CREPÚSCULO DA LEI – VII*

O JURIS – HORROR

 ERA UMA VEZ um reino muito próspero chamado Pindorama. Havia ali grande felicidade e todos confiavam no rei, mas num fatídico dia, o júris-horror instalou a tristeza por toda extensão do reino. Tudo pelo fato do rei ter sido sequestrado por eles.

Eram realmente uma quadrilha muito perigosa, conhecida exatamente como o júris-horror por alegarem que podiam fazer justiça pelas próprias mãos, mas não passavam de bandidos unidos, ainda que afamados pelos métodos que usavam e pela forma de atuação sempre coordenada, inequivocamente um bando treinado e articulado na arte de atemorizar.

O júris-horror havia capturado o rei de Pindorama e o enclausurado numa caverna ocultada pelas frondosas árvores da temível floresta de Darkboth, de onde eles cobravam constantes resgates para a soltura rei.

Eram constantes porque, em sendo pagos, ainda assim o rei não era libertado. Além disto, caso houvesse atraso no pagamento, o júris-horror ameaçava mata-lo. Além disto, eles também haviam espalhado a notícia de que o rei era comutacionista. Ninguém sabia ao certo o que era isto, mas ser chamado assim era algo extremamente grave naqueles arredores.

Ocorre que o povo de Pindorama resolveu selecionar uma equipe de notáveis para localizarem, prenderem, processarem e condenarem o júris-horror pelos continuados crimes perpetrados contra todas aquelas bondosas gentes.

Foi publicado um pomposo édito real convocando interessados em compor um corpo de elite que seria chamado de Frater Corpus e, conforme fincado nos portões do palácio, havia requisitos a serem preenchidos pelos candidatos, a saber:

“OS CANDIDATOS deveriam ter equilíbrio psicológico para aplicar a lei, sem excessos - Deveriam ser imparciais e não se deixarem levar pelas influências políticas - Não poderiam ter pretensões políticas para assumirem altos cargos no palácio - Não poderiam vir de feudos tradicionalmente monopartidários - Não poderiam se portar como inimigos do acusado, denotando publicamente atos de perseguição, nem serem amigos de outros acusados, ao ponto de dividir com eles o espaço público em diversos eventos na corte - Não poderiam divulgar dados da investigação aos arautos, nas tabernas e ao público em geral, muito menos publicar conversas reservadas entre os investigados - Não poderiam ter esposas, maridos ou filhos vinculados a escritórios de negociações especializadas em transacionar sentenças do Frater Corpus - Não poderiam fazer mercancia de contribuições faladas, nem torturar presos para consegui-las - Deveriam liberar presos nos casos em que a lei determinasse - Deveriam respeitar os tratados internacionais com outros reinos - Não poderiam ser homenageados por entidades de aristocracia, mesmo que de outros reinos - Seriam demitidos em caso de não acatamento do Édito posto. REGI ESPONATI DIXIT!”

Sem embargo, os candidatos que preenchessem os requisitos seriam escolhidos mediante eleições gerais em Pindorama, já que (lá) todo o poder emana do povo.

Pois bem. Depois de um árduo processo seletivo e de eleições legítimas, o Frater Corpus foi devidamente escolhido. Não tardou muito e lá foram eles, em direção à floresta de Darkboth, com a missão gloriosa de capturar aquela famigerada e temível gangue, bem como libertar o valoroso rei de Pindorama.

Todavia, o tempo foi passando...passando...e nada do frater corpus retornar.

Depois de muitas luas descobriu-se que, de fato, eles não mais retornariam. Eles se uniram ao júris-horror e formaram uma quadrilha ainda mais perigosa, agora cobrando pedágio de todos aqueles que passassem pela floresta de Darkboth.

Pindorama ficou chocado.

 

(*) Dedicado a Luis Fernando Veríssimo

 

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