Deficiência exige luta diária

 

Ana Laura Corrêa

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é celebrado hoje. Basta andar pelas ruas de Divinópolis e ver os desníveis das calçadas, por exemplo, para perceber que ainda há muito a ser conquistado por quem tem alguma deficiência.

Estrutura

A auxiliar administrativa Letícia Ferreira, de 24 anos, nasceu com uma sequela de paralisia cerebral e, até 2012, usava muletas. Naquele ano, no entanto, os médicos definiram que ela deveria trocá-las por uma cadeira de rodas.

— A principal dificuldade que eu encontro na cidade é a falta de estrutura das calçadas, devido aos buracos e também ao excesso de ambulantes. Infelizmente, eles voltaram a tomar conta do Centro da cidade, dificultando ainda mais a minha locomoção — relata Letícia.

O Código de Posturas de Divinópolis, na Seção III, trata da acessibilidade da pessoa portadora de deficiência nos espaços públicos. Segundo a legislação, no meio urbano, devem ser instaladas, por exemplo, rampas com declividade adequada nos passeios, nos cruzamentos de vias e no meio das quadras. A realidade, no entanto, é bem diferente.

— Eu queria que os proprietários tanto de residências quanto de estabelecimentos tivessem a consciência de que nós cadeirantes precisamos da calçada o mais perfeita possível para nos locomover e, infelizmente, Divinópolis tem muito esse problema. Então, eu gostaria que a Prefeitura, se possível, nos ajudasse nesse sentido, promovendo a conscientização da reforma das calçadas de acordo com as leis para a locomoção das pessoas com deficiência — destacou Letícia.

Lazer

A jovem enfrenta dificuldades até mesmo para ir ao seu lugar preferido para lazer: o cinema.

— Não encontro uma acessibilidade adequada. Acabo tendo que ficar apenas embaixo, não consigo escolher um lugar para me sentar porque não há uma rampa que possa me levar para as fileiras de cima do cinema — conta.

Audição

A assistente social Geralda Aparecida de Araújo Guevara, de 57 anos, tem deficiência auditiva profunda bilateral hereditária. Ela conta que só se percebeu deficiente no ensino fundamental.

— Errava nos ditados e não entendia quando a professora falava enquanto escrevia no quadro. Durante os primeiros anos de escola, sofri horrores, mas nos tempos de faculdade tive apoio dos professores e colegas de classe. Eu me sentava na primeira carteira do meio e recebia ajuda dos colegas. Cobrava quando determinado filme ou documentário não tinha legenda. Meus colegas não deixavam os professores ultrapassar a linha imaginária no chão, que ficava ao alcance dos meus olhos. Mesmo assim, não conseguia entender tudo em sala de aula. Mas em compensação, em casa eu fazia o resumo dos artigos que seriam discutidos em sala de aula e lia livros complementares às disciplinas. Nas palestras ou seminários, mesmo estando na frente, é difícil entender se a pessoa não se acercar ao público, até porque o microfone, para mim, tem sentido contraditório: enquanto amplia a voz me impede de ver o som — conta.

No trabalho, ela geralmente atua em parceria com outro profissional.

— A escuta se torna completa. Enquanto um escuta, eu percebo. Passei no concurso pela cota para deficiente, o que foi minha salvação. Penso que se não fosse dessa forma, jamais poderia exercer alguma profissão e me inserir no mercado de trabalho — relata.

Geralda usa aparelho auditivo desde 2009. O que tem é o segundo fornecido pelo SUS. Segundo ela, sem os dispositivos, seria impossível se formar na faculdade.

— Os avanços já aconteceram, porém a sensibilidade talvez seja melhor que qualquer tecnologia. E isso é o que mais falta: sensibilidade para com as diferenças — conta.

 

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