Dia dos Namorados

Talyta Silva

Há solteiros de carteirinha e, como disse o psiquiatra Flávio Gikovate, em uma das edições de uma revista de grande circulação: “NÃO precisa casar. SOZINHO é melhor”. Do outro lado, encontram-se pessoas perdidamente apaixonadas, mas que, conforme Bauman, em seu livro "Amor Líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos (2004)", possivelmente envolvidas em um novo modelo de amor, marcado por uma grande contradição das relações de amor considerado líquido, que é a tentação de apaixonar-se e a atração de escapar ao envolvimento amoroso. É como se buscasse rosa sem espinho.

Esse amor líquido de Bauman é caracterizado pela busca da satisfação com o outro, da diversão sem limites chegando até ao consumo do outro como a única sensação do momento. Os contatos amorosos caracterizam-se também por serem rapidamente estabelecidos numa tática do mínimo esforço, assim como podem ser rompidos facilmente. Outra marca distintiva do amor líquido é que se exige mais dos parceiros e espera-se que os compromissos assumidos não durem para sempre.

Ainda há o que comemorar no Dia dos Namorados? É melhor ficar só do que mal acompanhado? Decidir ficar só pode ser anular a própria condição humana que consiste em reconhecer e encarar que algo nos falta. Ainda vale a pena investir em alguém, não de forma líquida, mas compreendendo que o que este alguém é e tem poderá nos completar. Pode valer muito mais correr o risco de um relacionamento que até nos faça sofrer do que viver num mundinho fechado para não ter que se esbarrar com o complicado que é conviver com um outro. O que serve a uns, não necessariamente serve a outros e, para aqueles que optaram, feliz Dia dos Namorados!

Dia em que se comemora o ato de namorar ou o fato de estar namorando. Muitos exaltam os relacionamentos, outros lamentam uma suposta solidão. Alguns fazem programas especiais com uma pessoa especial, outros buscam tornar especiais situações mundanas.

O amor é comemorado neste dia? Ou celebra-se o namoro? Se for o amor, podemos comemorar independente do status no Facebook. Mas, se não for, qual o propósito?

No Brasil temos o Dia dos Namorados na véspera do dia de Santo Antônio. A origem vem do publicitário João Dória, quando era presidente de uma empresa publicitária que representava a Exposição Clíper, uma conceituada loja da década de 40 em São Paulo. Para alavancar a vendas no mês de junho, que não tinha nenhum feriado comercial, ele criou o slogan "Não é só com beijos que se prova o amor". A data escolhida foi 12 de junho, segundo ele o dia antecede a comemoração de Santo Antônio, considerado o santo casamenteiro. Com isso, a empresa conseguiu um prêmio de agência do ano.

É a data no ano em que se vê filas e mais filas em finos restaurantes, e talvez não tão finos motéis. O apelo comercial da data é imenso, muitas vezes não impulsionado por um real sentimento de celebração do amor de um casal, mas pela pressão social que a data passou a representar. Vejo muitos casais que quando chega a data se sentem obrigados a "não deixar passar em branco", entrando, portanto, em um simulacro de romantismo. Vi um caso no qual o rapaz iria estar fora da cidade no Dia dos Namorados, então "resolvemos comemorar um fim de semana antes". Muitos casais vencem essa pressão da obrigação da demonstração de romantismo representada pela data (assim como a frase muito dita em fevereiro, "Carnaval é a época da obrigação de ser feliz").

O amor não é celebrado no Dia dos Namorados. Este deve ser celebrado diariamente, e não em uma data especificamente escolhida para alavancar o comércio, especialmente quando se vincula a grandeza do amor ao ato de dar presentes e seguir um script de um suposto dia romântico.

Os namorados e solteiros devem exaltar o amor a qualquer momento, com grandes e pequenos atos. O amor vai muito além do amor romântico, ideia recente na história humana. Se buscarmos Platão, veremos um amor maior, no mundo das ideias, que não se vincula em nada ao que ficou conhecido popularmente como amor platônico.

Chocolates, flores, jantares, corações e cupidos não são símbolos de amor… São objetos de cena em uma peça chamada romantismo. O amor não precisa de comprovação, juras, testes...

O amor não se mede, se sente, se entrega, livremente.

Neste Dia dos Namorados, não peça nada. Apenas dê... Amor.

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