Dinheiro público

Augusto Fidelis

Pululam nas redes sociais vídeos de supostos candidatos a vereador com propostas mais do que interessantes. Ainda ontem recebi três: num deles, o candidato promete montar um cabaré em cada rua; outro promete tirar fotos com os pobres e publicá-las no seu Instagram; o terceiro é o mais interessante de todos. Suponho que, se a candidatura for adiante, vai arrebanhar muitos votos dos incautos.

Chamado pela alcunha de ‘Pintado’, ele promete não ser como a maioria dos vereadores, que passam quatro anos na Câmara apenas mudando nome de rua. Ao contrário, dentre suas propostas, está a transposição dos rios Araguaia, Tocantins, Amazonas e Nilo para o rio São Francisco, com o objetivo de resolver o problema de escassez de água nesse último. Pintado, porém, não explicou como transpor o Nilo para o Brasil. Antes, é preciso saber dos os egípcios se eles concordam.

Vale lembrar que Pintado tem proposta de importar da China a enxada com controle remoto, que permite ao fazendeiro controlar tudo da sua varanda, sem a necessidade de ir ao campo. Há também o projeto “Minha Vaca Minha Vida”. Cada família, com cinco filhos, vai ganhar uma vaca; com dez, duas vacas. A fábrica de roupas para jumento não é nada, o mais interessante é sobre os funerais.

Pintado, caso chegue à câmara da sua cidade, vai propor que todos aqueles que morrerem de segunda a sábado serão enterrados somente no domingo, pois, durante a semana muita gente trabalha e não pode ir a velório. Então, num domingo à tarde, os enterros se transformariam numa grande festa. No entanto, o mais sugestivo é o slogan de campanha: “Não vote em branco e nem errado. Vote Pintado: comendo maxixe e arrotando viado”.

Tudo parece brincadeira, mas os candidatos folclóricos costumam levar vantagem sobre aqueles que realmente têm propostas sérias. Os eleitores, descontentes com a política, podem descarregar suas decepções em candidatos assim, cujos eleitos não servem para nada. Tiririca é um deles, que recebeu mais de um milhão de votos em 2014, sendo reeleito em 2018. Em todo esse tempo, fez apenas um discurso na Câmara, para garantir a sua aposentadoria como deputado federal.

O brasileiro, quando chega a postos de elevada importância, não pensa em fazer o melhor pela coletividade, mas busca as maneiras de se dar bem, porque dinheiro público não tem dono. Aliás, é de quem pode alcançá-lo. Neste caso, faz-se necessário recorrer aos ensinamentos de Margaret Thatcher: “Não existe dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos. Cada centavo arrecadado pelo governo é retirado da mesa das famílias”.

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