Desafios do emprego

Rodrigo Dias

O trabalho dignifica o homem. A frase é clichê, mas tem nela um raciocínio fundamental. Estar ativo, produzir algo, ter prazer e ser valorizado pelo seu trabalho faz bem a qualquer pessoa. Na labuta diária – por que não? – encontra-se o bem-estar para tocar a vida.

No Brasil, aproximadamente 13 milhões de mulheres e homens – muitos por anos – não experimentam essa boa sensação de quem está ativo e produzindo. O número de desempregados no Brasil é superior à população de vários países, como Bélgica, Suécia, Cuba, Bolívia, Hungria, Israel, entre muitos outros.

O desemprego é um dos sintomas da estagnação econômica. Sentido, principalmente, pela camada mais pobre e de baixa instrução. A falta de empregos formais estimula a criação do subemprego, dos bicos e das relações promíscuas entre empregador e empregado, que desembocam na supressão de direitos trabalhistas.

Para se ter uma ideia em torno desse último ponto, no Brasil, segundo dados do Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, em 111 dos 267 estabelecimentos fiscalizados em 2019, 1.054 pessoas foram resgatadas em situações análogas ao trabalho escravo. Os dados são da Agência Brasil. O trabalho feito por essas pessoas era realizado em condições insalubres, desumanas. Colocando em risco a integridade física e mental desses trabalhadores.

Este recorte é um ponto extremo e fica bem caracterizado, o que não quer dizer que nas relações entre empregador e empregado no mercado formal de trabalho não ocorram problemas. Talvez o assédio moral seja o grande mal a ser enfrentado por quem quer preservar seu emprego e se sujeita a relações escusas.

De acordo com estudo promovido pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental, que envolveu 2.435 funcionários e candidatos a vagas de 24 empresas privadas, o assédio moral é tolerado por quatro em cada dez profissionais. Outro dado levantado aponta que 43% das pessoas acreditam que as "panelinhas" corporativas prejudicam o ambiente de trabalho. 

O Guia Trabalhista define assédio moral do trabalho como a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e sem simetrias, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes, dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.

Uma das consequências do mundo pós-pandemia será, sem dúvida, a manutenção dos postos de trabalho que passa pelo auxílio às empresas e empregadores. A fim de garantir a saúde financeira dos seus negócios e aquecimento da economia.

Ao mesmo tempo, há de se resguardar o trabalhador, que tem que contar com um ambiente sadio para o desempenho de suas funções e ter prazer com o seu trabalho.

Se antes os desafios já eram grandes, com o “novo normal” tendem a aumentar. E ninguém está a salvo dos riscos: empregadores e empregados.

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