Cuidado, o motoqueiro!

Augusto Fidelis

 

Se você, caro leitor, estimada leitora, estiver numa esquina e o sinal de pedestre abrir, não atravesse. Verifique primeiro se os veículos realmente pararam. Caso contrário, uma mula sem cabeça pode vir numa moto, de maneira desenfreada, e transformá-lo num anúncio fúnebre. Sinceramente, não vale à pena. Enterro está custando uma fortuna e tem mais: os parentes e os amigos sem paciência para velório.

Em Divinópolis, lamento informar, não se celebra enterro solene; é tudo na singeleza, pobreza mesmo. Os mais afortunados conseguem um padre para encomendar a alma; os outros, se acharem um ministro da palavra, devem dar graças a Deus, afinal não ficaram de tudo desamparados. Aquela obrigação de levar o caixão à igreja não existe mais, nem sequer badalar de sinos.

Banda de música? Nem pense nisso, inocente: a banda Santa Cecília há muito tempo encerrou as atividades; a banda não consegue ajuntar os músicos nem para os ensaios; a banda da Polícia Militar só toca em enterro de oficial muito graduado, isto se morrer durante o exercício da função. Eu soube que em Buenos Aires há mais opções: corais, grupos de violino e até revoada de pombos.

Por aqui as coisas são muito diferentes, com um agravante: estar no túmulo não é garantia de sossego. Os ladrões estão atacando sem piedade. Com esse panorama, estou fora. Quem quiser que passe da minha frente e vá sem mim. Por que havemos de ir juntos, diria Fernando Pessoa.

Bem, acho que a melhor solução é a seguinte: estamos em plena Semana Nacional do Trânsito, então vamos fazer uma corrente forte, de sete orações poderosas, e pedir paz no trânsito, pois são tantas rodas duras circulando em nossas vias! E a buzina? É preciso haver consciência. Esta só quando for realmente necessária; o ouvido dos demais não é penico.

As ruas não são pista de corrida. Os motoqueiros deveriam circular nos limites do Código Nacional de Trânsito e poupar as vidas que eles não têm condições de restituir. E os pedestres? Não seguem nenhuma regra, não respeitam os veículos, abusam da sorte. Educação no Trânsito deveria ser matéria escolar. Assim, no futuro, pode haver pessoas mais conscientes dirigindo e caminhando nas vias públicas.

Para o escritor Rubem Braga, as pessoas saem de casa de manhã como quem vai para uma briga. O motorista considera todo colega um “barbeiro” e todo pedestre um débil mental com propensão ao suicídio. Mas isso pode ser mudado, gente, é claro que pode! Depende de mim, depende de nós. Então, arregacemos as mangas e mãos à obra!

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