Cultura projeta Divinópolis no cenário nacional

Grandes nomes colocaram a cidade em destaque nos mais diversos segmentos culturais

Gabriel Rodrigues

“O que a memória ama fica eterno.” A frase da poeta divinopolitana Adélia Prado traduz todo o sentimento do trabalho exercido pelos jornalistas que passaram pela redação do Agora ao longo de seus 50 anos. São recortes da memória deste povo que ao longo de cinco décadas foram registradas nas páginas deste impresso e que reforçam a importância da “Cidade do Divino” como polo econômico, social e cultural da região Centro-Oeste de Minas. Em destaque, o cenário cultural que exaltou grandes nomes, foi palco de grandes shows e espetáculos teatrais e cravou na história a importância de um município que respira cultura. 

Secretário de cultura por três gestões, o escritor, professor e teatrólogo Osvaldo André de Mello destaca que, desde os tempos de arraial, Divinópolis vem registrando manifestações artísticas e criando condições propícias ao seu desenvolvimento. 

Tais manifestações abrangem todas as formas de criação artística, incluindo as de cunho de religiosidade popular. Hoje, pode-se claramente apreciar este grande celeiro cultural, que prima pela quantidade e qualidade; mesmo quando esta não se apresenta, ainda assim, contribui para a continuidade da tradição. Este aspecto vertical alimenta a espiritualidade da urbe, em equilíbrio com o desenvolvimento material (horizontal) — ressalta. 

Osvaldo André destaca que dois dos produtos culturais de exportação mais gratos ao estado de Minas Gerais são os trabalhos do escultor Geraldo Teles de Oliveira, o GTO, e do pintor Petrônio Bax. 

Ao conferir o status de arte à moda, observamos que esta não é uma criação da história contemporânea; na sua origem encontram-se os alfaiates e as modistas, as quais ganharam o exterior. Vivemos um momento em que é necessário formular políticas públicas de democratização da cultura, o que não é nada fácil, considerando-se o crescente índice populacional e a expansão da cidade, bem como dos produtores culturais, introduzindo, aqui, a elaboração artesanal — destaca Osvaldo André. 

 

Complexo cultural 

Símbolo e patrimônio cultural do município, o Teatro Usina Gravatá foi tombado em 1998, um ano após o complexo Usina Gravatá ser adquirido pela Prefeitura e tornado bem público. O prédio histórico da Usina de Álcool Motor de Mandioca do Estado de Minas Gerais, primeira da América Latina, foi construído em 1932. O imóvel funcionou também como depósito para a extinta Companhia Agrícola de Minas Gerais (Camig), quando recebeu o nome de Usina Gravatá em homenagem ao primeiro diretor Antônio Gonçalves Gravatá. Depois de reivindicações de agentes culturais da cidade, o prédio foi tombado e tornou-se patrimônio histórico de Divinópolis. Com o auxílio das leis de incentivo à cultura, o prédio foi adaptado para abrigar o teatro, aspiração histórica da comunidade cultural, inaugurado em 29 de junho de 2007. As páginas do Agora registraram espetáculos aclamados e premiadas apresentações, como Mimulus Cia. de Dança de BH, cantor Vander Lee, companhia de teatro Grupo Galpão e a Festa Literária de Divinópolis (Flid). 

De acordo com a musicista Samira Cunha, que foi diretora do teatro de 2013 até 2020, o Gravatá é um espaço de grande importância para a cidade e região não somente no contexto cultural como também arquitetônico, histórico e patrimonial. Diante de tamanha importância, conforme Samira, a população almejou ter um teatro municipal, assim, o público sempre teve muito respeito e carinho por todo o complexo Gravatá e suas apresentações.

O Teatro sempre manteve seu papel de abrigar e absorver todas as artes que por ali passaram e passam. Mesmo em momentos estruturais e técnicos comprometidos, o espaço manteve-se aberto para garantir que a cultura fosse além dos palcos — destacou. 

Assim como o Gravatá, o Museu Histórico de Divinópolis exalta sua imponência a todos que passam pela Praça Dom Cristiano, popularmente conhecida como Praça da Catedral. Interditado desde março de 2017, o museu funciona em um importante imóvel da cidade, o mais antigo casarão do município que serviu a muitas autoridades e pessoas da elite que visitavam o arraial. Construído em 1830 por capitão Domingos, o “sobrado do Largo da Matriz” contou com cerca de 200 escravos para sua construção, hoje um dos modelos arquitetônicos mais interessantes do município. O casarão também foi utilizado como residência dos padres, posto de saúde, escola, colégio, além de servir como a primeira sala de exibição de filmes da cidade. Este foi o primeiro bem público tombado na cidade, o que está registrado nos arquivos do Agora. 

 

Desfile

Tradicionalmente realizado em 1º de junho, o desfile cívico celebra o aniversário de Divinópolis e conta com a participação de escolas, fanfarras, militares, além da tradicional cavalgada. O evento reunia ‒ há três anos não é realizado ‒ a população ao longo das ruas centrais da cidade, que acompanha atenta a cada grupo que marcha em homenagem à Cidade do Divino. Nos registros de Jésus de Sousa, é possível observar a preservação da cultura e da memória local, que permanece até nos tempos atuais, e que sempre estiveram em destaque nas coberturas do Jornal Agora. 

 

Gastronomia nas ruas 

Pelas ruas do bairro Esplanada e Niterói, as tradicionais feiras livres registram na história de Divinópolis a tradição e um reforço na economia local. Quem passa por elas não esquece o sabor da gastronomia local e a hospitalidade, típica da gente daqui. Há sete anos como feirante, Renata Pedrosa dá sequência à terceira geração da família com sua barraca no bairro Esplanada, tradição que começou com o avô, há 30 anos. Ela conta que o trabalho na feira, que acontece sempre aos sábados, começa antecipadamente na quarta-feira, com as compras e preparo dos pastéis que vai comercializar. Às 5h do sábado, ela já está a postos, preparada para uma manhã de vendas, trabalho que divide com os familiares. 

Muitas famílias vivem da feira. Eu comecei dando sequência ao trabalho da minha família, o que ajuda muito em nosso sustento. Ficamos parados por três meses durante a pandemia, mas espero que a situação que vivemos melhore e compense o tempo que ficamos fechados. A feira já melhorou muito e a nossa esperança é termos mais apoio do Município para que o trabalho fique cada vez melhor — afirma.

 

Terra de grandes nomes 

Divinópolis escreveu seu nome nas páginas culturais de todo país ao exportar o que foi produzido na cidade para todo Brasil. Seja na televisão, nos palcos ou na literatura, o município teve seu nome evidenciado por diversas vezes, o que também rendeu diversas reportagens no Jornal Agora ao longo de seus 50 anos. 

Terra de Adélia Prado, a poetisa divinopolitana, nascida em 1935, formou-se em filosofia e lançou em 1975 o seu primeiro livro, “Bagagem”, por recomendação de Carlos Drummond de Andrade à editora. Recebeu em 1978 o Prêmio Jabuti na categoria Poesia, com “Coração Disparado”. Publicou várias outras obras, entre prosas, poesias e antologias, com destaque para “Solte os Cachorros”, 1979, “Terra de Santa Cruz”, de 1981, e “O Homem da Mão Seca”, de 1994. Em 2014, recebeu do governo brasileiro a Ordem do Mérito Cultural pelas suas contribuições à cultura nacional. A autora já recebeu diversas condecorações nacionais e internacionais, incluindo o maior prêmio canadense de poesia, o Griffin. Em 2020, foi novamente homenageada pela curadoria do Prêmio Jabuti, desta vez, eternizada como personalidade literária. 

Na televisão e no cinema, os divinopolitanos brilharam em suas atuações. Em destaque, a atriz Carine Quadros, que atuou na série “Vila Maluca”, da Record, e “Jamais te esquecerei”, novela exibida pelo SBT. Em 2014, a cidade parou para assistir a modelo Amanda Gontijo durante sua passagem pelo Big Brother Brasil, reality show da Rede Globo. A ruiva, que já havia sido notícia no Agora durante sua trajetória nos concursos de beleza, voltou às páginas do diário com o registro de sua aparição no programa. 

Na música, o cantor e compositor Gê Lara foi responsável por embalar diversas canções ao longo de seus 38 anos de carreira. Nascido em Divinópolis, em um ambiente intensamente musical, Gê teve suas primeiras experiências musicais participando do coral “Pequenos Cantores da Cruz de São Damião” e “Pequenos Rouxinóis de Divinópolis”, quando também ensaiou os primeiros acordes no violão, como autodidata, aos sete anos de idade. Assim como ele, Túlio Mourão cravou seu nome na história da música brasileira com inúmeras composições regravadas por grandes nomes, como Maria Bethânia, Milton Nascimento e Ney Matogrosso. Pianista, compositor e arranjador, integrou o grupo “Os Mutantes” de 1973 a 1976, na fase progressiva do grupo, sem deixar de firmar laços fraternos e profissionais com a turma conterrânea do Clube da Esquina. Túlio Mourão celebrou, em 2020, 50 anos de atividade profissional com o álbum “Barraco barroco”.

Também na música, diversas bandas e cantores se projetaram carregando o nome de Divinópolis. O artista Sávio Fernatti e a Banda Lex Luthor ganharam o país se apresentando em programas de TV e em palcos de várias emissoras. De acordo com o artista, o primeiro show da banda Lex Luthor foi em janeiro de 1993. Na época, ele não tinha a dimensão do que viria em sequência. Com o apoio e a abertura dos clubes da cidade, a Lex se apresentou em toda a região, ganhando projeção e incrementando as apresentações. 

Próximo de completar 30 anos de carreira, Sávio recorda a pausa da banda durante a pandemia e o retorno aos palcos, que acontece neste mês. Com o novo repertório e fazendo adaptações devido às restrições impostas pela covid-19, o artista afirma ser um desafio gostoso de trabalhar neste novo formato, mas mantendo a essência Lex, que todos já conhecem. 

Ao longo de nossa trajetória, adaptamos as nossas músicas para atender a todos os gostos, mas sempre seguindo as nossas características, as trocas de figurino e apresentações com estilo teatral — explica Sávio. 

Fernatti lembra que mais de 100 artistas, entre cantores e bailarinos, já atuaram no grupo. Segundo o artista, muito já foi feito pela banda e ele almeja ainda mais. Nascido em Divinópolis, Sávio espera ver novos nomes da música surgirem e ganharem espaço no cenário nacional. 

Divinópolis é uma cidade que tem tudo para respirar cultura. A pandemia atrasou os planos de muitas pessoas, mas, se tivermos incentivo, teremos mais artistas mostrando seu trabalho. É uma cidade cultural e que merece ser valorizada como tal pelos seus — afirma. 

 

Celeiro de belezas 

Conhecida pelos tradicionais concursos de beleza, idealizados pelo saudoso empresário José Alonso Dias, Divinópolis ganhou destaque no cenário nacional ao sediar e preparar candidatas para diversos certames. Conhecido por “Mago das Misses”, Alonso foi responsável por levar ao Miss Brasil o nome de Divinópolis, com as misses Natália Guimarães e Débora Lyra, entre outras misses que representaram o Brasil em diversas partes do mundo. 

Em recente reportagem publicada pelo Jornal Agora, em ocasião da morte de José Alonso, a jornalista Valquíria Souza cita a importância do trabalho do empresário para a cultura e a projeção de Divinópolis no cenário nacional. — José Alonso idealizou concursos importantes em Divinópolis (Miss Minas Gerais, Miss Divinópolis, Miss Terra Minas Gerais, entre outros), inclusive na última década, o concurso Miss Terra Brasil, que também alcançou resultados memoráveis no cenário internacional, dando a ele cada vez mais credibilidade como preparador de misses — ressaltou no texto.

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