escritor. 

Ambientação

Um ponto a se destacar, além da sua temática, é a ambientação da história em que, diferentemente da maioria dos livros nacionais que se passam na região Sudeste, somos levados para a pacata cidade de Itamarati, no interior do Amazonas, que conta com pouco menos que oito mil habitantes.

— Desde o seu início, lá em 2015, nosso Teçá já era amazonense. Agora, mais do que nunca, vejo que ele está nascendo no tempo certo. Antes mesmo de acontecer tudo que aconteceu com o Amazonas em decorrência da pandemia, eu já tinha a necessidade de fazer a população brasileira voltar seus olhos para a região Norte. A centralização econômica e cultural na região Sudeste, precisamente Rio e São Paulo, faz com que se reforce o estereótipo de que o Brasil se resume apenas a essas duas cidades, sendo que somos muito mais plurais do que isso — conta o autor.

Aval

O livro conta também com o “aval” de dois grandes nomes ‒ na orelha, podemos encontrar um texto referente à obra escrito pela especialista em teoria literária e professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro Andrea Motta; já o prefácio do livro é escrito por Daniel Munduruku, o maior autor indígena de toda a história do Brasil. Munduruku é vencedor de diversos prêmios, entre eles o Jabuti de 2017, tendo até livros publicados no exterior.

— Foi mais que importante ter o sim desses dois profissionais que eu tanto admiro e que fiz questão de fazerem parte da obra, da mesma forma que espero que os leitores façam. Quando recebi seus arquivos, separadamente, chorei muito ‒ o primeiro eu estava no metrô, todos me olhavam estranhamente, e o segundo já consegui me controlar mais e desabei quando fui dormir — conta o divinopolitano.

Lei de incentivo

O projeto “Teçá de olho no folclore”, aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura, vai disponibilizar gratuitamente para a rede de educação municipal 60 exemplares acompanhados de uma cartilha digital e vídeos para que os educadores aproveitem ao máximo a obra e para que os leitores tenham contato mais próximo com as pessoas que produziram o projeto .

— A população contribuiu financeiramente através de impostos para que essa obra saísse, e foi a forma que achei de retribuir, muito se fala nas escolas, mas pouco se faz, então está aí. Espero mesmo que cada aluno se apaixone pelo Teçá, afinal, ele é nosso — diz Gustavo.

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