Coragem para mudar a rota

Laiz  Soares 

Coragem para mudar a rota

Dizer não é muito mais difícil, requer muito mais coragem, força e ousadia do que dizer sim. Os fracos sempre dizem sim o tempo todo, querem agradar a todos e serem amados e aprovados o tempo inteiro. Os fortes, ao contrário, dizem não para eles mesmos e para os outros. São disciplinados, fazem autocrítica. Fazer isso exige força, porque contrariar a si e aos demais não é agradável, nos tira da nossa zona de conforto, abre espaço para críticas, cria o risco de as pessoas gostarem menos da gente. 

Viver para agradar a todos é uma prisão que leva ao sofrimento e ao fracasso, principalmente na política. Saber dizer não e ter coragem de fazer escolhas difíceis e tomar decisões duras é liberdade. Liberdade acompanhada de maturidade. Eu entendo que maturidade na vida tem tudo a ver com aprender a dizer não. Aprender a escolher as batalhas que a gente enfrenta. Desistir de um sonho, reavaliar e reconhecer um erro, um engano, uma ilusão. É extremamente doloroso abrir mão de algo que queríamos muito, digo porque já provei desse remédio amargo algumas vezes, e em todas foi transformador. Tomar um não da vida, bater com a cara no chão. Nada, nenhuma faculdade, mestrado ou MBA ensina mais que isso. São nesses momentos que a gente aprende mais e tem a chance de evoluir para um outro nível de autoconhecimento, caráter e liderança. 

Perder uma batalha não é perder a guerra. Perder um jogo não é perder o título nem o campeonato. Às vezes você perde um jogo numa rodada e na próxima você emplaca um 7 a 1. A vida é assim. Ter maturidade para enfrentar e lidar bem com isso não é fácil, mas é extremamente libertador. A minha vida mudou na primeira vez que eu entendi que estava tudo bem mudar de opinião, reconhecer que peguei a rota errada e que me iludi com algo e depois vi que não era nada daquilo que eu imaginava. Isso aconteceu algumas vezes na minha carreira. Levei alguns “nãos” da vida que foram transformadores e revolucionários para mim. 

Eu entrei na faculdade achando que seria diplomata, depois me vi achando que seria acadêmica, depois me vi achando que seria uma executiva de multinacional. Eu tentei todos esses caminhos e fui bem sucedida em tudo que era necessário para consegui-los, eu tinha todos os pré-requisitos que eu precisava pra seguir em frente, mas acabei concluindo por diferentes razões que eles não eram caminhos para mim. O processo de tentar seguir essas rotas me ensinaram, me deram experiências incríveis e amigos raros. Sou o que sou porque tentei, errei, e aprendi fazendo bem feito e tendo sucesso em algo que ainda não era o meu propósito, a minha rota.  

Resultado: todas as portas ficaram abertas, e a liberdade de poder voltar me fez ver que eu realmente não queria aquilo, já que não era um sonho distante ou inalcançável, e ter a opção por perto sem ilusões me fez enxergar que aquela realidade não era para mim. Nessa trajetória de aprovações em processos seletivos, promoções, bons salários e vários cursos e conquistas, eu terminei um capítulo achando que eu seria prefeita na minha cidade de forma linda. 

Todas as vezes que eu desisti de um sonho não foi por medo, fracasso, covardia. Foi por coragem de reconhecer e entender que eu estava errada quando achei que era aquilo meu lugar no mundo, mesmo fazendo aquilo bem feito e tendo reconhecimento e chances reais de chegar naquele lugar! Quando eu saí da FedEx foi assim, assim como várias outras mudanças radicais que fiz na carreira! Em todos os casos eu estava num caminho bom, promissor, de reconhecimento e de sucesso, e mesmo assim não quis continuar, pois não me encontrava ali.  

Eu não desisti da política e nem de ajudar a cidade, eu apenas mudei a rota, reajustei o leme em direção a um vento para onde eu creio que ganho mais força, para navegar num mar mais  propício para o meu barco, onde vou fluir e avançar sem ter que nadar totalmente sozinha contra a maré em um mar hostil, revolto e impróprio. Mudar a rota também pode ser sinal de força, coragem e progresso. Nas trilhas da vida, é mais feliz quem tem menos medo de errar, pegar outro vento e seguir em frente. 

 

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