Comitê deve apresentar plano geral de reabertura nos próximos dias

Matheus Augusto

A pandemia desencadeada pelo novo coronavírus forçou o Executivo a determinar o fechamento do comércio para reduzir as chances de contaminação da população. Há cerca de um mês, Divinópolis tenta, gradualmente, voltar à normalidade. Horários e dias de funcionamento alternados, uso obrigatórios de máscaras, disponibilização de álcool em gel para clientes e funcionários… Assim, os estabelecimentos tentam sobreviver durante a crise. No entanto, alguns setores ainda relatam dificuldades para manter os serviços com as restrições, e parte deles ainda não pode abrir.

Questionada pelo Agora sobre o retorno à normalidade do comércio, a retomada das atividades em igrejas e cultos e o funcionamento de bares e restaurantes, a Prefeitura informou que os tópicos continuam em discussão. Ainda segundo o órgão, o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, em acordo com os membros do Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus, deve apresentar nos próximos dias o plano geral de reabertura para a cidade.

Morte suspeita

Após registrar a terceira morte, Divinópolis agora investiga um quarto óbito, ocorrido ontem na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ainda de acordo com o boletim epidemiológico, a cidade tem 2.238 notificações de coronavírus. Dessas, 423 pacientes foram testados: 204 confirmados (148 já recuperados), 213 descartados e seis em análise. 

A taxa de ocupação dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) está em 48,3%, sendo 35,4% no Sistema Único de Saúde (SUS) e 59% da rede particular. 

Entres os dias 29 de maio de 2 de junho, o número de casos ativos, ou seja, de pessoas que ainda não se recuperaram da doença, vinha caindo. Desde então, o índice voltou a subir e está em 53.

Setor alimentício

Dentre os setores afetados pela crise estão bares, restaurantes, lanchonetes e similares. Paralisados desde março, tais estabelecimentos podem funcionar apenas por meio da entrega em domicílio (delivery) ou com a retirada do produto em seu interior, mas sem consumo no local. Apesar da parcialidade das atividades, os empresários têm solicitado a autorização para voltarem a receber os clientes, seguindo todas as recomendações exigidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa). Parte da classe, inclusive, elaborou um documento solicitando um posicionamento do Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus, responsável pela decisão.

— Foram exatamente 72 dias que estamos solidários às demandas exigidas do decreto municipal de 20 de março de 2020. Tentamos administrar nossos prejuízos com entrega de delivery, mas os resultados não cobrem a alta despesa das nossas instalações, nos trazendo um grande desgaste, tanto em perdas de insumos como dívidas que nos serão fracionadas no segundo semestre, como Cemig, Copasa, aluguel etc. — argumentam.

Os empresários ainda citam, por exemplo, o aumento da concorrência no formato delivery.

— A instabilidade nos empregos dos nossos munícipes não lhes dá muito alternativa de optarem na preferência de um delivery, em média de R$ 60, pela compra de uma cesta básica, que consegue atender a família em um período de 10 a 15 dias. Sem falar no excessivo número de concorrentes sem CNPJ, que acharam na prestação de serviço alimentar uma alternativa para suprir a carência econômica em suas cozinhas caseiras, com uma baixa demanda de manutenção. (...) Nos ajudem a sobreviver a esses 72 dias de ausência na prestação de serviço — afirmam.

Por fim, eles se comprometem a respeitar todas as determinações de segurança sanitária impostas pela secretaria, sob pena das punições previstas em lei.

— Compreendam que, seja abrindo inicialmente em horário limitado, como de 11 às 21h, com entrada controlada e todos os cuidados necessários de espaçamento, uso de álcool em gel, ausência de rodízios, dentre todas as manutenções de cuidados exigidos serão, por nós, respeitados — finaliza o documento.

O movimento tem ganhado força. Como noticiou o Agora nesta quarta-feira, 3, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) União Oeste, Danilo Pereira, e o idealizador do Prato da Casa, Gustavo Bicalho, se reuniram com o secretário de Saúde, Amarildo Sousa. No encontro, eles discutiram sobre a flexibilização para bares e restaurantes.

— Ele nos passou uma confiança de que na próxima semana vamos reabrir os bares, com limitações. Ao que tudo indica antes do Dia dos Namorados. Mas tudo depende de números do coronavírus na semana — disse Gustavo Bicalho.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, o presidente da Abrasel pediu ao empresários do ramo que já adequem seus estabelecimentos às normas sanitárias e treinem os funcionários para a nova realidade.

— Queremos muito fazer essa retomada com segurança. (...) Somos responsáveis por fazer os nossos clientes se sentirem seguros — afirmou Danilo.

Flexibilização de horas e dias

Em documento, o Grupo Gestor, formado por associações empresariais de Divinópolis e região, solicitou a flexibilização das restrições. O ofício, protocolado nesta quarta-feira, pede a abertura total do comércio de rua, com o fim da alternância dos dias, a liberação do atendimento interior em estabelecimentos de alimentação, com respeito às determinações sanitárias.

O pedido tem como base o decreto que autoriza o funcionamento de shoppings em galerias, no qual a Prefeitura justifica a decisão com a ocupação dos leitos inferior a 50. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Divinópolis aponta que o índice tem se mantido estável durante a reabertura do comércio e as entidades têm realizado ações educativas para orientar os clientes e comerciantes sobre as medidas de prevenção.

Dentre os argumentos utilizados para o fim da alternância dos dias está a dificuldade de as empresas se manterem sustentáveis financeiramente.

— O fato é que, funcionando em dias alternados, os empresários têm somente 12 a 13 dias úteis no mês, tornando inviável alcançar a sobrevivência da empresa. Em pesquisa realizada com 168 empresas de Divinópolis, 50% afirma ter risco real de encerrar atividade, caso permaneça o cenário de restrição, sendo necessário o retorno integral das atividades para garantir empreendimentos e empregos na cidade — detalha a CDL.

O documento entregue à Prefeitura reforça o impacto econômico na cidade.

— Destacamos ainda um aspecto relevante na dificuldade das empresas neste momento, vivenciada por grande maioria das empresas, a dificuldade na obtenção de crédito para sobreviver a este momento de restrição de atividades. Em Divinópolis muitos empresários sofreram com mais de 70 dias de perda de faturamento, sem que lhes tenha sido ofertado qualquer socorro e agora precisam trabalhar para evitar a falência completa — destacam as associações.

As entidades ainda sugerem que, caso seja necessário, o funcionamento diário aconteça em horário reduzido, a fim de evitar aglomeração no transporte coletivos, como é atualmente, das 10h às 20h.

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