Crise bem tramada

O Brasil caminhava ainda sob o regime militar no final dos anos 70, e um desenho já se apresentava com a entrada em cena do Sindicato dos Trabalhadores de São Paulo, que mais tarde se transformou em Sindicato do ABC. Foi neste momento que a maior figura da política atual, Luiz Inácio da Silva, surgiu com ares renovadores e com uma liderança incontestável. Seu discurso dizia exatamente o que os trabalhadores queria ouvir, e assim, paralisações, greves etc., ficou normal para o vocabulário brasileiro.

Na verdade Lula, o apelido de Luiz Inácio, estava no início de sua carreira política e ia aos poucos entrando com o seu discurso inflamado e verdadeiro dentro do coração e da alma daquele povo sofrido que fazia a riqueza dos maiores empreendedores do país. Enquanto as fábricas de carro prosperavam, quem nelas trabalhava eram meio que escravo, fazendo horas extras sem ganhar o merecido, e não recebendo direitos reais como insalubridade, periculosidade etc.

Ninguém via em Lula um perigo político, mesmo porque não se cogitava em eleições para presidente, embora o General Figueiredo houvesse garantido que entregaria o poder a um civil. Não falou como, mas cumpriu o prometido.

Com o movimento das “Diretas Já”, tudo devidamente combinado com os militares, o povo foi às ruas e vibrou com a aceitação do governo dos militares, que já estavam loucos para sair do poder, para entregar o abacaxi para um civil. Lula já acompanhava de dentro as movimentações e, como líder trabalhista, apoiava tudo até ser eleito deputado constituinte, quando ele e seu partido, o PT, não assinaram nada, inclusive a própria constituição que ajudaram a recriar.

O povo, de longe das decisões e do que acontecia em Brasília, torcia para que um civil fosse eleito. Ficou decidido pelas partes que a eleição seria indireta, isto é, que os congressistas elegessem o novo presidente. Tudo absolutamente combinado e dando certo. Tancredo Neves deixou o Governo de Minas e arrancou José Sarney, que era o líder dos militares, para o seu lado.

Esta jogada não estava combinada. Figueiredo, que havida concordado com a candidatura de Paulo Maluf, entregou os pontos, pois sabia que iria perder a parada, já que o astuto Tancredo “roubou” seu principal trunfo, e o cara que queria ser o candidato a presidente. Não o foi pelo lado governista, desertou e engrossou as fileiras da oposição, que venceu com a maior tranquilidade.

Outra coisa que não estava combinada era a internação de Tancredo na véspera da posse. Ficou decidido à noite que Sarney não receberia a faixa presidencial, mas que o Congresso iria aceitá-lo como presidente até que Tancredo pudesse voltar. A morte do mineiro também não estava combinada, e Sarney, que já tomara posse, pisou fundo no acelerador e disse que ficaria por lá pelos seis anos previstos para o mandato. Com o governo mal das pernas, perdeu força e concordou em ficar apenas cinco anos.

Foi aí que Luiz Inácio da Silva começou a jogar. Atirando para todos os lados, cometeu grandes absurdos, foi um zero a esquerda como deputado e resolveu enfrentar um Collor de Mello alagoano e completamente desconhecido do resto do Brasil. Quase venceu, mas o medo que o brasileiro tinha de Lula-SP somente iria acabar depois de perder duas eleições para FHC, que sempre foi amigo e defensor das ideias de Lula. Trama perfeita. Eu ganho duas vezes, você outras duas e depois a gente vê o que vai acontecer.

E aconteceu. Lula lançou um poste chamado Dilma Rousseff, que ele tinha a certeza de que perderia para qualquer candidato do PSDB. Deu errado, Lula ficou maior que o esperado e seu apoio definiu o pleito. Isso também não estava tramado. O Brasil mergulhou de ponta-cabeça na sua mais profunda crise de corrupção, roubo, extorsão, lavagem de dinheiro e tantos outros crimes que foram tramados com os tempos petistas de poder. Não que eles não existissem, mas sim que eles passaram a ser tramados.

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