Dia das Mães

 

Antônio de Oliveira  

Se todas fossem iguais a você, o mundo saberia o que é doação, energia. Uma mulher a cantar, desde os tempos de professora de Educação Musical; a sorrir, sorriso largo; a tocar, virtuose; a amar, adivinhando o sonho de consumo dos outros, já no momento; a dirigir o pretinho básico 2.0; a cozinhar comida gostosa e saudável todo dia; a lavar roupa; a fazer feira e supermercado; a demonstrar força; a transmitir bons fluidos; a cuidar do marido e da casa, dos filhos, hoje casados; a fazer amigos e a liderar. Gostas de festa, de dançar, de viajar, de uma bebida. Preocupas-te com a situação do Brasil, mas teimas em querer a esperança de óculos, esperança ainda de que tudo vai dar certo, como na “Casa no Campo” na voz de Elis Regina. Nem que seja um “Som Imaginário” da fé na dignidade humana. 

Endossando a fala de outrem para Iza, que eu escrevo Isa, teu olhar de menina feita mulher abraça a coragem de viver. “Gasolina” de avião, geras intensidade e lutas à porfia. Exemplo de resistência. Uma alma que transparece. Translúcida. Não se esconde. Uma autenticidade que assume os cabelos brancos. Um misto de mulher de verdade e mulher forte, do Livro dos Provérbios, de recato e tradições, mas mulher moderna. Administras a lida da casa. Pouco resta ao marido para resolver e desincumbir-se, sobrando-lhe tempo para atividades intelectuais, sempre com um livro na mão e outro à mão, inclusive dando uma de cronista, como agora. 

Sentas-te no chão com a netinha mais nova. Cantas para ela e conversas com ela. Elisa, nos seus dois anos e meio, parece ter herdado a veia artística da avó: afinadíssima, desembaraçada, contadora de historinhas e de contos de fada que lhe ensinas e que ela aprende logo. Ensinas-lhe também a ser forte, a ser dona do próprio nariz, do próprio destino, do próprio espaço. Vou denunciar ambas por furto qualificado, por roubarem a cena. Brincadeira! Nem por delação premiada. 

[email protected] 

Comentários