Diplomata e escritor

Raimundo Bechelaine

O mestre alegra-se, quando o discípulo o suplanta. Sente, não sem certa vaidade pessoal, que pode ter contribuído, pelo menos um pouco, com a realização e o sucesso de alguém. Como professores, temos, por vezes, esta feliz experiência. 

Nosso primeiro trabalho como docente deu-se no antigo e mítico Ginásio São Geraldo, na década de 60. Foi a substituição, por um semestre, de um professor que saiu inesperadamente. Pouco mais que adolescente, tínhamos quase a mesma idade que os alunos. Entre eles, estava Osvaldo André de Mello, hoje escritor consagrado. Outro aluno era Paulo Miranda, apenas três anos mais jovem que o iniciante professor. Nascido em São Gonçalo do Brumado de Pitangui, vinha de uma enorme família. Ao todo, eram nove os filhos do casal Luiz e Maria Lino Miranda. 

Paulo construiu uma brilhante trajetória. Na UFMG, graduou-se em geociências e em língua e literatura inglesa. Em colégios de Belo Horizonte, lecionou inglês e francês. Em 1977, ingressou no curso de preparação para a carreira diplomática, no prestigioso Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Terminado o curso, na primeira turma formada em Brasília, foi exercer funções mundo afora. Passou por Varsóvia, Genebra, Cingapura, Granada e não sei onde mais. Concluiu a carreira como embaixador. 

Eis, todavia, que nos chegaram às mãos, em fevereiro, antes que a pandemia nos confinasse, uma coletânea: “Tertúlias quixotescas”. Veio com uma gentil dedicatória “do aluno Paulo”. São textos curtos, feitos com humor e amor. O livro reúne crônicas de sete mineiros e mereceu apreciação elogiosa do presidente da Academia Mineira, Rogério Tavares. Além de Miranda, ali estão Otávio Elísio, Olavo Romano, o também pitanguiense William Santiago, Edmundo Carvalho, Francisco Bastos e Epifânio Camilo.  A edição é deste ano, pela Caravana Grupo Editorial, de Belo Horizonte.

Nas suas páginas, Paulo Miranda revela-se um escritor de verdade. Sabe manter a atenção do leitor. Pois escreve com sentimento, vivacidade e estilo. Aposentado, continua atuante, felizmente. Participa do Grupo de Estudos de Filosofia, fundado em Pitangui pelo inesquecível professor doutor Cláudio José de Freitas. 

É ótimo ver que Miranda possui também o talento das belas letras. Deixamos-lhe a sugestão de um livro de memórias. De suas andanças e missões pelo mundo, tem coisas interessantes a contar; e muito, evidentemente, que não pode ser contado. Exigem a ética e a segurança nacional que os segredos de Estado fiquem para quando os arquivos puderem ser consultados, décadas depois. Mas o diplomata sabe até onde pode chegar. Ficamos à espera das lembranças e vivências do menino que estudou no sobrado da Maria Tangará e dali partiu, mundo afora. [email protected]

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